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Mitologia em Português

28 de Junho, 2019

Floris, Brancaflor, e o copo de Vulcano

A história de Floris e Brancaflor parece ter sido uma das mais populares na Idade Média, com os seus amores a serem até imortalizados em várias outras obras. Mas se nessa obra o episódio dos confrontos de xadrez entre Floris e o guarda da torre que aprisiona Brancaflor, representado na imagem acima, até tem uma maior importância, existe uma referência na trama que, para os amantes dos antigos mitos, não poderá deixar de ser mencionada. Quando Brancaflor é vendida por dois mercadores, a sua beleza era tal que eles mereceram incontáveis recompensas em troca, uma das quais um copo de valor incalculável, assim descrito numa das versões do poema:

 

Vulcano tinha feito este copo, e nele tinha representado como Páris, filho de Príamo, rei de Tróia, tinha raptado Helena, e foi perseguido pelo raivoso Menelau, senhor de Helena, juntamente com o seu irmão Agamémnon, ao comando de um poderoso exército; e como os Gregos cercaram e atacaram a cidade de Tróia, que os Troianos defenderam, e quando a cidade foi tomada Eneias trouxe o copo e deu-o ao irmão da sua amada Lavínia.

 

São diversas as questões que este invulgar copo nos pode suscitar, mas ele é, mais que tudo o resto, uma recordação dos mitos de Tróia em plena Idade Média. É uma invenção completamente medieval, até porque normalmente Eneias escapa da cidade em chamas apenas com o pai ás costas e o filho pela mão, mas não deixa de ser um elemento que, na história deste Floris e da sua Brancaflor, nos remete para conquistas de outros tempos.

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24 de Junho, 2019

Os alfabetos do nosso passado

Nunca pensaram de onde vêm as letras do nosso alfabeto? Há bem mais de 3000 anos que o ser humano sente a necessidade de colocar alguma informação por escrito, mas desconhecemos quem terá sido o primeiro a fazê-lo. Claro que existem mitos sobre isso - entre os egípcios, por exemplo, o deus Thoth foi o seu criador - mas a identidade do primeiro dos homens a escrever uma letra será, provavelmente para todo o sempre, um dos grandes mistérios da humanidade.

 

O que sabemos é que, qualquer que tenha sido a sua origem, os alfabetos foram evoluindo ao longo dos séculos. Ainda há menos de 30 anos que as letras K, W e Y não eram consideradas como parte integrante da língua portuguesa, e poucos anos passaram para que todos nós as conheçamos. Nesse sentido, o diagrama abaixo, da autoria de Matt Baker, apresenta-nos numa só imagem um conjunto de informações interessantes.

Vários alfabetos

Como podemos constatar, os alfabetos ocidentais parecem ter evoluído com vista a uma simplificação dos seus símbolos gráficos, mas também para que as suas sonoridades sejam mais fáceis de perceber.

Mas, ao mesmo tempo, isto também acaba por levantar um número enorme de questões. Por exemplo, como é que o lamba grego (Λ ou λ) deu o nosso L? Porque foram alguns símbolos caindo pelo caminho e outros tornados quase irreconhecíveis? A que se devem rotações que em nada simplificam os originais? Não sabemos; até poderemos vir a ter as nossas opiniões, aqui e ali, mas as certezas são muito poucas, porque também foram poucos os que sentiram a necessidade de preservar essa informação até aos nossos dias...

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21 de Junho, 2019

A história de Áquila de Sínope

Códice antigo

Sobre este Áquila, a que já aludimos há alguns dias atrás, sabemos que fez uma tradução do Antigo Testamento para a língua grega. Terá sido por essa altura que corrompeu parte do texto original, criando um novo, cujo significado se distanciava bastante do judaico. Mas porque o fez? Essa é uma história curiosa, e que já vem, pelo menos, do século IV d.C. ...

 

Áquila de Sínope foi um pagão que se converteu ao Cristianismo. Gostava bastante da sua nova religião, mas mesmo assim não queria deixar de lado a mesma Astrologia que tanto o tinha apaixonado até então. Por isso, e após ter sido avisado por diversas vezes que não podia continuar a seguir essas práticas, foi expulso da fé cristã. Com o seu espírito repleto de sentimentos de vingança, decidiu então converter-se ao Judaísmo e corromper o texto bíblico, para assim se vingar da religião cristã.

