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Mitologia em Português

29 de Abril, 2019

Uma possível origem da "Menopausa"

Existem alguns momentos estranhos na criação deste espaço. Aqueles que, de tempos a tempos, até nos fazem rir um pouco, pela sua singularidade. Este é, de certa forma, um deles.

 

O dicionário da Priberam diz-nos que a palavra menopausa tem por origem dois vocábulos gregos, "menós" e "pausa", sendo que o primeiro significava mês (o segundo tem o mesmo significado que nos nossos dias). A situação ficaria por aqui, não fosse o facto de Varrão nos informar que Júpiter também tinha uma filha chamada Mena. A que presidia ela? Ao fluxo menstrual, juntamente com a nora, Juno (infelizmente, desconhecemos a identidade da mãe).

 

Não somos informados de qualquer mito associado a Mena, mas é sem dúvida possível que a menopausa tenha recebido essa designação por marcar o término da influência desta deusa. Ou então, que a própria deusa tenha obtido o seu nome do conceito grego. Em qualquer dos dois casos, não deixa de ser uma ideia que fascina, pelo facto de muitos vocábulos dos nossos dias ainda esconderem antigos deuses no seu interior...

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26 de Abril, 2019

"Sobre as Mulheres Famosas", de Giovanni Boccaccio

Niobe e Anfion

Nesta obra, Boccaccio apresenta-nos breves biografias de 106 mulheres, contando-se entre elas um grande número de figuras mitológicas - Ceres e Minerva, Isis, Europa, Medeia, Jocasta, ou Helena de Tróia, entre muitas, muitas outras. Mas, com a excepção notável de Eva, figuras mais ligadas ao Cristianismo estão totalmente ausentes da obra, como também o estão de outra obra do mesmo autor, Sobre os Destinos dos Homens Famosos.

 

Mas, mais do que uma obra de carácter biográfico, este é um texto com uma intenção moralizante, já que pelo exemplo de todas essas mulheres o autor pretende demonstrar um conjunto de características que já não encontrava no sexo feminino dos seus dias. Para mencionar um único caso, numa dada biografia é exaltada a eterna fidelidade de uma determinada heroína, antes de serem criticados os múltiplos casamentos das mulheres do seu tempo.

 

Finalmente, uma referência inesperada - a Papisa Joana é uma das mulheres cuja biografia aparece constante nesta obra, sendo ela tratada como uma figura totalmente real. Será que o foi? Essa é uma questão que, como antes, preferimos deixar para os leitores.

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25 de Abril, 2019

O Chupa-cabra existe?

Para quem não conhecer esta pequena história, o Chupa-cabra... bem, é uma figura tão conhecida no Continente Americano, em particular nos EUA e no México, que o nosso dicionário até lhe dedica um artigo, definindo esta criatura com os seguintes contornos: "Animal ou entidade que é considerado responsável pela morte misteriosa de animais domésticos, nomeadamente de cabras, no continente americano, em especial na América Central e América do Sul." A esses elementos apenas adicionaríamos um elemento importante - mata os animais, sim, mas supostamente fá-lo chupando a totalidade do seu sangue, e daí vem o seu nome, como é natural.

O Chupa-cabra existe?

Mas será o Chupa-cabra um animal real? Uma publicação recente, que pode ser lida aqui para quem estiver interessado no tema, dá a entender que até poderá existir um conjunto de fundamentos reais por detrás das histórias associadas a esta criatura. Nesse contexto, estará Benjamin Radford correcto nas suas conclusões? É possível que sim, mas deixamos a resposta final aos leitores.

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22 de Abril, 2019

Virgílio e a "Divina Comédia"

Muitos são os mistérios que se escondem nos versos da Divina Comédia, mas hoje focamo-nos na ideia de Virgílio - o mesmo que escreveu a Eneida, entre outras obras - enquanto guia de Dante. Porquê ele, e não Homero, ou Ulisses, ou Eneias, ou uma Sibila, ou até alguma outra figura mais ligada aos conhecimentos do submundo?

 

Não é uma resposta simples, nem uma que se possa sequer dar com 100% de certezas, mas sabemos é que na Idade Média Virgílio era visto como um mago, talvez até como uma das mais famosas figuras mágicas do sexo masculino. Isso poderá dever-se ao facto de as suas obras conterem profecias, uma delas até (supostamente) relativa à vinda de Cristo. Se, então, se acreditava que ele tinha conhecimentos sobrenaturais, faria por isso algum sentido que fosse uma figura pagã indicada para apresentar o mundo dos mortos a um potencial visitante.

