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Mitologia em Português

22 de Julho, 2014

"Dafnis e Cloé" de Longo, e a primeira flauta de Pã

Dafnis e Cloé é como que um "romance" (as aspas são intencionais, e devidas ao facto de vários especialistas nem sequer saberem bem em que consiste esse género literário) escrito na Antiguidade, por volta do século II d.C. e por um autor que, possivelmente, se chamaria Longo. A história é simples, com dois jovens abandonados pelos pais a serem criados por animais e, já na sua adolescência, a apaixonarem-se, e aprenderem as artes do amor juntos. Como é natural nestas tramas, eles acabam por ficar juntos, mas não sem antes passarem por algumas peripécias.

 

É uma obra muito simples, mas também nos permite constatar algo de curioso na cultura desses primeiros séculos da nossa era: se autores como Séneca, Cícero ou Santo Agostinho se focam num dado tipo de mitos, os mencionados nesta obra prendem-se sempre com um outro tipo de cultura, mais simples e própria dos pastores, em que figuras campestres como Pã, as Ninfas ou Cupido têm um papel mais central, e em que figuras que nos pareceriam tão importantes, como Júpiter, têm um papel mais secundário, sendo muito raramente mencionadas.

 

É nessa sequência que o autor da obra nos conta o mito da primeira flauta de Pã - o deus estava apaixonado por uma mulher, mas esta rejeita-o, e foge dele, morrendo num canavial. Então, o deus constrói essa primeira flauta, a que viria a dar o nome, com as mesmas canas em que a amada morreu, cortando-as de diferentes tamanhos visto que o amor entre eles também era desigual.

 

Este pequeno mito, como o famoso mito de Eco (também contado nesta obra), parece-me mais facilmente atribuível a uma cultura de pastores do que a um estrato social mais elevado, e se alguns instantes da obra até nos remetem a mitos muito mais conhecidos - num dado instante, a maçã que uma das personagens dá a outra é equiparada à que Páris, também ele um pastor, deu a Vénus - o tema pastoral está sempre presente, como o estão as três singulares figuras já acima mencionadas. Seria, portanto, Longo um pastor, ou alguém familiarizado com essa cultura menos conhecida na época? Infelizmente, pouco sabemos sobre o autor, mas parece-me até muito provável que sim.

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