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Mitologia em Português

30 de Julho, 2014

Os mitos de Aurora, Titono e Mémnon

Apesar de não serem muito conhecidos, os mitos de Aurora, Titono e Mémnon (ou Mêmnon) estão intimamente ligados, razão pela qual opto por juntá-los nestas linhas.

 

Titono era um mortal por quem a deusa Eos (ou a Aurora, na versão latina) se apaixonou, que a deusa até perseguiu, e de quem teve pelo menos um filho, Mémnon. A paixão da deusa por Titono era tal que esta pediu a Zeus que lhe desse a imortalidade; esta foi concedida, mas sem o dom da juventude eterna a figura foi envelhecendo, acabando por ser transformada numa cigarra.

 

Em primeiro lugar, importa frisar o carácter muito único de Titono, sendo ele um dos poucos mortais de quem é dito que uma deusa o perseguiu, sendo, muito provavelmente, esse carácter a razão pela qual lhe foi, mais tarde, atribuída a imortalidade. Porém, esse também é um dom que aqui não surge sem uma advertência - a imortalidade, sem uma juventude eterna, pouco interesse teria, e alguns autores modernos até dão um elemento muito poético a esta transformação, fazendo dele um homem que, ao envelhecer dia após dia, acaba por mirrar até se tornar uma cigarra.

Aquiles e Mémnon em combate

Quanto a Mémnon, a história já é um pouco mais longa. Depois da trama da Ilíada, depois do episódio de Pentesileia, a figura surge em batalha com o seu exército. Vão derrotando vários dos seus opositores, mas eventualmente é este herói que mata Antíloco, companheiro de Aquiles após a morte de Pátroclo (dando razão à linha na Odisseia em que é dito que a morte desse filho de Nestor surgiu "do filho da Aurora"). Depois, Mémnon defronta Aquiles - um longo confronto, que também marca a única vez que o filho de Tétis encontra um seu igual no campo de batalha - e este segundo mata-o.

Em último lugar, algo de singular acontece também com esta figura; é dito que após a morte a mãe, Eos, fez algo com o corpo do filho, mas esse é também um "algo" que diverge de versão para versão, sendo ele transformado em pássaro, levado para uma ilha, divinizado, ou transformado numa estátua (se a estátua ainda hoje existe, e continua localizada no Egipto, já não produz som ao nascer do dia, como nos é dito que fazia originalmente e em honra da mãe).

Os Colossos de Mémnon

Contudo, não podemos deixar de ter em conta que estas são figuras sobre as quais já pouco sabemos. O mito de Titono chega-nos em vagas alusões feitas por diversos autores, e a figura de Mémnon, que teria o seu papel principal na perdida Etiópida, parece ainda ser conhecida por muitos autores da Antiguidade, que, ainda assim e com uma única excepção, pouco relevo lhe dão.

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30 de Julho, 2014

Da origem histórica do xadrez

A origem histórica do xadrez tem muito que se diga. Por isso, esta é uma história tão interessante que me pareceria absurdo não a deixar por cá. É a de um segredo deste jogo no Libro de los juegos. Um qualquer jogo, ao ser criado, é-o com um conjunto de regras, que estipulam o que pode, ou não, ser feito no decurso mesmo. São regras, é esse o objectivo, e creio que poucos se interrogarão sobre o porquê de cada uma delas, da mesma forma que poucos se interrogarão sobre o porquê de cada uma das regras de trânsito dos automóveis.

Origem histórica do xadrez

Porém, nesse sentido, o Libro de los juegos, escrito na Idade Média através da voz de Afonso X, diz-nos algo que poucas vezes pensaríamos sobre essa origem histórica do xadrez. Entre os muitos jogos explicados pelo autor contam-se um curioso jogo astronómico, uma versão deste jogo que só se jogava na Índia e em que as principais peças eram animais (um deles o sempre-presente unicórnio), e aquele a que ainda hoje damos o nome de xadrez. Agora, se nessa altura as peças em jogo ainda não eram totalmente coincidentes com as modernas, aquilo que me parece mais importante frisar é mesmo o facto de o autor dar explicações para o movimento de cada uma das peças, bem como de várias características do jogo.

