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Mitologia em Português

25 de Agosto, 2016

O mito de Telo de Atenas

Quando, naquela que será provavelmente uma das histórias mais famosas da Antiguidade Clássica, Creso perguntou a Sólon se o considerava o mais feliz de todos os homens, o segundo rapidamente lhe disse que não, atribuíndo essa grande honra a um tal Telo de Atenas. Mas quem era esta figura?

Creso, a quem foi contado este mito de Telo de Atenas

De acordo com a história, como esta nos é contada por Heródoto, Telo de Atenas vivia numa cidade próspera e tinha filhos de boa índole. Viu todos eles lhe darem netos, também eles de boa saúde. Sempre viveu uma vida próspera, acabando por morrer de uma forma gloriosa, em batalha, sendo depois enterrado de uma forma repleta de honra e no mesmo local em que faleceu.

 

Esta história, como a que depois a segue (a de Cleóbis e Bíton), é importante não só na medida que nos permite constatar o que era a felicidade para Sólon (seja a figura real desse nome, ou uma figura de existência meramente literária), mas porque também nos leva a considerar a própria definição da felicidade, que não deverá depender apenas da riqueza monetária - como pensava Creso - mas que nasce, essencialmente, de viver e seguir um modo de vida muito específico, que pouco ou nada tinha a ver com os encantos da carne. Quão melhor seria este mundo se as pessoas entendessem a mesma lição!

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18 de Agosto, 2016

A "Matéria de Tróia"

Há alguns dias atrás ocorreu neste espaço uma pesquisa interessante. Esta pessoa, de identidade desconhecida, procurava pela "Matéria de Tróia" e queria lê-la em Português. O problema é que a "Matéria de Tróia" não é algo que se possa ler, ou pelo menos não directamente, mas sim um conjunto de temáticas abordadas na literatura medieval, como também o eram a "matéria da Bretanha" (as histórias do Rei Artur e seus cavaleiros) e a "matéria de França" (histórias de Carlos Magno e os Doze Pares de França) e a "matéria da grande Roma" (histórias latinas).

Nessa sequência, é fácil compreender que a "Matéria de Tróia" abordava os mitos relacionados com a famosa cidade, sendo particularmente famosa através do popular Romance de Tróia, por sua vez baseado em diversas obras latinas, como os relatos de Díctis e Dares. Seria, então, esse o texto específico que este leitor anónimo deveria procurar, mas creio que não existe traduzido em Português (e mesmo em edições francesas modernas parece só existir de uma forma incompleta).

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16 de Agosto, 2016

Uma pequena história de Momo e da Lâmia

Numa das suas obras Tzetzes menciona uma frase proverbial em uso na sua altura - "os Momos vêem tudo menos a si próprios". O mito desta figura é bastante conhecido, mas este autor também explica a frase, justificando-a com um facto curioso - o deus Momo carregava uma bolsa dupla às costas, guardando as suas coisas na zona das costas, enquanto levava as dos outros na parte frontal, impedindo-o, naturalmente, de ver aquilo que lhe pertencia.

 

Dentro do mesmo tema o autor conta-nos uma história menos conhecida da Lâmia. Segundo ele esta tinha a capacidade de retirar os olhos da face (uma característica que, recorde-se, nem todos os autores lhe dão); assim, quando ia a casa tirava-os e guardava-os numa pequena jarra, tornando a usá-los somente quando saía, razão pela qual também ela desconhecia o que tinha em casa, impedindo-a de se auto-criticar, enquanto o fazia facilmente para com as outras pessoas com quem se cruzava.

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12 de Agosto, 2016

Origens dos nomes dos meses do ano

Como muitas outras coisas na nossa cultura ocidental, as origens dos nomes dos meses do ano provêm também do tempo dos Romanos. Recorde-se que, no início, o ano começava ainda no mês de Março, sendo que só mais tarde viria a ter a sua configuração e ordem actuais. Autores como Macróbio, entre vários outros, contam-nos as razões por detrás dos seus respectivos nomes, mas há que ter em conta que, como o mesmo também nos reporta, muitas destas origens eram disputadas por várias razões, não sendo totalmente certas. Assim, se no tempo de Rómulo os meses ainda eram apenas dez, estas eram as origens dos nomes dos meses do ano:

Origens dos nomes dos meses do ano

Março - em homenagem ao próprio pai do herói, o deus latino Marte.

Abril - em homenagem à mãe de Eneias, Vénus, que em grego se chamava Afrodite, gerando esse nome depois o do mês por alterações fonéticas. Também podia dever-se ao reflorescimento da natureza.

Maio - através do nome de uma divisão de classes feita pelo irmão de Remo, devido a um dos títulos de Júpiter, ou - mais frequentemente - devido a uma deusa de nome Maia, cuja identidade real também era disputada por vários dos autores que trataram este tema.

