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Mitologia em Português

30 de Novembro, 2013

O mistério do Bucentauro

Hoje, trazemos cá o estranho mistério de uma criatura chamada Bucentauro. Nesse sentido, ao procurar-se algo num dicionário de língua portuguesa encontrámos, completamente sem querer, algo de muito inesperado:

Bucentauro - "centauro com corpo de touro"

 

Esta definição de uma criatura chamada Bucentauro deixou-nos curioso, como cremos que também deixaria qualquer interessado por esses temas. Não existe, tanto quanto sabemos, qualquer menção explícita a estes seres nos mitos - Nono menciona centauros com cornos na sua Dionisíaca, mas mesmo ele fá-lo de uma forma velada e dá-lhes o seu nome usual. A própria definição do dicionário não é muito conclusiva... que combinação de touro, equídeo e/ou ser humano fariam parte deste misterioso ser chamado Bucentauro? Fica a questão, que por agora não tem resolução real... e por isso, na imagem abaixo pode ser visto em alternativa um Onocentauro - metade homem, metade burro - para compensar a ausência de imagens da criatura de hoje.

Um Onocentauro, diferente de Bucentauro

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29 de Novembro, 2013

"Sobre a natureza das coisas", de Lucrécio

De um ponto de vista mais geral muito haveria a dizer sobre esta obra Sobre a natureza das coisas de Lucrécio, em que o autor expõe as crenças filosóficas do Epicurismo, mas em termos dos mitos existem, aqui, dois momentos particularmente relevantes que gostaria de deixar por cá.

 

Algures na obra (não anotei a localização), o autor examina a impossibilidade de existência dos centauros, e fá-lo com base num argumento bastante curioso - visto que um equídeo e um humano crescem e se desenvolvem a ritmos diferentes (por exemplo, comparem um cavalo de 3 anos com uma criança da mesma idade), seria então impossível existirem ambos numa só criatura. Fabuloso, este argumento, já que permite, de uma forma fácil e rápida, refutar a possível existência de toda uma classe de seres mitológicos.

 

Além disso, no livro V o autor conta a história da Humanidade. Não o faz desde o princípio dos tempos (confesso que estava curioso sobre como iria ele abordar o momento inicial), mas aborda alguns momentos interessantes, desde a ascensão da humanidade até à criação de algumas artes, passando pela criação das comunidades, primeiras guerras, invenção do dinheiro, etc.

 

Claro que não são só estes os momentos que eu poderia mencionar por cá, mas sendo esta uma obra de uma complexa beleza, a minha recomendação é mesmo que a leiam. Não é uma obra fácil, eu jamais a recomendaria a alguém que pretenda um livro apenas para ocupar algum tempo livro, mas do ponto de vista filosófico esta é, sem dúvida, uma das mais ricas obras que já tive a oportunidade de ler.

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23 de Novembro, 2013

O mito de Alectrion

O mito de Alectrion (ou Alectrião, se preferirem...) pode ser breve, mas nem por isso é menos importante, ao ponto de até aparecer representado em algumas tapeçarias tardias, como esta que está presente no Museu Machado de Castro, em Coimbra, cujos pormenores recordamos antes de aqui recontarmos o mito que lhes está associado:

O sono de Aléctrion

Quando Ares andava envolvido com Afrodite, pedia a um jovem, Alectrion, que vigiasse a entrada. Um dia, o jovem adormeceu e o ilícito casal foi descoberto por Hélio. Então, como punição, Ares transformou o jovem num galo, de forma a que este nunca mais se esquecesse de anunciar a chegada do sol em cada manhã.

 

Lida então esta breve história do mito de Alectrion, podemos revisitar a tapeçaria cima. Do lado direito - que optámos por ocultar - poderiam ser vistos os dois amantes a serem descobertos por Hélio, mas neste lado esquerdo pode ser visto o jovem Alectrion a dormir. Mais acima, pode ser visto o sol a nascer, juntamente com um galo, numa sequência que nos remete sucintamente para tudo o que vai acontecendo com este herói no seu respectivo mito. É breve o mito, é igualmente breve a referência iconográfica, mas existe um certo charme em toda a história, não vos parece?

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15 de Novembro, 2013

As várias obras de Luciano da Samósata

São muitas as obras de Luciano da Samósata que nos chegaram até aos dias de hoje, e no contexto deste espaço não posso deixar de mencionar algumas delas, aquelas que terão interesse para este espaço. Estas são, no seu geral, obras com o seu quê de piada, mas que também exigem, muitas vezes, um bom conhecimento dos mitos e das histórias dos Gregos. Aqui fica, portanto, uma referência a alguma das suas obras, sem nenhuma ordem especial:

 

- Acusação dupla conta-nos um conjunto de casos (ficcionais) a serem julgados num tribunal enviado por Zeus e do qual a Justiça fazia parte. Eventualmente, o próprio autor da obra, sob forma dissimulada, é duplamente julgado nesse mesmo local, e daí o nome da obra.

 

- Em Âmbar ou Os Cisnes, o autor decide visitar um rio relacionado com o mito de Faetonte, mas não vê lá nada do que esperava.

 

- Cartas da Saturnália, onde existe uma troca de cartas entre o deus, ricos e pobres, tendo por base alguns dos rituais e costumes próprios dessa época do ano.

 

- Concílio dos deuses, uma sátira ao vasto número de divindades que, eventualmente, se foram juntando ao panteão dos deuses.

 

- A Dança apresenta uma lista de temas mitológicos (que poderiam ser tratados nessa arte, mas cujo interesse também a ultrapassa).