 

Em relação ao cavalo, por exemplo, o autor justifica o seu movimento equiparando-o ao de um cavalo no campo de batalha, que vai correndo em frente, mas pontualmente se desvia para a esquerda e para a direita. Do elefante, a peça que ocupava a posição do moderno bispo, é dito que o seu movimento era como o dessa criatura nos campos de batalha, atacando pelos flancos. O rei, esse, tem o seu ténue movimento justificado pela prudência de um monarca em batalha, que deveria pensar bem cada um dos seus movimentos antes de os realizar.

A peça que ocupava o lugar da rainha, que me parece correcto identificar como sendo um porta-estandarte, tinha a capacidade de longos movimentos para assim melhor anunciar a presença do seu rei. E, quando os peões, aqui identificados com simples combatentes, atingiam o lado oposto do tabuleiro, tinham a possibilidade de se transformar num novo porta-estandarte, como até poderia acontecer, na vida real, a todos aqueles combatentes anónimos que se distinguissem nas artes da guerra.

 

Parece-me fantástica, esta analogia estabelecida por Afonso X entre o campo de batalha e o campo do jogo, fazendo do xadrez um jogo tanto intelectual como uma virtual experiência das artes da guerra. Esta é, infelizmente, uma analogia que se parece ter perdido na versão moderna do jogo (pense-se nisso, o que faria uma singela rainha no campo de batalha?), mas que muito poderia ser ainda mencionada em conjunção com a base teórica e origem história do xadrez, até porque torna muito mais simples a aprendizagem das funções de cada uma das peças.

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29 de Julho, 2014

O mito de Fedra

A sabedoria popular ainda hoje nos fala de todos os muitos perigos de uma mulher rejeitada, de que o mito de Fedra é um bom exemplo. Igualmente famoso, dentro do mesmo tema, é o mito de Medeia, mas não é o único, já que também a figura de Fedra nos apresenta uma situação semelhante:

Fedra e Hipólito

Fedra era esposa de Teseu. Apaixonou-se por Hipólito, filho ilegítimo do marido, e propôs-lhe a consumação desse amor. Hipólito rejeita-a, até por ter feito um voto de castidade, e na sequência dessa rejeição Fedra acusa, falsamente, o filho adoptivo de violação. Depois, mata-se, com a razão e a cronologia dessa morte a dependerem da versão do mito. A versão de Eurípides coloca-a antes da morte de Hipólito, sendo a "violação" anunciada por carta, enquanto que na versão de Séneca esse é um suicídio que sucede a morte de Hipólito e a revelação da verdade. Porém, os vários autores nunca deixam de mencionar que tanto Hipólito como Fedra acabam mortos.

 

Um elemento que sempre me fascinou neste mito é o facto de ser um dos mais antigos exemplos da figura da madrasta vingativa, que ao longo dos séculos se tornaria muito popular através de histórias como a da Cinderela, e em que uma madrasta, por uma ou outra razão, está contra um dos filhos do marido. No entanto, este também é aqui um elemento secundário, já que o inesperado amor de Fedra, a rejeição de Hipólito, e a vingança final da esposa de Teseu, são quase sempre atribuídas, de alguma forma, às acções dos deuses.

 

Assim, o mito de Fedra é, acima de tudo resto, um mito sobre as consequências de um amor rejeitado. É, aqui, um amor ilícito, mas não deixa de nos apresentar a figura de uma mulher rejeitada por um homem, figura que procura inflingir tanta dor quanto possível a quem o rejeitou, e quando Teseu expulsa o seu filho da cidade, é precisamente isso que a madrasta consegue, acabando até por lhe causar a morte. Também Medeia, rejeitada, procura inflingir uma dor semelhante a Jasão, e essa é uma constância que é mantida em muitos outros textos que foram sendo escritos ao longo dos séculos. Portanto, e até porque a sabedoria popular raramente se enganada, tenham cuidado ao rejeitarem uma mulher...

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28 de Julho, 2014

O mito grego do deus Proteu

O mito grego do deus Proteu é relativamente fácil de resumir em muito poucas linhas, até porque a sua participação na Mitologia Grega é muito breve, mas nem por isso menos significativa.

