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Mitologia em Português

23 de Agosto, 2014

A teoria das ideias, e das formas, de Platão

Falar da teoria das ideias, e das formas, de Platão não é fácil, mas podemos apresentar aqui um resumo interessante. Os textos deste autor são, demasiadas vezes, tão crípticos que se torna difícil compreender as muitas teorias que o autor, através da voz de Sócrates, tenta transmitir, e disso são um perfeito exemplo a teoria das ideias e das formas. Porém, nas suas Epístolas Morais a Lucílio, Séneca o Jovem dá uma pequena ajuda, que aqui cito em tradução inglesa:

 

This "idea", or rather, Plato's conception of it, is as follows: "The 'idea' is the everlasting pattern of those things which are created by nature." I shall explain this definition, in order to set the subject before you in a clearer light: Suppose that I wish to make a likeness of you; I possess in your own person the pattern of this picture, wherefrom my mind receives a certain outline, which it is to embody in its own handiwork.  That outward appearance, then, which gives me instruction and guidance, this pattern for me to imitate, is the "idea." Such patterns, therefore, nature possesses in infinite number - of men, fish, trees, according to whose model everything that nature has to create is worked out.

(...)

If you would [like to] know what "form" means, you must pay close attention, calling Plato, and not me, to account for the difficulty of the subject. However, we cannot make fine distinctions without encountering difficulties. A moment ago I made use of the artist as an illustration.  When the artist desired to reproduce Vergil in colours he would gaze upon Vergil himself. The "idea" was Vergil's outward appearance, and this was the pattern of the intended work.  That which the artist draws from this "idea" and has embodied in his own work, is the "form." Do you ask me where the difference lies?  The former is the pattern; while the latter is the shape taken from the pattern and embodied in the work.  Our artist follows the one, but the other he creates.  A statue has a certain external appearance; this external appearance of the statue is the "form." And the pattern itself has a certain external appearance, by gazing upon which the sculptor has fashioned his statue; this is the "idea." If you desire a further distinction, I will say that the "form" is in the artist's work, the "idea" outside his work, and not only outside it, but prior to it.

fonte

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23 de Agosto, 2014

"Sir Orfeu", de autoria desconhecida

Sir Orfeu é um texto medieval que nos faz chegar uma versão do mito de Orfeu e Eurídice um pouco diferente da habitual. O mito, na sua versão mais conhecida, já aqui foi falado. Em linhas muito gerais (a trama da obra não se esgota nestes elementos essenciais, mas são os suficientes para frisar a relação da mesma com o famoso mito grego), posso dizer que nesta versão Orfeu é rei, e casa com uma bela Eurídice, fazendo dela sua rainha. Depois, ela é raptada por seres mágicos. Após uma longa e mística viagem, é com o poder da sua música que Orfeu recupera a amada, e trá-la de volta ao reino.

 

Um primeiro aspecto a aqui ter em conta é a identidade do(s) raptor(es) de Eurídice. Existe, na obra, uma alusão a esses raptores, e ao local de onde vêm, que pode tanto ser uma referência aos mitos celtas (como ocorre em muitas lais de Marie de France), como uma referência dissimulada aos antigos deuses. Esse é um elemento que, talvez propositadamente, não está claro. Um outro aspecto relevante é o facto de Orfeu aqui ficar com Eurídice, algo que não acontecia no original. Em último lugar, nesta versão do mito a música do herói tem tanto relevo como no original, já que é com ela que recupera a amada, mas que, num último instante da trama, Orfeu também acaba por recuperar o seu reino.

 

Este é, portanto, um texto que nos permite constatar a prevalência de alguns mitos gregos na cultura medieval, se bem que de uma forma que vai sendo adaptada. Os deuses, e muitas das figuras míticas, vão sendo substituídas por figuras sobrenaturais, "fadas" e seus semelhantes, à medida que existe uma dessacralização das suas funções originais. Também, Orfeu torna-se rei, um cavaleiro errante em busca da amada, e é filho de descendentes de Plutão e Juno (figuras de quem é dito que, nessa altura, eram consideradas divindades), mas ainda retém o poder da sua música, ainda hoje um dos seus mais famosos elementos. Os deuses do submundo, contudo, tornam-se meros rei e rainha, e nem um nome agora têm. Até o local onde grande parte da trama toma lugar é adaptado - é a Trácia, mas uma Trácia aqui considerada como um antigo nome de Winchester. Muitas outras adaptações são feitas à trama original, e dada a parca extensão da obra, fica o convite para a exploração desses elementos, aqui adaptados como em muitas outras obras da altura; seria a famosa história do Rei Artur mais uma delas, baseando-se num qualquer mito hoje perdido? Fica, como muitas vezes, também essa questão final...

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