O que é um mito?
O que é um mito, afinal de contas?
Outro dia dei por mim a pensar na impossibilidade de efectuar uma divisão temática da Mitologia Greco-Romana. É claro que existem, em termos gerais, infinitas divisões possíveis de seguir, mas não me ocorre nenhuma que permita uma cisão mais geral, possibilitando a colocação de um qualquer mito numa categoria de um pequeno universo. Tais pensamentos levaram-me a uma discussão interna sobre o que é, efectivamente, um mito, e como se poderá defini-lo ... mas, na verdade, o que é um mito?
Segundo o Dicionário Online de Língua Portuguesa, o mito é narrativa fabulosa transmitida pela tradição, referente a deuses que encarnam simbolicamente as forças da natureza, os aspectos da condição humana. Tal definição é claramente consistente com os mitos de Narciso, de Baúcis e Filémon ou mesmo de Pigmalião, entre muitos outros. Contudo, levanta um enorme problema, ao impedir que a vida de Hércules, enquanto história conexa e simples ligação de diversos episódios, seja considerada como um mito. A Guerra de Tróia, por exemplo, partilharia desse mesmo problema.
De acordo com uma outra definição, mito é tradição que, sob a forma de alegoria, simboliza um facto natural, histórico ou filosófico, algo que considero um pouco fiável.
Contudo, ambas as definições aqui presentes nos levam a uma palavra chave - tradição. Sem a correcta interpretação desta, um qualquer leitor contemporâneo poderia culpar Zeus por um raio que atinja a árvore em frente de sua casa, historieta que poderia ser considerada, ironicamente, um mito. Assim, entende-se a impossibilidade de considerar um qualquer texto escrito nos dias de hoje como um mito, mesmo que inclua conteúdos similares aos dos textos antigos. Recorrendo ao dicionário anteriormente citado, tradição é conhecimento ou prática que provém da transmissão oral ou de hábitos inveterados.
Voltando à questão inicial, o que é efectivamente um mito? Citando Fernando Pessoa no seu poema Ulisses, "O Mito é o nada que é tudo".