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Mitologia em Português

31 de Agosto, 2018

Os deuses e a escolha das árvores

Imagem de uma oliveira

Esta pequena história dos deuses provém das fábulas de Fedro.

 

Conta-nos então esse autor que, um dado dia, os deuses do Olimpo decidiram escolher as suas respectivas árvores - Júpiter escolheu o Carvalho, Vénus a Murta, Febo Apolo o Loureiro, Cibele o Pinheiro e Hércules o Choupo. São, todas elas, árvores que não dão fruto, o que levou Minerva a perguntar-se sobre a razão para tal; Júpiter, seu pai, respondeu-lhe que assim não venderiam as suas honras em troca das frutas. A ele, a deusa retorquiu que, ainda assim, a Oliveira (vista na imagem acima) lhe era mais cara em virtude do seu fruto.

 

A verdadeira moral da história provém dos próprios lábios de Júpiter - "Ó filha, é com justiça que és chamada sábia por todos; pois, a não ser que o que fazemos for útil, vã é a nossa glória".

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29 de Agosto, 2018

De que árvore provinha o fruto que Adão e Eva comeram?

Muitos são os segredos que se escondem nas linhas do Antigo Testamento. Infelizmente, ainda não encontrámos qualquer livro que aborde todos eles (se souberem de algum, por favor deixem essa informação nos comentários!), pelo que esta semana voltaremos a focar-nos num segundo mistério - de que árvore provinha o fruto que Adão e Eva comeram? Terá sido, como frequentemente representado em imagens cristãs, a maçã?

É muito provável que a história do Paraíso e da singular árvore tenha antecedido o próprio Judaísmo, porque existem representações de episódios a eles semelhantes em períodos muito anteriores. Porém, nenhuma delas permite identificar seja a árvore, ou o fruto desta. Mesmo aqueles que procurem, quase com uma lupa, essa informação no texto do Antigo Testamento rapidamente acabarão frustrados - não está lá, estando tão oculta que a Árvore da Vida facilmente se confunde com a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, ao ponto das suas características muito se confundirem. Poderiam procurar-se respostas noutras religiões da mesma área geográfica, mas isso também leva a um problema inesperado - mesmo quando é de alguma forma identificada (por exemplo, quando os praticantes do Zoroastrianismo falam da haoma), desconhecemos qual a sua equivalência moderna.

 

Tentemos então uma resposta inversa - terá sido a árvore a macieira, e o fruto proíbido a maçã? Já responder a essa pergunta implica falar um pouco do texto bíblico cristão. Quando São Jerónimo, por volta do século IV ou V, traduziu esses textos para Latim, criou uma tradução tão popular que durante séculos e séculos seria a utilizada por toda a Europa. E no seu texto ocorria, evidentemente, uma palavra como malus ("o mal"), ou mali ("do mal").

Contudo, se alguém na mesma época quisesse escrever "a maçã" ou "da maçã", fá-lo-ia precisamente da mesma forma - malus e mali - só mudando muito ligeiramente o som produzido oralmente.

Agora, se nada no texto identifica mesmo o fruto, a semelhança de palavras facilmente poderá ter levado a que este passasse a dizer o que não diz - que essa árvore dava... maçãs. E assim surgiu mais uma ideia que não está escrita na Bíblia, a de que Adão e Eva poderão ter sido expulsos do Paraíso por causa de um fruto de macieira.

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24 de Agosto, 2018

Quem inventou o dinheiro?

Tanto os Gregos como os Romanos parecem ter tido um enorme fascínio com a origem das coisas. Em muitas das suas obras históricas existem repetidas referências ao inventor, ou propagador, das mais diversas artes. O que nos leva a uma questão - afinal de contas, quem foi que inventou o dinheiro, ou como é que este surgiu?

 

Por estranho que pareça, essa é uma das origens que é muito pouco referida. Porém, a Farsália, de Lucano, faz-lhe uma pequena referência, dizendo que foi Ionos - rei da Tessália e uma figura bastante obscura, sobre a qual quase nada conseguimos descobrir - o primeiro a dar forma aos metais, fazendo moedas de ouro e conduzindo os homens à avareza e à guerra.

 

Será a informação de Lucano fidedigna? Será que os Gregos e Romanos acreditavam que tinha sido este Ionos o criador do conceito e forma do dinheiro? Isto não tem uma resposta simples, já que grande parte dos autores, como já referimos, tendem a ignorar esta criação em específico, não parecendo existir fontes muito concretas que possam refutar a ideia. Por isso, teremos de nos resumir a um singelo talvez, à mera possibilidade de que tenha sido mesmo Ionos a fazê-lo.