Proteu transformava-se, tal como Tétis

Proteu, cuja paternidade parece variar mas que nunca deixa de ser um importante deus marinho, é uma figura com a dupla capacidade de prever o futuro e de mudar a sua forma física. Quando, na Odisseia, Menelau se aproxima dele em busca de alguma informação que procurava, o deus vai mudando a sua forma, sempre com a intenção de assustar ou afastar quem o interpelava, mas o irmão de Agamémnon não deixa de o agarrar, acabando este deus, no final, por desistir de toda a batalha e revelar a informação pretendida pelo famoso esposo de Helena.

 

O elemento mais famoso deste mito de Proteu é certamente a capacidade do deus em se transformar em toda a espécie de criaturas e formas. Adoptou a forma de uma chama, um leão, etc., sempre com a intenção de afastar de si quem o procurava. Algo de semelhante também aparece no mito de Tétis, o que poderá levantar uma questão - acreditando que os outros deuses marinhos tinham, também eles, capacidades semelhantes, de onde vem toda essa ideia? Será que nasceu da capacidade que a própria água tem para adoptar todas as formas? É certamente possível que sim, e até existem algumas breves alusões a essa fluidez na cultura da Antiguidade, mas não devemos esquecer que os restantes deuses também se transformavam - basta recordar o famoso caso das transformações amorosas de Zeus! O que acontece, tanto aqui como no caso de Tétis, é um conjunto de transformações destinadas a afastar alguém, sendo provável que todos os outros deuses também o conseguissem fazer, apesar de nunca terem sentido uma necessidade real para tal...

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27 de Julho, 2014

O mito de Odisseu/Ulisses, e a "Odisseia" de Homero

Se a figura de Odisseu/Ulisses dificilmente pode ser separada da conquista de Tróia (até foi ele que teve a ideia do famoso cavalo), a figura também nos é muito mais conhecida através da Odisseia de Homero, obra que narra o retorno do herói a casa. Como sucedeu no caso da Ilíada, não irei resumi-la, mas posso recordar o que Aristóteles diz em relação a ela, na sua Poética. Também aqui, a citação provém de uma tradução brasileira:

 

Um homem afastado de sua pátria pelo espaço de longos anos e vigiado de perto por Poseidon acaba por se encontrar sozinho; sucede, além disso, que em sua casa os bens vão sendo consumidos por pretendentes que ainda por cima armam ciladas ao filho deste herói; depois de acossado por muitas tempestades, ele regressa ao lar, dá-se a conhecer a algumas pessoas, ataca e mata os adversários e assim consegue salvar-se. Eis o essencial do assunto. Tudo o mais são episódios.

fonte

 

Poderá parecer-nos, hoje, que esta descrição é demasiado redutora do encanto de toda a obra, mas difícil seria a tarefa de argumentar que Aristóteles não tinha razão quando escreveu essas palavras - se é a "raiva de Aquiles" que mais caracteriza a Ilíada, é inegável que também é a figura de Odisseu/Ulisses, e a sua jornada de volta a casa (ah, perdão, o seu "nostos", para quem prefere essas coisas), que caracteriza esta outra obra do famoso autor, e "tudo o mais são episódios" que o vão aproximando ou afastando desse objectivo final.

 

Quando, então, o herói retorna a casa e vence os seus adversários, a trama de Homero termina, mas não é aí que acabam as aventuras da errante personagem. Como um resumo do Ciclo Épico nos indica (e existia até uma peça, hoje perdida, de Sófocles que abordava este tema), o herói viria, depois, a conhecer um filho que teve com Circe, de nome Telégono, e este, desconhecendo a identidade do pai, acaba por matá-lo.

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26 de Julho, 2014

O "Segundo Mitógrafo do Vaticano"

O Segundo Mitógrafo do Vaticano, também este de autoria desconhecida, reconta 275 mitos, e dá-lhes um tratamento muito semelhante ao Primeiro Mitógrafo do Vaticano (já falado aqui), acrescentando, porém, explicações a alguns dos mitos aí patentes. Curiosamente, vários dos mitos contados nesta obra repetem o conteúdo da anterior, até nas próprias palavras que usam, levando-nos a crer que esta obra até se poderá ter baseado na outra, de algum modo.

