Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Mitologia em Português

28 de Setembro, 2018

Ruínas Romanas de Milreu

Principiam hoje as "Jornadas Europeias do Património". Para as celebrar, apresentamos aqui um espaço romano que é menos conhecido em Portugal.

Ruínas Romanas de Milreu

Conforme a informação histórica que nos foi gentialmente cedida pela Direcção Regional de Cultura do Algarve:

 

As Ruínas Romanas de Milreu constituem um exemplo de villa rústica, cuja origem esteve ligada ao crescimento económico do Império Romano no século I e que, no século III, se tornou numa luxuosa residência de campo.
A villa de Milreu era composta por extensa área agrícola e zonas de produção de azeite e vinho, onde trabalharia a população local. A zona possui bons aquíferos, situa-se nas proximidades da cidade de Ossonoba, actual Faro e do seu porto, onde a produção agrícola seria comercializada.
A área residencial dos proprietários viria a adquirir uma expressiva dimensão a partir do século III e no século IV, com a criação de uma zona social ampla, com acabamentos de qualidade, como a aplicação de mármores, pavimentos de mosaicos e paredes com pinturas.
O templo dedicado às divindades aquáticas, padroeiras de abundância e saúde, foi erguido no século IV. No século VI o edifício foi cristianizado. No pátio foi descoberto um tanque baptismal rectangular e o recinto foi utilizado como cemitério. No século X, uma inscrição em árabe gravada numa coluna revelou a continuidade de utilização do edifício como espaço religioso pela comunidade muçulmana local.

 

As Ruínas Romanas de Milreu estão classificadas como Monumento Nacional desde 1910. Compõem-se de uma grande casa senhorial ou Pars urbana, complexo de termas ou Balneum, lagares de vinho e azeite, instalações agrícolas e um templo consagrado a divindades aquáticas.

Os vestígios arqueológicos ocupam uma área aproximada de 15.800 m2, composta por muros, pavimentos, tanques, desníveis, sistemas de canalização e arranques de abóbada com diversos revestimentos como rebocos, pinturas parietais ou mosaicos. Estes elementos representam a evolução construtiva da “Villa” romana de Milreu entre os séculos II e IV d. C. e vestígios de ocupação humana até ao século VI um dos monumentos de maior valor artístico, arqueológico e patrimonial do Algarve.

 

Fica então o nosso convite a que também sejam visitadas estas ruínas romanas. Mais informação sobre elas pode ser encontrada aqui.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
25 de Setembro, 2018

"Cena de Cipriano", atribuída a São Cipriano

Cartaz do filme "O Nome da Rosa"

É provável que já tenham ouvido falar desta Cena de Cipriano, atribuída a São Cipriano de Cartago (que não deve ser confundido com o outro santo do mesmo nome, Cipriano o Mago), em particular devido ao papel que tem na novela O Nome da Rosa, de Umberto Eco. Mas, afinal de contas, do que fala ela? Essencialmente, trata-se de um jocoso banquete de casamento, em que um rei convidou as mais diversas figuras bíblicas para participar. Depois, a cada nova acção do rei essas figuras respondem das mais diversas formas. Até aqui não de muito novo, ou particularmente interessante, não fosse o facto dessas acções nos remeterem, de forma disfarçada, para as características e episódios bíblicos de cada uma delas.

 

Vamos a três pequenos exemplos? Numa dada altura são oferecidas novas roupas aos convidados; Jesus toma uma veste com a cor de uma pomba, remetendo-nos para a figura do Espírito Santo. Mais à frente, aos convidados é pedido que reajam de forma contrário à habitual; Caim morre, em vez de matar alguém, numa alusão ao famoso episódio bíblico em que matou o irmão. Finalmente, depois de beber algum vinho Judas trai alguém, numa referência tão óbvia que dispensa maiores apresentações.

 

De uma certa forma, este texto é uma espécie de "quem é quem?" dos textos bíblicos, em que em detrimento de se perguntar "Tem óculos? Tem cabelo castanho? Tem olhos azuis", somos instados a interrogar-nos sobre relações como "Porque razão José corta uma árvore? Que têm Adão e um figo em comum? Porque se senta Pedro próximo de um galo?". Estas são respostas fáceis de dar, para quem conhecer minimamente o cânone bíblico, mas muitas outras das apresentadas indirectamente na obra implicam um conhecimento muito maior das personagens e respectivas históricas. Por isso, por muito que seja uma obra com uma certa piada - como já O Nome da Rosa nos indicava - não é de leitura simples.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
23 de Setembro, 2018

Não são só os textos antigos que se perdem...

Muitos são os textos, e até algumas sequências mitológicas, que se perderam nos tempos que nos separam da Antiguidade. Disso já aqui foi falado por múltiplas vezes, mas exemplos de coisas semelhantes continuam a acontecer nos nossos dias. Para dar um exemplo engraçado, abaixo podem ser encontradas duas músicas de filmes da Disney que foram produzidas até um determinado ponto mas que, posteriormente, foram abandonadas e não apareceram nas versões finais das respectivas produções cinematográficas.