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23 de Agosto, 2018

"A history of chess", de Harold Murray

Há pouco mais de quatro anos foi por aqui deixada uma pequena referência ao xadrez. Certamente que continha alguns factos interessantes, mas não estavam completos. É nessa sequência que aqui mencionamos agora o livro A history of chess, de Harold Murray, que pode ser obtido gratuitamente nesta página. O principal ponto atractivo da obra prende-se essencialmente com o facto de apresentar uma história completíssima - arriscamo-nos a dizer... em alguns pontos talvez até completa demais? - deste jogo, desde os seus primórdios na Índia e na Pérsia até às evoluções "mais recentes". É o livro perfeito para todos aqueles que gostem de xadrez e que queiram aprender muitos outros factos como aqueles que anteriormente cá deixámos!

 

Para quem não tiver muito interesse nesse livro, deixamos apenas aqui um outro facto curioso - se hoje se diz "xeque-mate" quando um jogo está prestes a ser ganho, a expressão vem originalmente da língua persa, em que shah mãt significava algo como "o xá [peça equivalente ao nosso rei] está derrotado".

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17 de Agosto, 2018

"Sobre o funcionamento dos daemones", de Miguel Pselo

Este pequeno livro de Miguel Pselo conta, de uma forma muito sucinta, como funcionam os daemones, e daí o seu título. É estruturado como um diálogo entre uma pessoa que sabe (indirectamente) o que está a dizer sobre esse tema e uma que parece querer aprender um pouco mais. Nada apresenta de muito complexo, mas contém alguma informação interessante para quem, como uma das personagens, quiser saber mais sobre como essas intervenções funcionavam. Por exemplo, como é feito um pacto com um daemon? Parafraseando a informação deste livro:

 

 

É um ritual macabro, horrendo, como o são quase todos do género, mas é mesmo esse aspecto assustador, ilegalmente transgressivo, que supostamente contribui para o seu poder. Felizmente a obra não contém muitos outros momentos tão chocantes como este, sendo uma boa fonte de informação sobre a forma como os daemones (que, aqui, até poderíamos traduzir já como "demónios") eram vistos no século XI. Ainda assim, convém que leitores mais sensíveis a evitem, por razões óbvias.

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13 de Agosto, 2018

Em tempos da Inquisição, porque foram dados livros proíbidos?

O tempo da Inquisição foi, como muitos leitores certamente saberão, um tempo de censura de ideias. Obviamente que nessa altura não se podia dizer mal da Igreja, nem se poderiam difundir ideias contrárias às suas, mas quem já se interrogou sobre as razões pelas quais determinados livros foram então banidos? Ora bem, numa obra impressa em Lisboa no ano de 1581, com o esclarecedor título Catalogo dos liuros que se prohibem nestes Reynos & Senhorios de Portugal... Com outras cousas necessarias â materia da prohibição dos liuros, essa questão pode ser, pelo menos em parte, resolvida, já que entre os seus conteúdos está contido um conjunto de nove regras basilares para justificar essa selecção. E são, de forma muito simplificada, as seguintes:

 

1- Livros condenados antes de 1515;

2- Livros dos heresiarcas e de hereges;

3- Traduções de textos em que existam elementos contra a doutrina cristã;

4- A Bíblia em linguagem do povo (se for produzida sem autorização);

5- Livros como Vocabulários, Apotegmas, Índices, etc, em que passagens censuradas podiam ter sido citadas;

6- Livros que tratam de controvérsias entre católicos e hereges;

7- Livros que ensinam coisas "lascivas ou desonestas". Haviam algumas excepções para belas obras "escritas pelos gentios", mas, curiosamente, adiciona-se que mesmo essas "em nenhum caso se lerão aos moços";

8- Livros de boa natureza, mas com passagens heréticas;

9- Livros sobre temas como Geomancia, Hidromancia, etc.

 

Curioso é o facto de se poder proceder de duas formas em relação a livros que violassem estas regras - ou eram totalmente proíbidos (como no caso de Lúcio, ou o Burro de Luciano da Samósata, ou as Metamorfoses de Ovídio, provavelmente pelas transformações mágicas), ou tinham algumas passagens simplesmente "riscadas" (como numa passagem do segundo canto do Inferno de Dante Alighieri). As razões para tais acções são relativamente fáceis de perceber, mas prendem-se, essencialmente, com uma tentativa de defender os costumes e a sacralidade do Novo Testamento. Porém, tais acções também impediam a livre circulação de ideias... o que é sempre de evitar!

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09 de Agosto, 2018

"Farsália", de Lucano

O que dizer sobre o poema épico de Lucano que é, entre nós, normalmente conhecido como Farsália? Ficámos um pouco com a ideia de que é uma obra sem heróis e sem vilões, e em que a própria guerra civil é que toma o lugar cimeiro. Tem momentos belíssimos e instantes de horrendos crimes de guerra. Mas, de um ponto de vista dos mitos, existem dois momentos especialmente importantes.