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26 de Julho, 2014

O mito de Ifigénia

O mito grego de Ifigénia é-nos particularmente famoso de duas peças de teatro da autoria de Eurípides, nomeadamente Ifigénia em Áulide e na Táurida, que nos apresentam dois momentos diferentes da história dessa mesma figura. Nesse sentido, resumimos aqui a sua trama mitológica apenas de uma forma muito breve:

 

O rei Agamémnon tinha ofendido Artémis, deusa da caça. Como tal, essa divindade fez com que todos os ventos cessassem, impedindo a partida marítima do exército aqueu para Tróia, até que o monarca aceitasse dar a vida da sua própria filha em troca de poder prosseguir com o seu empreendimento. E ele até acaba por fazê-lo, ou, pelo menos, parece acabar, no culminar da primeira peça, quando sacrificou a sua própria filha num altar...

Depois, na segunda peça, que toma lugar pelo menos 10 anos mais tarde, acaba por se descobrir que, mais do que falecer naquele que teria sido o seu derradeiro altar e pelas mãos do próprio pai, Ifigénia foi, por obra e piedade dos deuses, substituída por um animal e transportada para uma terra distante, onde acabará por vir a reencontrar o próprio irmão...

Ifigénia a subir aos céus

Face a esta trama muito geral, uma questão impõe-se: será que existiu, nos tempos da Antiguidade, alguma versão do mito em que Ifigénia faleceu verdadeiramente em Áulide, terminando aí toda a sua vida? Não sabemos, mas, por exemplo, Hesíodo, no seu Catálogo das Mulheres, diz que a jovem foi transformada na deusa Hécate, não falecendo no altar, dando-nos a perceber que eram muitas as opiniões que podiam ter existido sobre o seu destino final.

Mas volte-se à versão de Eurípides. A mesma trama geral do mito de Ifigénia também foi descrita por Aristóteles, na sua Poética, em linhas que merecem aqui ser recordadas. A tradução é em Português do Brasil, não sendo da nossa autoria:

Uma donzela, prestes a ser degolada durante um sacrifício, foi tirada dos sacrificadores, sem estes darem pelo fato [como nos diz a primeira das peças mencionadas acima]; e [a história depois continua na segunda peça, com esta sequência geral - ] transportada a outra região onde uma lei ordenava que os estrangeiros fossem imolados à deusa; e a donzela foi investida nesta função sacerdotal. Passado algum tempo, o irmão da sacerdotisa chega àquela região, e isto ocorre porque o oráculo do deus lhe prescrevera que se dirigisse àquele lugar, por motivo alheio à história e ao entrecho dramático da mesma. Chegando lá, ele é feito prisioneiro; mas quando ia ser sacrificado, deu-se a conhecer (quer como explica Eurípides, quer segundo a concepção de Polído, declarando naturalmente que não somente ele, mas também sua irmã devia ser oferecida em sacrifício) e com estas palavras se salvou.
fonte

 

Como o filósofo grego dá a entender, a história da morte e sacrifício de Ifigénia, que nos poderia parecer o término da sua vida, é aqui o início de algo mais complexo, de toda uma aventura a que somente Orestes, num último momento, tem acesso. Assim, esta figura, é na primeira peça quase somente filha de Agamémnon, mas na segunda já tem o seu papel principal como irmã de Orestes; dos eventos com a primeira figura masculina pouco mais se conhece que o sacrifício (o que faz algum sentido, tendo em mente a cultura da época), mas é o reconhecimento final desta heroína pelo próprio irmão que bem nos chegou, e que mais nos caracteriza, hoje, esta figura!

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26 de Julho, 2014

O "Fisiólogo", de autoria desconhecida

O Fisiólogo, ou Physiologus na sua versão latina, é um texto que nos fala dos animais e suas características, mas diverge de obras como a História Natural ou a História dos Animais pelo facto de, ao ter sido escrito nos primeiros séculos da nossa era, já apresentar a curiosa singularidade de traçar paralelismos entre diversos animais e as crenças cristãs.

 

Numa dada altura da obra, é dito que o nome do tigre se devia à sua velocidade (e o rio Tigre teria esse nome pela mesma razão), algo que é relativamente normal neste género literário. Porém, linhas depois, é contada uma história relativa aos abutres, segundo a qual eles dariam à luz sem a existência de uma relação sexual, e o autor usa essa característica do animal para justificar o nascimento virgem provindo do ventre de Santa Maria. A Fénix é usada como um exemplo da ressureição de Cristo, e a rola como um exemplo de fidelidade (e das palavras de São Paulo em relação aos casamentos), entre muitos outros exemplos que eu aqui poderia dar.

