Desde os tempos da Antiguidade, passando pela Idade Média e até aos nossos dias, que algumas crenças mágicas se mantiveram relativamente estáveis. A ideia de talismã, enquanto uma espécie de objecto com poderes sobrenaturais (e, frequentemente, de protecção) é uma dessas crenças, que já aparece atestada em papiros mágicos egípcios e que, ainda assim, continua a ser usada nos nossos dias. O que hoje aqui trazemos é uma espécie de talismã, mas de conteúdo cristão:
São Pedro sentou-se numa pedra e chorou. Cristo apareceu-lhe e perguntou, "Pedro, porque choras tu?" Pedro respondeu, "Senhor, doem-me os dentes". Então, o Senhor ordenou à minhoca no dente de São Pedro que daí saísse e que nunca tornasse a entrar. Mal a minhoca saiu, a dor parou. Então, Pedro disse: "Peço-te, ó Senhor, que quando estas palavras forem escritas e um homem as levar consigo, nunca sinta dor de dentes." E o Senhor respondeu, "Boa ideia, Pedro; assim seja!"
Muito poderia ser escrito sobre estas breves linhas, mas atente-se especificamente no carácter cristão das mesmas. Surgem São Pedro e Jesus Cristo, quase num vácuo, e a figura miraculosa do segundo é aqui vista exclusivamente como uma resolução para o problema do primeiro. E depois, surge uma promessa - como Pedro foi curado, também qualquer outro crente de igual fé o viria a ser. É um claro exemplo da crença segundo a qual existe uma relação cósmica entre a situação apresentada no talismã e aquela que o crente estava a viver - e que, por isso, como a primeira delas foi resolvida, também a segunda o seria.
Mas porquê São Pedro e Jesus Cristo? Exemplos semelhantes a estes abundam no decorrer dos séculos, e mais importante do que as figuras em questão é o seu carácter; aqui, bastaria uma figura que sofra e que tenha fé (que é Pedro, mas poderia ser João, ou Paulo, ou até um crente anónimo), e alguém capaz de o curar, que é Jesus, mas poderia ser Apolo ou Diana. Mudam-se, por isso, os nomes, mas a ideia presente no próprio talismã mantém-se, por seguir uma lógica que parece natural à humanidade, e que ainda seguimos, com ideias como "Ele tinha tosse, tomou o medicamento X e ficou curado; eu também tenho tosse, vou tomar o mesmo e também o ficarei", mas esquecendo que as coisas nem sempre são assim tão simples...