 

 

É natural que, ao longo dos tempos, estas (outras) músicas se vão perdendo, eventualmente resumindo-se a nada mais do que referências como "O filme X apresenta uma música sobre Y, mas está hoje perdida". Em coisas como estas, infelizmente, parece que a humanidade ainda não aprendeu a melhor forma para preservar parte da sua identidade cultural.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
21 de Setembro, 2018

Os cavalos lusitanos nascem dos ventos?

Diversas são as fontes da Antiguidade que nos contam algo curioso - existiam em terras da Lusitânia éguas que engravidavam somente por causa dos ventos. O episódio é localizado perto de Olisipo e do Rio Tejo; Varrão coloca-o no "Monte Tagro", Columela diz que o local era o "Monte Sagrado", enquanto que as fontes posteriores nada de muito útil adicionam em relação ao local em que tamanho prodígio tomava lugar. Onde seria? É provável que se tenha tratado de Sintra, até pelas enormes ventanias que existem próximas dessa serra. Mas, ainda assim, ninguém parece ter uma absoluta certeza... mas isso bem justificaria a sua fama!

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
19 de Setembro, 2018

A lenda de Machim e Ana D'Arfet

A lenda de Machim e Ana D'arfet é uma de aquelas que tenta explicar a origem do nome de um local, neste caso Machico, um dos municípios da Madeira. Em si próprio, este nome poderá parecer-nos estranho, e daí terá nascido uma potencial necessidade de o explicar.

A lenda de Machim e Ana D'arfet

Assim, esta lenda conta-nos que em meados do século XIV viveu em Inglaterra um tal Roberto Machim, que se apaixonou por uma Ana D'Arfet*. Não sabemos até que ponto se terão tratado de personagens históricas, mas a sua história diz que a família da jovem não permitiu qualquer união entre os dois amados, em vez disso escolhendo um outro noivo para Ana. Incapazes de aceitar esse triste destino, decidiram fugir de Inglaterra para França, mas o barco foi apanhado numa enorme tempestade e levado (muito) para fora do rumo que pretendiam seguir.

Na manhã seguinte, depois de muitas horas de medo e de viagem, chegaram ao areal de um local desconhecido. Não encontraram ninguém por lá e Ana adoeceu. Veio a falecer, algum tempo depois, e então Machim escreveu toda esta história numa cruz de madeira, que os Portugueses viriam a encontrar alguns anos mais tarde. Foi em sua virtude que deram à região o nome de Machico, e aí construíram o primeiro edifício de toda a ilha, uma igreja, com o seu altar colocado no mesmíssimo local onde se encontrou o túmulo dos dois amantes.

Outra versão, partilhada pela mais antiga que nos chegou, adiciona um passo extra a esta história - ambos os amantes morreram, mas pelo menos um dos seus companheiros no barco foi posteriormente capturado por Mouros. Após muitas tribulações chegou a Portugal e anunciou ao Infante Dom Henrique a ilha que tinha visto; este enviou embarcações ao local, sendo a Madeira finalmente descoberta por navegadores de Portugal no ano de 1418.

 

Não sabemos onde acaba a ficção e começa a realidade nesta lenda de Machim e Ana D'Arfet, mas há aqui um facto muito claro - o nome de Machico, qualquer que tenha sido a sua origem, é invulgar na cultura portuguesa. Terá, portanto, tido uma origem incomum, e a hipótese de ter nascido por corrupção de algum nome estrangeiro, como o referido na lenda, é por isso válida. Não sabemos se completamente certa, é claro, mas pelo menos é uma hipótese credível e que poderá ser tida em conta por aqueles que buscam a causa desse estranho nome - e, na verdade, toda esta história já aparecia num relato que se atribui a Francisco Alcoforado, um dos navegadores da primeira viagem à Madeira, o que lhe dá uma ainda maior aparência de se ter baseado em alguns factos reais...

 

 

*- Outras versões, incluíndo a mais antiga que conseguimos encontrar (i.e. ainda do século XV), dá-lhes os nomes alternativos de Lionel Machim e Arabella Darcy.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
17 de Setembro, 2018

"Catomiomaquia", de Teodoro Pródromo

Também conhecida sob o nome de "A Batalha dos Gatos e dos Ratos", esta Catomiomaquia de Teodoro Pródromo é uma pequena obra satírica que nos apresenta uma batalha de vários ratos contra um gato, num estilo que é quase homérico, chegando a nela existir até referências notáveis a momentos da Ilíada e da Odisseia. Os deuses não estão muito presentes (aparecem, essencialmente, num sonho/profecia de um dos ratos e nas invocações que precedem o combate), mas esta obra do século XII merece ser mencionada é pelo seu carácter paródico. Não é única na literatura bizantina, mas é curioso exemplo do que aí foi sendo produzido ao longo dos séculos.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
12 de Setembro, 2018