Junho - através do nome de uma divisão de classes por parte de Rómulo, ou em honra a [Lúcio] Júnio Bruto, primeiro cônsul de Roma.

Julho - originalmente obteve o seu nome pela sua posição como quinto mês, mas mais tarde foi associado a Júlio César, que tinha nascido nesta altura.

Agosto - primeiro derivado da sua posição como sexto mês (algo que agora é menos evidente), mas depois em homenagem a [César] Augusto.

Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro - estes meses obtiverem os seus nomes das suas posições no calendário, respectivamente, desde o sétimo até ao décimo.

 

Se esta era, como já foi dito, a configuração do ano na altura de Rómulo - "dez meses, e de 304 dias; seis meses de 30 dias, quatro de 31" - Numa Pompílio foi-lhe depois adicionando 57 dias. Em seguinda, atribuiu os seguintes nomes aos novos meses:

 

Janeiro - consagrado a Jano, deus de duas faces, para que este pudesse então ver o final do ano anterior e o princípio do novo. Por essa mesma razão este também foi tornado o primeiro de todos os meses.

Fevereiro - em honra a Fébruo, um (mais) antigo deus associado à morte e purificação, sendo que o número (inferior) de dias do mês era considerado apropriado para ele, por se tratar de um deus dos infernos.

 

Foram depois, por diversas razões, sendo feitas diversas alterações ao número de dias de cada ano, o que, a longo prazo, acabou por originar a situação que temos nos dias de hoje, em que Fevereiro continua a ter um menor número de dias, enquanto que os outros têm sempre 30 ou 31. E assim se explica as origens dos nomes dos meses do ano.

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08 de Agosto, 2016

O Pokémon e a criação de uma mitologia

Uma das mais interessantes discussões a que já assistimos passa pela criação literária dos deuses gregos. Como será que alguém, um dado dia, pensou que existia no Olimpo um Zeus, uma Atena nascida da cabeça deste, um deus disforme que trabalhava no fogo, ou uma figura que usava um tridente para causar terramotos? Esse é, infelizmente, um debate que raramente dá frutos palpáveis, mas em tempos de "Pokémon Go" podemos mostrar como se cria uma mitologia. Vejam este fantástico exemplo, fruto da imaginação de algum anónimo:

Criação do Pokémon

fonte

 

Se alguém estiver curioso, devemos acrescentar que algumas destas figuras já são capturáveis no "Pokémon Go", mas seria o escritor desta história um novo Homero? Dificilmente, mas por uma qualquer razão tentou sintetizar um conjunto de mitos numa história contínua, como a que se atribui, famosamente, a Hesíodo.

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05 de Agosto, 2016

Histórias do Zodíaco #13 - Ofiúco

Há alguns anos e por razões que aqui não são de especial importância surgiu a ideia de um décimo-terceiro signo do zodíaco, Ofiúco. Este representa uma figura humana em pleno combate com uma cobra, mas a identidade dos dois envolvidos parece variar mediante as fontes consultadas.

 

Seriam eles Apolo e a serpente de Delfos, que o deus teve de derrotar para tomar posse do local do futuro oráculo? Tratar-se-ia do troiano Laocoonte, a ser atacado por uma serpente enviada pelos deuses, que acabaria por levar à sua destruição? Ou seria uma representação de Esculápio, figura muito associada às serpentes, que foi morto pelo rei dos deuses do Olimpo por repetidamente ter trazido de volta à vida aqueles que já tinham passado o seu tempo mortal?

Muitas poderiam ser as hipóteses, mas é inegável que este signo e constelação pareciam representar uma serpente ("ophis", em Grego) em combate com uma figura humana.

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01 de Agosto, 2016

Anaxífales de Pesto, sua vida e obra (?)

Já ouviu falar de Anaxífales de Pesto, um obscuro filósofo pré-socrático cuja visão da realidade assentava, essencialmente, na ideia de que o tempo e o movimento são um só? Foi ele que disse que o movimento dos céus era cíclico, como tudo o resto na nossa vida, e que, por isso, se um homem se conseguisse mover à mesma velocidade que o sol, não iria crescer nem sofrer qualquer tipo de alteração.

 

Por muito fascinante que esta visão nos possa parecer, Anaxífales não existiu. Confuso? Claro que podem ser encontradas algumas referências a ele na internet, mas todas elas originaram num artigo (falso) da Wikipedia. É esse o grande problema de recorrer a citações e fontes que não se conhecem na primeira pessoa; como já cá foi mencionado uma vez, isso é algo com que não podemos concordar, mas que, infelizmente, ainda continua a acontecer demasiadas vezes.

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