 

Mas será, sem qualquer dúvida, esta a razão pela qual Virgílio foi o escolhido? Realisticamente, não sabemos. O seu papel na Comédia poderá ter sido tanto uma consequência, como uma causa, da sua fama enquanto mago. Porém, também poderá ter sido escolhido por se tratar do mais famoso poeta latino de então e, por isso, um bom modelo para o próprio Dante. Muitas outras poderão ter sido as razões, mas as aqui apresentadas são aquelas que, de um modo geral, nos parecem as mais lógicas.

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18 de Abril, 2019

A lenda de Linda-A-Velha (e Linda-A-Pastora)

Perto da cidade de Lisboa existe uma pequena povoação de nome Linda-A-Velha. Uma tão-invulgar designação tende a suscitar a curiosidade daqueles que por lá passam - por isso, pergunte-se, qual a origem deste estranho nome?

Pequena torre perto de Algés

Conta-nos uma versão da lenda que nessa povoação, entretanto ainda sem nome, vivia uma jovem lindíssima. Habitava uma torre semelhante à da imagem, e por muitos homens que buscassem o seu amor, ela rejeitava-os a todos. Um dia, conheceu um formosíssimo cavaleiro e apaixonou-se por ele. Viveram alguns tempos do mais intenso amor, até que um dia ele teve de voltar para uma qualquer guerra. Aguardando sempre pelo retorno do seu amado, a jovem colocou-se à janela e fitou o Tejo.

O tempo foi passando e a jovem tornou-se mulher, continuando a aguardar que o seu amado voltasse.

E o tempo passou, e passou, e passou. A mulher tornou-se velha, mas continuou sempre a vigiar o Tejo, com uma infinita esperança de que aquele homem que amava um dia voltasse para os seus braços. Enquanto isso, abaixo da sua janela passavam jovens todos os dias, que, fitando o rosto sempre miraculosamente imaculado da velha, jamais se cansavam de dizer " Que linda a velha!" - e assim foi sendo dado o nome ao local em que a formosa e famosa amante um dia viveu, a terra de Linda-A-Velha...

 

Mas esta não é a única lenda associada ao local. Uma outra diz que o seu nome original era [A]Ninha-a-Velha, pelo facto de um qualquer rei, de identidade agora desconhecida, supostamente ter passado no local e, ao ver uma velha que passava muito frio, ter ordenado a alguém que "aninhasse" - ou seja, desse um agasalho - a pobre idosa. É uma de muitas lendas nacionais que, como a de Benfica, tenta explicar um topónimo através de alguma frase enigmática que se pensava que um monarca tinha dito no local...

 

E... Linda-A-Pastora?

Próxima da localidade anterior pode também ser encontrada uma com o curioso nome de "Linda-A-Pastora". Não fomos capazes de encontrar uma lenda completa que explique esse nome, mas uma breve alusão que lhe é feita por Leite de Vasconcelos poderá indicar que a designação era anteriormente explicada relatando-se o caso de um homem que abandonou a esposa e foi viver para o Brasil, voltando muitos anos mais tarde, e encontrando no local em que tinha vivido uma belíssima pastora... sem a reconhecer, disse então "Que linda, a pastora!", contribuindo para dar esse apelativo ao local onde reencontrou a antiga esposa.

 

A semelhança desta lenda com a anterior é inegável, sendo por isso provável que existissem em redor deste local várias lendas muito semelhantes, em que uma mesma explicação era aplicada ou a uma pastora jovem, ou a uma velha de beleza intemporal. É muito difícil saber qual veio primeiro, mas estas parecem ser as duas principais lendas que se associam a estes locais geograficamente muito próximos!

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16 de Abril, 2019

O Mosteiro dos Jerónimos destruído

Quem estiver habituado a incursões pela internet provavelmente já terá visto uma fotografia do Mosteiro dos Jerónimos destruído. Repetimo-la abaixo, para quem nunca a tiver visto antes, mas recordamos também este tema dada a gravidade do que aconteceu em Paris recentemente.

