Os mitos de Aurora, Titono e Mémnon
Apesar de não serem muito conhecidos, os mitos de Aurora, Titono e Mémnon (ou Mêmnon) estão intimamente ligados, razão pela qual opto por juntá-los nestas linhas.
Titono era um mortal por quem a deusa Eos (ou a Aurora, na versão latina) se apaixonou, que a deusa até perseguiu, e de quem teve pelo menos um filho, Mémnon. A paixão da deusa por Titono era tal que esta pediu a Zeus que lhe desse a imortalidade; esta foi concedida, mas sem o dom da juventude eterna a figura foi envelhecendo, acabando por ser transformada numa cigarra.
Em primeiro lugar, importa frisar o carácter muito único de Titono, sendo ele um dos poucos mortais de quem é dito que uma deusa o perseguiu, sendo, muito provavelmente, esse carácter a razão pela qual lhe foi, mais tarde, atribuída a imortalidade. Porém, esse também é um dom que aqui não surge sem uma advertência - a imortalidade, sem uma juventude eterna, pouco interesse teria, e alguns autores modernos até dão um elemento muito poético a esta transformação, fazendo dele um homem que, ao envelhecer dia após dia, acaba por mirrar até se tornar uma cigarra.
Quanto a Mémnon, a história já é um pouco mais longa. Depois da trama da Ilíada, depois do episódio de Pentesileia, a figura surge em batalha com o seu exército. Vão derrotando vários dos seus opositores, mas eventualmente é este herói que mata Antíloco, companheiro de Aquiles após a morte de Pátroclo (dando razão à linha na Odisseia em que é dito que a morte desse filho de Nestor surgiu "do filho da Aurora"). Depois, Mémnon defronta Aquiles - um longo confronto, que também marca a única vez que o filho de Tétis encontra um seu igual no campo de batalha - e este segundo mata-o.
Em último lugar, algo de singular acontece também com esta figura; é dito que após a morte a mãe, Eos, fez algo com o corpo do filho, mas esse é também um "algo" que diverge de versão para versão, sendo ele transformado em pássaro, levado para uma ilha, divinizado, ou transformado numa estátua (se a estátua ainda hoje existe, e continua localizada no Egipto, já não produz som ao nascer do dia, como nos é dito que fazia originalmente e em honra da mãe).
Contudo, não podemos deixar de ter em conta que estas são figuras sobre as quais já pouco sabemos. O mito de Titono chega-nos em vagas alusões feitas por diversos autores, e a figura de Mémnon, que teria o seu papel principal na perdida Etiópida, parece ainda ser conhecida por muitos autores da Antiguidade, que, ainda assim e com uma única excepção, pouco relevo lhe dão.