29 de Outubro, 2018
Sonetos de Camões (VI)
O filho de Latona esclarecido,
Que com seu raio alegra a humana gente,
Matar pôde a Pitónica serpente
Que mortes mil havia produzido.
Feriu com arco, e de arco foi ferido,
Com ponta aguda de ouro reluzente:
Nas Tessálicas praias docemente
Por a ninfa Peneia andou perdido.
Não lhe pôde valer contra seu dano
Saber, nem diligências, nem respeito
De quanto era celeste e soberano.
Pois se um deus nunca viu nem um engano
De quem era tão pouco em seu respeito,
Eu que espero de um ser, que é mais que humano?
(Soneto CXXXVII)
O sujeito poético, como Apolo neste mito, parece sentir algum desespero pela sua situação.