Citações de autores da Antiguidade Clássica no Novo Testamento

Ao leitor comum a ideia até poderá parecer um tanto ou quanto estranha, mas existem citações de autores da Antiguidade Clássica nos textos do Novo Testamento. Não são muito fáceis de notar - talvez até seja mais fácil referi-las como alusões, mais do que citações directas, na medida em que os autores originais nunca são mencionados pelo nome - até porque se presume que não sejam muitas as pessoas que decidem "caçá-las", mas deixamos aqui três pequenos exemplos:

Autores da Antiguidade Clássica no Novo Testamento

  • Actos dos Apóstolos 17:28, a citação provém dos Fenómenos de Arato
  • Primeira Epístola aos Coríntios 15:33, a citação provém de Menandro
  • Epístola a Tito 1:12, é citado um famoso provérbio relativo aos Cretenses

 

Estes três exemplos permitem-nos compreender que o autor das epístolas tinha, pelo menos, algum conhecimento da literatura grega... mas será que conhecem alguns outros exemplos de citações de autores da Antiguidade na Bíblia?

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
10 de Setembro, 2018

Uma pintura da queda de Tróia na Biblioteca Nacional de Portugal

Incêndio de Tróia

Na imagem acima pode ser vista uma pintura representando a queda de Tróia que é hoje pertença da Biblioteca Nacional de Portugal (mais informação pode ser lida clicando na imagem), e que parece ser datada do século XVII. O que ela tem de especial é mesmo o facto de representar a queda da cidade recorrendo aos seus elementos mitológicos mais famosos:

  1. A torre da cidade, onde ocorreram diversos diálogos e de onde Astíanax foi atirado.
  2. As famosas muralhas que protegiam Tróia.
  3. O Cavalo de madeira, usado pelos Gregos para a invasão da cidade.
  4. (Provavelmente) O templo em que estava guardado o Paládio.
  5. Os esgotos da cidade, por onde Ulisses entrou aquando do roubo do Paládio.
  6. Eneias, com o pai às costas e o filho a seu lado.
  7. O barco que Eneias irá tomar para escapar de Tróia.
  8. Um enorme edifício em chamas, podendo tratar-se do palácio real.

 

Esta é uma representação da queda de Tróia tal como esta acontecia na Eneida, focando-se mais na dor dos derrotados do que na felicidade dos vencedores. Os Gregos, esses, remetem-se a meros vultos que saem do cavalo, como que anunciando, desse lado esquerdo, a destruição posteriormente concretizada no resto da pintura. É um quadro repleto de significado, de que esperamos que gostem!

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
06 de Setembro, 2018

"Elementos Mágicos", de Pedro de Abano

Quando, numa qualquer série de televisão, as personagens são vistas durante um ritual mágico, normalmente desenham algo deste género:

Trata-se, essencialmente, de um círculo com alguns desenhos e escritos no seu interior, mas o que significa? Obviamente que nestas artes místicas muitas são as possíveis respostas, mas é disso que fala a obra Elementos Mágicos, de Pedro de Abano. Ele insta os leitores a desenharem um círculo, símbolo da unidade divina, no qual depois devem ser inscritos determinadas formas e palavras, que variam mediante o dia da semana e a hora em que o ritual é realizado. É uma obra pequena, mas com bastante informação interessante para quem quiser explorar temáticas como estas.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
03 de Setembro, 2018

Porque cheiram os cães os rabos alheios?

Cão a cheirar o rabo de um companheiro

Quem tiver cães certamente que já os viu a cheirarem os rabos alheios... mas porque o fazem? Quem nunca se interrogou sobre esse invulgar comportamento?

 

Essencialmente, contam-nos as fábulas de Fedro que, numa dada altura, os cães enviaram uma embaixada ao pai dos deuses, procurando uma vida melhor para a sua espécie. Porém, quando estes embaixadores viram os deuses com os seus próprios olhos, "descuidaram-se".

Passado algum tempo, e sem que voltassem a ver os embaixadores originais, os cães decidiram enviar um segundo grupo aos deuses. Para impedir que o mesmo voltasse a acontecer, colocaram perfumes nos traseiros dos embaixadores; mas também a nova embaixada, quando viu o poder e o horrendo som dos relâmpagos de Júpiter, fez o mesmo, deixando não só os seus dejectos mas também o perfume no local.

Júpiter, zangado, decidiu então que os cães iriam manter a vida que tinham, ou seja, que iriam passar muita fome, de forma a que não tornassem a cometer o mesmo erro que duplamente tinham feito.

 

Porque cheiram então os cães os rabos alheios? Segundo Fedro, fazem-no provavelmente na esperança de que, quando vêem um cão que nunca viram antes, reconhecerem-nos como parte dos potenciais embaixadores que enviaram aos deuses, e dos quais ainda esperam vir a ter notícias.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!