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Mitologia em Português

26 de Abril, 2018

Uma espécie de "Vingadores" da Idade Média

No texto medieval Culhwch and Olwen juntam-se ao herói um conjunto de figuras dignas de nota. Assim, Culhwch recebe a ajuda do famoso Rei Artur, mas também dos seguintes heróis, todos eles muito menos conhecidos:

 

  • Gwrhyr, capaz de falar com pássaros e animais, bem como transformar-se nos mesmos.
  • Mewn, com o poder de tornar invisíveis todos os companheiros.
  • Morvran, que não era atacado pelos adversários devido à sua fealdade.
  • Sandde Bryd, que não era atacado pelos adversários devido à sua beleza.
  • Sgilti Yscawndroed, com a capacidade de correr sobre os ramos das árvores e sobre a relva sem os pisar.
  • Drem, senhor de umas capacidades visuais incríveis.
  • Gwadyn Ossol, para quem a maior montanha era pouco mais do que uma planície.
  • Sol, que aguentava ficar o dia inteiro num só pé.
  • Gwadyn Odyeith, lançava fagulhas dos pés.
  • Gwevyl, que conseguia cobrir-se totalmente com os lábios quando estava triste.
  • Ychdryt Varyvdraws, com uma barba extensível.
  • Yskyrdaw e Yseudydd, rápidos como o pensamento.
  • Klust, que mesmo enterrado conseguia ouvir uma formiga a sair da sua toca a mais de 80 Km de distância.
  • Gwiawn, conseguia remover um grão de areia do olho de uma mosca com um só golpe.
  • Ol, com o dom de conseguir seguir o rasto de porcos que tinham desaparecido sete anos antes de ter nascido.

 

Por muito curiosos que todos estes invulgares poderes nos possam parecer, a associação de diversos heróis, cada um deles com capacidades especiais pouco comuns, não é uma novidade dos nossos dias. Já na Antiguidade Jasão tinha nos seus Argonautas um conjunto de figuras dispostas a seguirem-no na sua difícil aventura, e ideias como essas continuariam a repetir-se ao longo dos séculos, através de exemplos famosos como os Cavaleiros da Távola Redonda. Mas será que conhecem outros exemplos como os agora mostrados em Vingadores: Guerra do Infinito?

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24 de Abril, 2018

"Decameron", de Giovanni Boccaccio

Cena do Decameron, de Giovanni Boccaccio

O Decameron (ou Decamerão) é certamente a obra mais famosa de Giovanni Boccaccio. A sua trama é relativamente simples - com a intenção de escapar a uma praga (qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência), 10 pessoas reúnem-se durante duas semanas e partilham uma centena de histórias. Porém, é mesmo dessas histórias secundárias que surge o verdadeiro charme do texto, na medida que nos preservam um conjunto de informações que, de outras formas, não teríamos nos nossos dias. Muitas das histórias deste Decameron são adaptadas do Oriente e da Antiguidade (por exemplo, uma delas provém de Xenofonte de Éfeso), outras de possíveis tradições orais, mas se as referências mitológicas são quase inexistentes ainda é aqui notável uma influência basilar da forma de obras como Noites Áticas, de Aulo Gélio.

 

Para quem estiver curioso sobre o Decameron, esta famosa obra do Renascimento Italiano, mas não quiser lê-la por completo, um brevíssimo resumo das histórias aí contidas pode ser encontrado aqui.

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18 de Abril, 2018

O que pensa a religião do conceito de evolução?

Aqui pode ser lido um pequeno artigo em inglês sobre o que diversos grupos religiosos pensam sobre o conceito de evolução; se alguém que pertença a outros grupos religiosos ler estas linhas, por favor deixem-nos também as vossas próprias opiniões sobre o tema.

 

Ainda hoje, muitas pessoas tendem a pensar que só pela referência a "Adão e Eva" os Cristãos já negam completamente a ideia de qualquer possibilidade de evolução, mas, curiosamente, já nos tempos de Filo de Alexandria e Santo Agostinho essa história era vista com alguns contornos metafóricos. O segundo destes autores até admite, de uma forma indirecta, uma potencial crença naquilo que viria a ser conhecido como "evolução", quando, referindo-se aos Blémias (uma espécie de figuras humanas sem cabeça e com a cara no peito), escreveu "assumindo que se tratam de humanos [i.e. por oposição a animais], descendem certamente de Adão".