 

No quarto livro, e ao longo de cerca de 80 versos, é-nos recontado detalhadamente o combate entre Hércules e Anteu. Podemos estar enganados, mas é provável que se trate da versão mais detalhada que ainda temos para esse episódio mitológico.

 

No nono livro e também em cerca de 80 versos é retratado o mito de Perseu e da Medusa. Nada há de muito especial nessa referência, até porque o mito é sobejamente conhecido, mas o relato contém um punhado de versos de curiosa importância, que nos dizem que, por exemplo, que a deusa Atena, enquanto auxiliava Perseu, evitou olhar para a Medusa - o que lhe teria acontecido se não o fizesse? Não nos é dito, o que é pena.

 

De um modo geral esta é uma obra... razoável, talvez essa seja a melhor palavra para a definir. Muito poucos serão aqueles que terão interesse nela, com excepção dos que procurem mais informação sobre a guerra civil romana, mas mesmo assim há que deixar um ponto crucial - a obra está incompleta, terminando com César a escapar do Egipto.

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06 de Agosto, 2018

Sabiam que os Romanos já acreditavam na existência de micróbios?

A história do microscópio é longa e complexa, mas a ideia de que existiam seres microscópicos, que não podemos ver à vista desarmada, é muito mais antiga. De facto, Marco Varrão, no seu livro sobre as lides do campo, diz que os terrenos pantanosos devem ser evitados, por lá existirem "certos animalculae [i.e. pequenos animais], invisíveis aos olhos, que aí nascem e, transportados pelo ar, entram no corpo pela boca e pelo nariz, causando doenças que são difíceis de curar".

 

Hoje sabemos que a ideia deste autor estava parcialmente correcta, mas não deixa de ser interessante que há mais de dois milénios já se pensasse em hipóteses como estas!

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01 de Agosto, 2018

Porque tinham os Dez Mandamentos duas tábuas?

Porque tinham os Dez Mandamentos duas tábuas?

Como há algumas semanas atrás os leitores pareceram ter gostado de uma outra temática como esta, decidimos revisitá-la com um tema significativamente diferente. Quais são os Dez Mandamentos? "Não matarás" é um dos mais evidentes, aquele que qualquer leitor certamente saberá dizer, mas quais são os restantes? E será que a sua ordem até importa, ou é somente relevante que todos eles sejam cumpridos? Há neles um segredo que muitos ignoram, mas que pode ajudar a decifrar esse problema. Vamos a isso?

Os Dez Mandamentos em duas tábuas - porquê?!

Na imagem acima, retirada do famoso filme Os Dez Mandamentos com Charlton Heston, Moisés tem nas mãos duas tábuas da lei, um elemento igualmente constante no texto bíblico (ver, por exemplo, Livro do Êxodo 34:1-4). Mas porquê a necessidade de duas tábuas, em vez de apenas uma (que até poderia ser inscrita dos dois lados), ou de dez pequenas tabuinhas? O segredo prende-se precisamente com essa resposta. Ao serem lidos, com atenção, os dez mandamentos, rapidamente se nota que podem ser divididos em duas categorias distintas:

 

Se foi Deus a enviá-los, faz sentido que recorde o seu papel passado ("Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito", cf. Livro do Êxodo 20:1), antes de dizer que só ele deverá ser venerado e que dele não devem ser feitas imagens. Prossegue, depois, dizendo que o seu nome também não deverá ser evocado em vão, e que o sabbath [judaico] a ele deve ser dedicado. Ou seja, estes quatro primeiros mandamentos, os da primeira tábua, são dedicados à relação do homem com a figura divina, dizendo-nos como esta deverá ser venerada.

Prossegue-se depois com os mandamentos da segunda tábua, que contêm as regras que os homens devem seguir entre eles. Honrar pai e mãe, primeiro que tudo, como elementos essenciais da família; depois, não matar (que seria o essencialmente para com aqueles que não pertencem à nossa família), não cometer adultério, não roubar, não levantar falsos testemunhos, nem cobiçar o que é dos outros (i.e. não fazer quaisquer actos que destruam famílias). Ou seja, resumidamente, não fazer nada que prejudique a comunidade no seu todo.

 

O que tem isto de especial? Séculos mais tarde, quando confrontado por um doutor da lei, Jesus Cristo referiu somente dois grandes mandamentos - "Amar a Deus sobre todas as coisas" e "Amar o próximo como a ti mesmo" (cf. Evangelho Segundo Mateus 22:35-40). Esses mandamentos nada têm de novo, não sendo mais do que o resumo do conteúdo presente nas mesmas duas tábuas da lei, a que séculos mais tarde os Islâmicos até viriam a chamar, respectivamente, "A Tábua da Aliança" e "A Tábua do Testemunho".  A sua ordenação interna é secundária face à sua grande lição - respeito para com Deus e para com o próximo!

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