No já-distante século XIX o agora-famoso Mosteiro dos Jerónimos tinha estado abandonado durante vários anos, após a expulsão das ordens religiosas de Portugal. Depois, numa dada altura decidiu começar-se a utilizá-lo para outros fins, e então tentou-se renovar e melhorar toda a estrutura do edifício. Mas depois, na manhã de 18 de Dezembro de 1878, aconteceu o seguinte:

Mosteiro dos Jerónimos Danificado

Como podem ver nesta imagem, o mosteiro estava a ser parcialmente reconstruído quando choveu bastante durante a noite, o que levou a um grande acidente, na sequência do qual acabaram por falecer oito trabalhadores. Nos dias seguintes acabou por se votar contra a reconstrução do edifício como este estava planeado, mas a realidade é que o Mosteiro dos Jerónimos, com ligeiras alterações, ainda chegou aos nossos dias e é famoso entre todos nós - na imagem seguinte até pode ser vista a mesma entrada deste mosteiro, tal como ela é nos nossos dias, o que permite ver algumas das alterações que estavam a ser implementadas e que, no entanto, acabaram por não ter lugar - por exemplo, acima da janela do piso superior ia ser colocada uma estátua de um santo, e esta parte do edifício também ia ter um pináculo na sua parte superior...

Entrada do Museu Nacional de Arqueologia

Como este nosso Mosteiro dos Jerónimos nacional, é possível que também a bela Catedral de Notre-Dame (de que até já cá falámos de um segredo) volte a ter vida um dia. Claro que já não será como antes, mas... há que ter esperança no futuro!

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15 de Abril, 2019

Um feitiço de amor, provindo de papiros mágicos gregos

Um exemplo de papiro mágico egípcio

Na nossa cultura ocidental, eminentemente cristã, existe um certo tabu em relação ao acesso a um conjunto de conhecimentos supostamente místicos. Mas, ao mesmo tempo, certamente que vários leitores também têm curiosidade sobre o conteúdo de rituais como esses. Nesse sentido, o que hoje trazemos aqui é uma tradução de um ritual provindo de papiros mágicos gregos, que presumimos que ainda não exista em língua portuguesa e acessível ao público em geral. Aqui está descrita a fórmula basilar do ritual, mas onde está escrito "NOME" deveriam, naturalmente, ser adicionados os nomes das pessoas em questão.

 

Feitiço de atracção enquanto a mirra está a ser queimada. Enquanto a mirra está a ser queimada no carvão, recite a seguinte fórmula:

 

Páginas e páginas poderiam ser escritas em relação a este ritual, mas cingimo-nos aos elementos mais básicos - trata-se de um ritual de amor, em que o seu autor procurava causar a paixão amorosa de uma determinada mulher. Para tal, é invocada uma divindade, cuja influência sobrenatural é procurada por quem realiza todo o processo. Perto do final, estão até aqui presentes as chamadas "vozes mágicas", um conjunto de nomes e expressões sem tradução real e que, supostamente, eram segredos muito bem guardados, até porque sem eles a invocação nunca poderia funcionar.

 

Rituais como estes assentam sempre numa fórmula de duas partes, composta por algo que tem de ser feito (aqui, a queima da mirra) e por algo deve ser dito (a fórmula acima), pelo que os elementos aqui constantes ocorrem em muitos outros rituais, independentemente das mais diversas funções que pretendiam ter. Portanto, este é um digno representante dos feitiços criados na Antiguidade, e que esperamos que resolva essa curiosidade de muitos leitores em relação aos processos mágicos de outros tempos.

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12 de Abril, 2019

A "Tábua de Cebes"

Tábua de Cebes

Conta-nos a breve trama desta Tábua de Cebes que, um dia, alguns homens foram a um templo de Cronos e aí encontraram um ex-voto com uma imagem semelhante à mostrada acima (se carregarem na imagem acima poderão vê-la maior e com mais detalhe). Ficaram tão intrigados como o leitor provavelmente ficará, mas, felizmente, apareceu-lhes um idoso que foi capaz de lhes explicar toda a simbologia presente neste estranho documento. Para quem tiver essa curiosidade, a Tábua de Cebes é essencialmente uma metáfora para a vida, cujos contornos mais precisos seriam demasiado longos para explicar nestas breves linhas.

