Estrabão, no terceiro livro da sua obra, conta a geografia da Península Ibérica. Começa por falar do "Promontório Sagrado" (hoje, Cabo de S. Vicente), e descrever o que existia entre este e as "Colunas de Hércules". Depois, descreve, também, toda a costa oeste da mesma península, referindo uma cidade chamada "Ulysseia", onde existia um templo de Minerva, e outros vestígios da passagem de Ulisses. Mais à frente, refere "Olysipo", a que chama "uma das mais belas cidades próximas do Tejo", e dessa cidade diz, essencialmente, que um dado Bruto, originário da antiga Galiza, a teria fortificado.
Poderia parecer que ambas essas cidades eram uma só, mas, mais à frente, surge um elemento ainda mais problemático. Ao descrever as cidades costeiras que se encontravam entre as Colunas de Hércules e os Pirinéus, o autor refere novamente uma "Ulysseia", situada numa zona montanhosa e com um templo de Minerva, onde estavam alguns vestígios das viagens de Ulisses. É a essa cidade que o autor associa uma abundância de "peixe salgado" (i.e. conservas), que até era exportada.
Continua, em linhas próximas a essas, ao mencionar um problema - a localização da cidade que associa ás viagens de Ulisses parece desconhecida, com alguns a colocarem-na antes das Colunas de Hércules, e outros a colocarem-na só depois desse mesmo ponto de referência. Nada implica que as duas referências seja uma só, até porque, através das linhas que escreveu, podemos depreender que o autor não a(s) viu com os seus próprios olhos, e se a segunda delas, a próxima ao Tejo, só pode ser aquela a que hoje chamamos Lisboa, aqui não é totalmente claro que seja também essa a cidade que associa ao grande herói da Odisseia. Claro que os nomes de ambas as localizações nos remetem, de uma forma quase automática, para essa figura, mas nada de muito conclusivo, nesta obra, parece identificar a cidade do Tejo com essa outra, onde existia um templo de Minerva, e onde estavam alguns vestígios da passagem do herói.
Todavia, pode ter sido esta dificuldade a originar a ideia de que teria sido o herói homérico a fundar a cidade de Lisboa. Baseando-nos somente na obra de Estrabão, sabemos que, nessa altura, existiriam, pelo menos, entre uma e três cidades que se poderiam dizer fundadas por essa figura, e mesmo que o autor não nos diga, de uma forma totalmente concreta, que o "Olysipo" da margem do Tejo foi uma delas, o espaço a percorrer para se chegar a essa conclusão é muito curto, mas não totalmente certo.