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16 de Abril, 2018

O Jogo Real de Ur

No vídeo abaixo pode ser visto o Jogo Real de Ur, um dos jogos mais antigos que ainda podem ser jogados nos nossos dias:

Para quem estiver curioso sobre as regras deste jogo e como ele deve ser conduzido, o Museu Nacional de Arqueologia tem um documento que as explica e que pode ser acedido aqui.

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12 de Abril, 2018

A "Exortação da Guerra", de Gil Vicente

Há aguns dias discutíamos as obras de Gil Vicente, e a forma como algumas figuras da Antiguidade surgem em parte delas. Nesse contexto, a Exortação da Guerra, desse autor, tem um elemento digno de nota.

 

Em primeiro plano a peça apresenta um clérigo afamado nas artes da necromância. Após uma descrição dos seus poderes mágicos, este invoca duas criaturas diabólicas, e por sua influência comum são invocados do mundo dos mortos algumas figuras relacionadas com a guerra. Quem são elas? Sucessivamente, entram em palco Políxena, Pentesileia e Aquiles (que os leitores poderão conhecer das tramas da Guerra de Tróia), seguidos por Aníbal, Heitor e Cipião (duas figuras reais, e uma delas famosa da Ilíada). O seu grau de intervenção da peça varia - a que mais fala é mesmo Políxena, filha de Príamo - mas não deixa de ser curioso que Gil Vicente ainda pense nessas figuras, todas elas da Antiguidade, como as mais indicadas para discutir as várias faces da temática da guerra, mil anos após o término do tempo dos Gregos e Romanos.

 

Por razões como essas se vê o repetido apelo dos temas e eventos da Antiguidade Clássica...

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11 de Abril, 2018

A lenda do Judeu Errante

A lenda do Judeu Errante é uma das muitas que surgiram na Idade Média, algumas delas com um conteúdo marcadamente antisemítico (recorde-se até o curioso exemplo do Toledot Yeshu, a que voltaremos no futuro). Parece ter tido uma popularidade significativa na Europa, ao ponto do nome do visado variar de país para país - em Portugal e Espanha, por exemplo, era muitas vezes chamado um nome como "Juan Espera[endios]", mas em outros países era chamado Gregório, Buttadeo, etc. - e de existirem diversas versões dos acontecimentos que o envolvem. Mas conte-se, então, o cerne da sua história.

Judeu Errante entre os crucificados

Na versão mais famosa, o homem que ficaria conhecido como Judeu Errante vivia em Jerusalém aquando da crucificação de Jesus Cristo. Quando este último carregava a cruz e se dirigia para o Calvário, parou por um breve momento e, de uma qualquer forma, foi ofendido por este Judeu. Face a esse acto reprovável, Jesus condenou-o então a caminhar pelo mundo fora até ao final dos tempos. Outras versões diziam que o futuro Judeu Errante se tratava do homem que criou o Bezerro de Ouro, ou até de um colaborador da casa de Pôncio Pilatos que ofendeu Jesus Cristo.

 

Em comum, todas as versões desta lenda do Judeu Errante parecem ter o facto de se tratarem de histórias antissemíticas, explicando, de alguma forma, a razão pela qual um determinado judeu, ou o próprio Povo Judeu no seu conjunto, estavam a ser condenados a múltiplas provações.

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11 de Abril, 2018

A breve história de Hipátia de Alexandria

Hipátia de Alexandria foi provavelmente uma das mais famosas filósofas da Antiguidade. Uma das suas histórias diz-nos até que, ao ser confrontada com o amor de um aluno,o tentou afastar pela música, e depois mostrando-lhe algo semelhante a um penso higiénico usado, dizendo-lhe que era isso que ele amava e que nada de belo tinha - a vergonha levou-o a afastar-se das suas intenções originais.

 

Não sabemos muito mais sobre esta figura, salvo o facto de ter sido morta pelos cristãos, não porque tenha feito algo de mal, mas - diz-nos pelo menos uma fonte - pela inveja de Cirilo, patriarca de Alexandria, tinha da sua enorme fama. Então, foi violada, o seu corpo foi despedaçado e depois levado numa espécie de procissão doentia pela cidade.

 

Quem tiver mais curiosidade sobre esta história pode vê-la no filme Ágora de 2009.