 

- Caronte, onde o famoso barqueiro decide tirar um dia de férias e visitar o mundo dos vivos, com a companhia de Hermes. Essa visita leva a uma discussão sobre o sentido da vida e da morte humana, onde nem falta um distante olhar da famosa conversa entre Creso e Sólon.

 

- Cronosolon, sátira a algumas das regras da Saturnalia.

 

- Da Deusa Síria, uma descrição do culto de uma dada deusa Síria (que o autor parece equiparar à Hera grega), e de alguns locais onde este tinha lugar.

 

- Os Diálogos dos DeusesDiálogos dos Deuses Marinhos e Diálogos dos Mortos apresentam, como o próprio nome dá a entender, conversas entre conjuntos de personagens sobre temas de ordem mitológica, seja entre deuses (como nos dois primeiros casos) ou entre mortais (como no terceiro caso). São vários e vastos os temas abordados, mas a título de exemplo posso referir o diálogo entre Zeus e Eros (o rei dos deuses queixa-se que as mortais só se apaixonavam pelas transformações, e não por ele próprio), o famoso Julgamento de Páris, e até uma conversa entre Polifemo e Poseidon que toma lugar durante a viagem da Odisseia. Merecem ser explorados, estes pequenos diálogos, mas também só podem ser totalmente compreendidas por alguém que conheça os episódios a que cada um delas faz referência.

 

- Dioniso, um pequeno relato das aventuras do deus na Índia.

 

- Héracles, uma comparação do herói com o Ogmis gaulês. Pareceu-me um exemplo interessante da interpretatio graeca, já que são mostradas algumas semelhanças entre as duas figuras, mas também uma diferença essencial.

 

- A História Verdadeira é, como o próprio autor admite no prólogo, uma sátira aos livros de viagens de outros autores, pejados de fantasias e de impossibilidades. Então, esta história é uma construção do autor em que se podem observar todo o tipo de mitos e fantasias, desde tempestades que duram mais de 40 dias a seres que caminham na água com os pés de rolha, passando pela ilha onde habitam os sonhos (estas com quatro portas, duas a mais do que as usuais), civilizações que vivem no interior de uma baleia, e outras coisas que tais. É, a meu ver, um dos mais interessantes textos da Antiguidade, mas trata-se de uma opinião meramente pessoal.

 

Icaromenipo, onde Menipo decide imitar o exemplo de Ícaro e sobir aos céus para visitar os deuses, inicialmente em busca de uma resposta a uma dada questão.

 

- Menipo, ou a Descida ao Hades, conta a história de um filósofo que decide ir ao reino dos mortos falar com Tirésias. Relata, depois, a um amigo tudo aquilo que viu por lá, incluíndo a resposta que Tirésias lhe deu sobre a verdadeira filosofia, e um decreto passado em relação aos ricos; se, no geral, a história poderá não parecer muito interessante, existem aqui elementos particulares que são de algum interesse, nomeadamente a forma como Menipo consegue descer ao reino de Hades, e as descrições do que vê por lá.

 

- O Galo, em referência a um galo falante (spoilers: é uma reencarnação de Pitágoras), que acaba por ensinar a um pobre homem que o real valor da felicidade não vem do dinheiro. Claro que o conteúdo não é propriamente mitológico, mas existem vários elementos neste trabalho que remetem para os mitos e que me parecem ser tão importantes quanto interessantes.

 

- O texto de O mentiroso contém uma famosa história de vassouras enfeitiçadas para limparem uma casa, mas também várias outras histórias de fantasmas, espíritos e eventos sobrenaturais. Contudo, o próprio título dá a entender que essas histórias são falsas.

 

- Prometeu retrata-nos o momento em que o famoso titã ia ser preso, "crucificado", na famosa rocha. Nesse momento, e na presença de Hermes e de Hefesto, o titã defende as suas acções, justificando cada um dos seus três crimes (o engano a Zeus relativamente aos sacrifícios, a criação do Homem, e o roubo do fogo) e profetizando que, um dia, seria libertado por "um arqueiro tebano".

 

- Saturnalia, uma descrição do famoso festival.

 

- Em Timão, ou o Misantropo, somos confrontados com um pobre homem, vítima do destino, e que se vê privado daqueles que considerava seus amigos. Faz um apelo à justiça divina (nesse ponto, a conversa de Zeus com Pluto e outras figuras tem especial interesse), e quando se vê novamente afortunado, decide mudar a forma como vivia a sua vida, dando o merecido a todos aqueles que o maltrataram nas alturas de vera necessidade.

 

- Uma conversa com Hesíodo confronta o famoso autor com algumas promessas por ele feitas e que não foram cumpridas.

 

- Na Viagem ao Mundo Inferior podemos ver um pouco do caminho percorrido pelos mortos, desde que são recebidos por Caronte, onde se identificam, até ao seu julgamento por Radamento.

 

- Em Zeus Confutado, o rei dos deuses é confrontado com o papel de Destino, e é-lhe mostrado que os deuses não têm qualquer valor ou papel real, e que os crimes da humanidade nem sequer são puníveis.

 

- Zeus Trágico é a história de um debate entre dois filósofos, um estóico e um epicurista, no qual os deuses têm um especial interesse. O leitor só tem acesso à parte final do debate, em que o favorito dos deuses é depressa derrotado, mas os própios pensamentos e debates dos deuses, quando confrontados com os diversos argumentos, têm mais interesse que o debate dos dois mortais.

 

 

De todos estes títulos, eu gosto - e, como de costume, convém dizer que é uma opção meramente pessoal - especialmente da História Verdadeira e do texto do galo, mas como qualquer leitor poderá constatar nas linhas anteriores estes textos são, quase todos eles, interessantes para o estudo dos mitos gregos.

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