 

Mas... será esta história verdade? A alusão mais antiga que encontrámos a ela provém de um texto de Epifânio de Salamina, cerca de 200 anos após os acontecimentos originais, sendo possível que se trate de uma ficção. Mas, ao mesmo tempo, sabemos que existem diferenças entre o texto judaico e o grego do Antigo Testamento; serão fruto das alterações de Áquila, meros erros de traduções (traduttore, traditore), ou terão surgido por uma qualquer outra razão? Isso é que já não sabemos; caberá ao leitor pensar no problema e chegar às suas próprias conclusões.

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18 de Junho, 2019

O Cristianismo contra o Judaísmo, ou o "Diálogo de Timóteo e Áquila"

Diálogo

Hoje em dia, aqueles que seguem as mensagens do Cristianismo tendem a esquecer-se, talvez até em demasia, que essa religião provém do Judaísmo. É uma espécie de sequela. Mas, devido a essas origens, existiu um tempo em que havia uma necessidade de discutir a ligação entre ambas, e que até já aparece representado nas epístolas hoje presentes no Novo Testamento. Foi nesse contexto que, ao longo dos primeiros séculos da nossa era, foram surgindo diversos diálogos em que as duas religiões eram opostas uma à outra, normalmente de forma a fazer uma apologia da nova religião, tentando obter novos conversos entre os judeus.

 

Se existem vários diálogos desta natureza - na pesquisa para este artigo tivemos acesso a cinco - aqui falamos, em específico, do Diálogo de Timóteo e Áquila pelo facto de se tratar do mais interessante exemplo deste género literário na Antiguidade. Existe uma breve trama em redor de todo o debate e o judeu, Áquila, até tem um papel activo. Claro que no final este acaba por ser converter ao Cristianismo - como não podia deixar de ser - mas, pelo menos, não se limita a aceitar impavidamente os ataques do opositor, apresentando visões e opiniões potencialmente reais.

 

O diálogo, em si, poderá parecer um pouco enfadonho para o leitor comum, mas gira em torno da interpretação e reinterpretação dos textos bíblicos. Vão sendo citados momentos do Antigo Testamento que o cristão usa em favor da sua religião, com o judeu a levantar algumas oposições. Inesperadamente, num dado momento é até explicado que existiam, sim, diferenças entre o AT cristão e o texto judaico, muitas vezes ao nível das previsões de vinda do Messias, mas que isso só acontecia porque Áquila [de Sínope, diferente da personagem judaica do texto] corrompeu algumas traduções gregas - mas essa é uma história que fica para outro dia.

 

No seu geral, este não é, como já foi dito, um diálogo particularmente interessante para o leitor comum, mas é-o certamente para quem tiver interesse na forma como as fés judaica e cristã se entrelaçavam nos primeiros séculos da nossa era.

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13 de Junho, 2019

Euplanes, ou a história do menino doente

Euplanes era um menino de Epidauro que, aparentemente, sofria de pedras nos rins. Com vista à solução do seu problema dormiu num templo de Apolo. Nessa noite o deus apareceu-lhe em sonhos e perguntou-lhe "Euplanes, o que me dás se eu te ajudar?", ao que o rapaz respondeu "dez dados!" Inesperadamente, o deus riu-se e disse-lhe que o seu problema seria resolvido. Na manhã seguinte o menino saiu do templo e foi curado.

 

Esta história é mencionada numa gravação presente num templo do deus Apolo. O seu elemento mais curioso é o facto do deus se rir quando confrontado com a oferta do menino. Os "dez dados" aqui oferecidos são o equivalente a uma criança dos nossos dias abordar um médico e lhe dizer que em troca de uma cura lhe dava dez brinquedos; é uma oferta, sim, mas presume-se que nem o deus nem um médico tenham qualquer uso real para ela. E, ainda assim, a compaixão divina falou mais alto e curou a criança - será que um médico dos nossos dias também faria o mesmo?

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11 de Junho, 2019

Uma "coroa solar" rectangular?

Quem for a Roma poderá encontrar na Capela de São Zeno da Basílica de Santa Prassede o seguinte mosaico:

Mais do que nos focarmos nas três figuras com coroas solares - duas santas acompanhadas pela Virgem Maria - preste-se é atenção à figura no lado esquerdo. Ténues letras permitem identificá-la como uma Epíscopa Teodo[ra], ou seja, a mãe do Papa Pascoal I. Mas o que representa o rectângulo em redor da sua cabeça? A prática parece ter caído em desuso ao longo dos séculos, mas aqui refere-se ao facto de ela ainda estar viva quando o mosaico foi colocado no local; também o seu filho, como pode ser visto abaixo, tem nesse recinto uma representação com contornos semelhantes.

Interessante, hem?

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10 de Junho, 2019

Onde e como morreu Camões?

Onde e como morreu Camões?

