Quem foi o discípulo amado de Jesus Cristo?
O quarto evangelho do Novo Testamento faz múltiplas referências a um apóstolo que Jesus amou. Mas, na verdade, quem foi esse discípulo amado de Jesus Cristo? A ligação desta figura com João só foi feita de uma forma directa já no século IV por Eusébio de Cesareia, que na sua História da Igreja menciona uma epístola de Polícrates de Éfeso (século II) na qual João era referido como o apóstolo “que se reclinou no seio do Senhor” (V.24). Além desse elemento não há qualquer prova mais conclusiva de que o autor do quarto evangelho, esse agora-famoso discípulo amado, tenha realmente sido João.
Pessoalmente, e na senda de alguns estudiosos, sempre pensei que esta figura se tratava de Lázaro. Foi trazido da sua morte de volta à vida, fazendo dele um ser humano bastante especial mesmo no contexto dos milagres bíblicos (a filha de Jairo é referida como estando apenas a dormir, não constituindo uma verdadeira ressurreição). Além disso, esta figura é referida a Jesus como “aquele que amas” na sequência 11:3 desse evangelho. Em terceiro lugar, a famosa fórmula associada ao autor do evangelho nunca é mencionada até ao episódio de Lázaro e a sua respectiva ressurreição. E, ainda, o Evangelho Secreto de Marcos parece indicar-nos esse mesmo sentido.
Para terminar, só nesse mesmo evangelho é que nos é dito que os sacerdotes decidiram matar Lázaro juntamente com Jesus (sequência 12:10-11), mas sem que a morte do primeiro alguma vez torne a ser mencionada; Jesus deixa claro que o autor do evangelho, o discípulo amado, até poderia não vir a morrer (sequência 21:21-23), levando-nos novamente a uma ligação importante entre as duas figuras.
Se ouvi falar de outras teorias relativas à autoria deste evangelho específico, esta sempre me pareceu a mais convincente. O ponto a reter, no entanto, é que nem os autores mais antigos tinham a certeza absoluta da identidade deste apóstolo que Jesus amou, ou discípulo amado. Porém, tenha ou não sido ele o autor, a menção a João como aquele que “se reclinou no seio do Senhor” parece ter tido bastante importância, já que, muitos séculos mais tarde, Da Vinci representou na sua Última Ceia uma figura muitas vezes identificada como João numa posição semelhante a esta...