 

Ainda assim, esta obra também tem um aspecto mais curioso, e que só é constatável para quem conheça bem este género literário. Se grande parte das características aqui atribuídas aos animais já apareciam em obras anteriores, na análise desta obra notei que muitas das usadas para a comparação com elementos cristãos parecem ter sido inventadas, ou adaptadas, pelo autor (desconhecido) desta obra, não aparecendo de uma forma tão clara nos textos anteriores. Tal característica até poderia empobrecer o património que esta obra tem para nos oferecer, mas importa frisar que esta é, mais do que as suas antecessoras, a obra que acaba por ter um enorme impacto na Idade Média, em que múltiplos bestiários seguem a ideia aqui apresentada e estabelecem, uma e outra vez, paralelismos entre as características dos vários animais e os textos bíblicos, como se os primeiros tivessem sido criados por Deus para atestar a veracidade dos segundos.

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25 de Julho, 2014

O mito do Ofiotauro

O mito do Ofiotauro tem um grande problema - esta criatura é apenas mencionada por Ovídio nos seus Fastos, e mesmo nesse contexto ele era quase somente uma criatura metade serpente, metade touro, que tinha nascido da deusa Gaia.

Um exemplo de Ofiotauro

Segundo esse autor latino, dizia uma profecia que quem queimasse as entranhas de um Ofiotauro conseguiria derrotar até os próprios deuses do Olimpo; por essa razão o Estige aprisionou-a, mas o gigante Briareu acabou por conseguir recuperar esta criatura e matá-la. Contudo, quando tentava sacrificá-la no fogo, o corpo do Ofiotauro foi transportado por um pássaro para longe, a pedido de Zeus, e a intenção do titã foi completamente frustrada, levando eventualmente à famosa derrota dos titãs, num conjunto de batalhas cuja totalidade dos eventos já não nos chegaram de uma forma mais completa.

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24 de Julho, 2014

Os mitos de Atalanta

Em relação aos mitos de Atalanta, podemos dizer que um argumento que muitos autores da Antiguidade tendem a usar, face a figuras famosas como a de Hércules e a desta figura feminina, é que a sua multiplicidade de mitos se deve a uma junção de características, bem como de aventuras, de várias entidades que partilham um mesmo nome, ou a quem é dado um único nome comum. Dessa característica é um interessante exemplo a figura de Atalanta, a quem se atribuem duas aventuras principais na Mitologia Grega e Romana.

Parte do mito de Atalanta

A primeira é a de uma jovem que tinha jurado apenas casar com quem a vencesse numa corrida, sendo que todos os desfiantes derrotados eram mortos. Um dia Hipomene, desejando a mão da jovem, pede a ajuda da deusa Afrodite, que lhe dá algumas maçãs de ouro. Com esses mágicos frutos, Hipomene consegue ganhar a corrida (cada vez que Atalanta o ultrapassava, o seu opositor atirava-lhe uma maçã de ouro, levando-a abrandar para a recolher), e casar com ela. Mais tarde, e por razões que divergem entre os vários autores, são ambos transformados em leões.

 

A segunda, é a da participação desta figura num caça ao javali da Calidónia. É Atalanta que primeiro fere essa criatura, mas Meleagro que acaba por matá-la. Ainda assim, este segundo dá-lhe, no final e pela paixão que nutria pela companheira de caça, a cabeça e a pele do javali (um acto que, mais tarde, leva à morte deste herói, mas isso já é outra história).

 

Existe, em toda esta história, um grande elemento a ter em conta, que é o facto dos dois mitos apenas se intersectarem num único ponto, o nome da heroína. Porém, se são muitos os autores que confundem as duas figuras, atribuindo ambos os mitos a uma personagem una, isso ignora o facto das duas figuras terem paternidades totalmente diferentes e, portanto, dificilmente poderem ser uma só. É óbvio que essa fusão não faz qualquer sentido, sendo, nesse sentido, este um conjunto de dois mitos que nos mostra o mesmo fenómeno que se terá passado com Hércules, segundo alguns autores - pelo seu uso repetido, figuras muito parecidas acabaram por se confundir e tornar-se uma só, fazendo de duas Atalantas uma única, e de múltiplos Hércules um só.

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