Falando de onde e como morreu Camões, devemos relembrar que o dia 10 de Junho é feriado em Portugal, sob o nome de "Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas", devido ao facto do autor dos Lusíadas ter falecido a 10 de Junho de 1580, e tal como o seu poema celebra os feitos dos Portugueses, foi também decidido que o dia da sua morte mereceria celebrar a Portugalidade. Contudo, quem viver em Lisboa poderá nunca se ter apercebido de uma pequena curiosidade:

No número 139 da Calçada de Sant'Ana, por cima de uma taberna, pode ser encontrada uma casa em que se acredita que Camões viveu e faleceu. Uma pequena placa, datada de 1867, assinala o local em que faleceu... se por doença, ou pela desilusão causada pelo falecimento de Dom Sebastião em Ceuta e os eventos que se seguiram, já é mais difícil saber-se.

 

Mas a história ainda não fica por aqui. Depois, o seu corpo foi transportado e sepultado na Igreja de Sant'Ana. Com o terramoto de 1755 perdeu-se o seu local preciso, sendo muito possível que no túmulo de Camões, hoje no lado direito quando se entra na igreja do Mosteiro dos Jerónimos, estejam restos mortais que nem são os dele. É um pouco triste...

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06 de Junho, 2019

A breve história de Teômbroto

Muito pouco sabemos sobre a figura de Teômbroto, que apenas no chegou nas linhas da Cidade de Deus de Santo Agostinho. Porém, essa ténue referência acaba por ser tão invulgar que achámos que a deveríamos recordar por cá.

 

É-nos então relatado que este Teômbroto leu um livro de Platão "sobre a imortalidade da alma"; gostando do que viu por lá, nessa ânsia de passar logo para uma vida que lhe parecia melhor que a sua, atirou-se deliberadamente do topo de uma parede e morreu.

 

Se existem referências à alma em diversos escritos platónicos, aquele mais focado no tema será certamente o Fédon. Terá sido esse o tratado lido pelo interveniente desta pequena história? Não podemos ter uma certeza absoluta, mas é inegável que, qualquer que tenha sido, o marcou tão profundamente que o fez desejar mais a morte do que a vida que tinha... e isto, de uma certa forma, mostra-nos a visão que a Antiguidade tinha face a Platão, aquela de um mestre quase incontestado que até parecia saber o que nos esperava a todos após o fim da nossa existência terrena.

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06 de Junho, 2019

Um "ABC" do século XVI

Ainda se lembram dos primeiros tempos de escola e dos livros que, bem nas suas primeiras páginas, tinham as letras do alfabeto ilustradas - A para avião, I para igreja, X para xilofone, Z para zebra, etc.? O que hoje aqui trazemos é um alfabeto semelhante, mas da segunda metade do século XVI. Vem da obra Contos e Histórias de Proveito e Exemplo, uma das primeiras compilações de contos morais nacionais. Surge no final da primeira parte do texto, na qual o autor tenta ajudar uma mulher de 20 anos, já casada mas que agora queria aprender a ler (o que era pouco comum na época). Instando-a a conhecer as letras do alfabeto, o autor escreve-lhe então o seguinte:

Amiga de sua casa;
Benquista [i.e. estimada] da vizinhança;
Caridosa com os pobres;
Devota da Virgem;
Entendida em seu ofício;
Firme na fé;
Guardosa [i.e. que cuida bem] de sua fazenda;
Humilde a seu marido;
Inimiga de mexericos;
Leal;
Mansa [i.e. no sentido de sossegada];
Nobre;
[H]Onesta;
Prudente;
Quieta;
Regrada;
Sisuda [i.e. séria];
Trabalhadeira;
Virtuosa;
Xpã [i.e. cristã];
Zelosa da sua honra.

Pelo contexto percebe-se que estas palavras indicam as grandes virtudes que se esperavam de uma mulher nessa época, devendo elas aprendê-las juntamente com o próprio abecedário, como as crianças de hoje começam por aprender as letras e significados mais indicadas para os seus próprios contextos. Tristes sinais dos tempos, que estas importantes virtudes já não sejam ensinadas nas mesas da escola...

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03 de Junho, 2019

A lenda de Jiraiya em vídeo

Muito sucintamente, Jiraiya é uma figura famosa do folclore japonês. De facto, é tão famosa que o nome do herói é frequentemente reaproveitado em séries nipónicas, de que Naruto poderá até ser um dos exemplos mais presentes nos nossos dias. Para conhecerem um pouco mais sobre este herói poderão ver o filme apresentado abaixo, datado de 1921, em que a lenda de Jiraiya é retratada de uma forma bastante fácil de perceber.

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