 

Esta Tábua de Cebes é, de facto, um texto interessante, apesar de parcialmente incompleto, e que parece captar perfeitamente aquele grande mistério que é a nossa vida, tanto em tempos da Antiguidade como nos próprios dias de hoje. Fica, por isso, o nosso convite a que o texto original seja lido, até porque fazê-lo também não toma muito tempo e dá um bom fundamento para uma discussão filosófica muito significativa. A obra pode ser encontrada, em tradução inglesa de inícios do século XX, neste endereço.

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10 de Abril, 2019

"As lendas do sobrenatural da região do Algarve"

Uma Moura Encantada

As lendas do sobrenatural da região do Algarve é uma tese de doutoramento, da autoria de Maria Manuela Neves Casinha Nova e defendida em 2013, que tem um duplo interesse para os amantes dos mitos e lendas nacionais. Apesar de se referir somente a produções lendárias algarvias, algumas das quais inéditas até então, estuda os seus vectores essenciais num primeiro volume e apresenta os seus relatos mais directamente num segundo.

 

Os dois volumes desta tese podem ser encontrados aqui, e são uma leitura inesperada para todos aqueles que têm interesse nas lendas de Portugal.

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08 de Abril, 2019

Como morreram os deuses gregos?

Como morreram os deuses gregos, como foi o seu fim? Provavelmente na sequência de jogos como God of War, já muitos foram os leitores que procuraram neste espaço mitos relativos a esse evento. A famosa morte de Zeus já aqui foi falada há muitos anos, mas achámos que já era hora de responder a essa pergunta - afinal de contas, como morreram os deuses gregos?Estatuetas dos deuses gregosPara responder a essa questão importa, antes de tudo o resto, saber dividir o panteão grego em três grupos diferentes, cada qual com as suas características e destinos bem diferentes.

 

Em primeiro lugar surgem aquelas divindades que são completamente eternas, até pelo facto de a sua presença nos mitos ser muito limitada ou quase inexistente. Figuras como o Caos e Gaia (da Teogonia de Hesíodo), o Motor Imóvel de Aristóteles ou, de um modo mais geral, todas aquelas figuras anónimas por detrás da criação dos vários universos gregos e romanos, nunca morrem, até porque a sua existência é quase puramente etérea.

 

Num segundo lugar poderíamos colocar os mais famosos deuses, figuras como Zeus, Atena, Ares, Afrodite ou Apolo. Quase todos os mitos que temos se referem a eles como imortais, eternos, as únicas entidades que nasceram mas que nunca irão morrer. Porém, o nosso "quase" tem uma forte razão de ser - de acordo com ideias como as de Evémero, nada de divino existia nessas figuras, tratando-se apenas de seres humanos que após a morte, por uma ou outra razão, foram divinizados por aqueles que os conheceram. E, como tal, se quisermos acreditar nessas teorias (de que o exemplo particular de Dioniso é digno de nota - Dinarco até afirma que ele tinha morrido em Argos e sido sepultado em Delfos), os deuses gregos só se tornaram divindades quando o seu corpo físico faleceu, sendo eternos somente na cabeça daqueles que os veneravam como tal.

 

Em terceiro, e último, lugar, poderão então ser colocados alguns dos heróis gregos. Acreditando-se que existiram na carne, só depois da morte física - e somente em alguns casos, frise-se essa excepção - é que foram tornados divindades, às quais alguns crentes prestavam culto. São muito famosos os casos de Herácles e de Aquiles, mas algo de semelhante se passou com Castor e Pólux, Anfiarau, etc. E, nestes casos, a morte (física) naturalmente que precede a própria conversão à forma de deuses, altura em que estas figuras desaparecem quase completamente dos mitos.

 

Então, sumariamente, como morreram os deuses gregos? Não é uma questão simples, mas uma que só pode ser resolvida tendo em conta os elementos muito específicos de cada figura divina. O destino final de Phobos e Deimos, de Hermes e Poseidon, ou até de Mémnon e Ceneu, não podem ser vistos de uma forma brevemente horizontal. Por exemplo, que deus nos poderia parecer mais imortal do que Hades, figura tutelar dos mortos e do submundo? E, ainda assim, Pseudo-Clemente, na sua quinta epístola, refere um túmulo deste deus próximo do Lago Aquerúsia, em Itália...

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