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09 de Abril, 2018

Um segredo da Notre Dame de Paris

Certamente que a catedral Notre Dame de Paris é uma das mais famosas construções religiosas de toda a Europa, mas nem por isso acolhe menos segredos do que, por exemplo, a Sé de Lisboa. Conta-nos então a história que por volta de 1710 estavam a ser feitas uma obras no interior da catedral, com o objectivo de construir uma cripta, quando foi encontrado algo de inesperado.

 

Hoje chamado o "Pilar dos Navegantes", que pode ser visto parcialmente reconstruido na imagem acima, contém referências a deuses gauleses como Cernuno e Esmértio, juntamente com figuras romanas como Castor e Vulcano, e até uma dedicatória ao Imperador Tibério. Mas como terá este pilar ido parar ao subsolo da Notre Dame? Muitas poderão ser as respostas, mas é possível que tenha existido nesse local um antigo templo religioso de alguma importância, sobre o qual posteriormente foi construída uma igreja cristã (recorde-se que também em Lisboa a Sé foi construída sobre um antigo templo religioso islâmico), ou que ao longo dos séculos a pedra de que era feita este pilar tenha sido simplesmente reutilizada para outros propósitos, sem qualquer valor dado à sua anterior função religiosa.

 

Ainda assim, acabou por nos preservar a única menção indisputada a Cernuno, um cornudo deus gaulês aqui identificado pelo nome e que na imagem acima pode ser visto do lado esquerdo (segunda representação a contar do topo).

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06 de Abril, 2018

"Compêndio de Teologia Grega", de Cornuto

 

 

Esta obra de Cornuto aponta, essencialmente, os mitos dos deuses através das suas etimologias e interpretações simbólicas. Porém, recorre frequentemente a elementos muito forçados, que dificilmente estariam em conta nas criações originais. Para dar um pequeno exemplo, Urano é referido como tendo obtido esse nome por ser o limite superior ("ouros anô") de tudo o que existe; claro que existe uma semelhança notável entre o nome do deus e essa expressão, mas até que ponto era essa semelhança de vocábulos intencional? Não sabemos - e é essa a grande dificuldade desta obra, não podermos ter uma completa consciência de até que ponto a informação que nos dá é credível.

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01 de Abril, 2018

A Papisa Joana existiu mesmo?

Será que a Papisa Joana existiu mesmo? Será que, um dado dia, uma mulher ascendeu verdadeiramente ao trono papal? Vejamos, hoje, se há alguma verdade por detrás de toda essa história.

A Papisa Joana existiu mesmo?

Conta-nos a sua lenda que a mulher que ficaria mais tarde conhecida como Papisa Joana se disfarçou de homem e se juntou a um mosteiro. Foi aprendendo cada vez mais, chegando a fama da sua sabedoria a tornar-se tão grande que foi subindo na escada da Igreja Católica e acabou por chegar a Papa. Contudo, acabou por engravidar de um amado e teve o seu filho durante uma procissão na própria cidade de Roma. Se morreu durante esse nascimento, se foi depois morta pelos fiéis, ou se foi deposta e levada para um convento, as diversas fontes parecem discordar em relação a esse ponto. Ainda assim, quem for a essa cidade poderá encontrar, próximo do número 27 da Via dei Querceti, o local em que tradicionalmente se crê que ela faleceu, como pode ser visto neste vídeo (infelizmente, com alguns problemas técnicos):

 

Terá esta história da Papisa Joana acontecido mesmo? A maior parte dos estudiosos do tema dizem que não, alguns deles referindo-se a ela como uma estranha consequência de uma amante do Papa João XII (e a quem este ofereceu mundos e fundos, levando os cidadãos da época a referirem-se a ela como a verdadeira "papisa"), mas então... porque existe uma carta de tarot chamada "A Papisa"? Porque existe em Roma uma rua evitada durante cortejos papais, supostamente o local em que esta papisa deu à luz, como já vimos acima? Porque são diversas as fontes que afirmam ter visto, na galeria onde eram guardados os bustos dos vários papas, uma figura claramente feminina? Porque terá escrito um famoso autor (cremos que Erasmo, mas a memória poderá estar a trair-nos a todos) que viu em Roma uma estátua desta papisa com o seu filho nos braços? E também, porque existe no Vaticano uma cadeira com um buraco, supostamente desenhada para verificar os genitais daqueles que ascedem ao trono papal? A resposta a todas estas questões, deixamo-la aos leitores!

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