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Mitologia em Português

31 de Maio, 2019

"Amadis de Gaula" e os infindáveis filhos das figuras da Antiguidade

Amadis de Gaula foi provavelmente o mais famoso de todos os romances de cavalaria produzidos na Península Ibérica. Resumi-lo num punhado de frases soar-nos-ia redutor, mas podemos referir que se trata da história da belíssima Oriana e das muitas aventuras pelas quais Amadis passou em sua honra. E é, de facto, sobre uma dessas aventuras em que hoje nos focamos. Num dado momento Amadis foi capturado por Briolanja, que o amava e que dele desejava ter um filho. Mas será que o herói cedeu às tentações da carne, gerando um rebento com ela?

Capa de Amadis de Gaula

A sua amada Oriana pensou que sim, mas o texto do romance não deixa essa informação totalmente clara. Pelo menos uma das edições a que tivemos acesso parece dar a entender que, originalmente, nada de errado se tinha passado entre as duas personagens, mas também acrescenta que o episódio de Amadis de Gaula em questão foi alterado por ordem do "Infante Dom Afonso de Portugal" (i.e. o filho de Dom Dinis), de forma a dar uma prole compassiva à solitária Briolanja.

Isto é possível de se fazer porque, quase certamente (que nestas coisas nunca podemos ter uma certeza absoluta), Amadis, Oriana e Briolanja se tratavam de personagens ficcionais. Nunca tiveram uma existência fora do campo da ficção, e como tal podem ter as suas existências alteradas como melhor se encaixar na trama. Se um dado editor lhes quisesse, por exemplo, dar 20 filhos e encenar uma batalha de todos eles contra o próprio pai, nada o impediria de o fazer.

 

Voltemos então à Antiguidade, a uma figura como Ulisses. Será que teve filhos de Circe e de Calipso? Por muito que os Poemas Homéricos nos possam levar a uma resposta em particular, absolutamente nada impediria autores posteriores de alterar a história, para que esta se inserisse melhor nos seus objectivos individuais. Desde que respeitassem algumas regras - por exemplo, a virgindade perpétua de Ártemis ou de Atena não deveria ser violada, e seria estranha a existência de um Zeus totalmente fiel à esposa - podiam fazer tudo o que desejassem com as personagens que tinham em mãos. Assim se compreendem as divergências de informação que se encontram em determinadas fontes; uma figura como Príamo podia ter tantos filhos e filhas como necessário para a história. E, nesse sentido, não existe uma resposta certa ou errada ao número e identidade de uma descendência - Amadis, como Ulisses, Édipo, ou qualquer outra figura ficcional, podem ter (e até deixar de ter) filhos e filhas, em número tão grande e diverso como a trama requeira. E, mesmo assim, Oriana e Penélope, como tantas outras heroínas, só seriam traídas se os autores assim o desejassem. Bastaria torná-lo real com palavras ditas ou escritas.

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27 de Maio, 2019

"Os Centauros", um filme (parcialmente perdido) de Winsor McCay

"Os Centauros", um filme (parcialmente perdido) de Winsor McCay

Este pequeno filme, datado de 1921, nunca foi terminado ou exibido comercialmente, só tendo chegado aos nossos dias numa forma fragmentária. Contudo, pelo charme que demonstra, decidimos recordá-lo aqui hoje.

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25 de Maio, 2019

A mitologia do Senhor dos Anéis

O tema da mitologia do Senhor dos Anéis, da autoria de J. R. R. Tolkien, é fascinante, porque se refere a um conjunto de mitos e lendas construídos pelo autor, mas com uma base significativamente realista, em alguns instantes até brevemente derivada dos mitos nórdicos e germânicos. Mas já lá iremos, por agora convém apresentar, de uma forma muitíssimo breve, os quatro principais volumes que compõem a série.

Tudo começa com O Hobbit, em que a personagem principal, Bilbo Baggins, é como que convidado a juntar-se a uma aventura. São muitas as peripécias por que vai passando, mas o mais importante é o facto de este primeiro livro explicar como é que ele obteve o famoso anel que dá nome a toda a série. Sim, também obtém uma grande fortuna, e uma armadura de mithril (um metal ficcional, inventado para esta série), mas esses são elementos secundários face ao próprio anel.

Depois, na trilogia que compõe o Senhor dos Anéis em si mesmo - A Irmandade do Anel, As Duas Torres, e O Regresso do Rei - o que tem essencialmente lugar é um desenvolvimento desse tema inicial, com o herói principal a tornar-se agora Frodo Baggins, numa intenção geral da destruição do poderoso anel, que desde o seu início é apresentado como tendo um misterioso poder de invisibilidade.

A Mitologia do Senhor dos Anéis

Claro que este pequeno resumo é demasiado redutor do interesse de toda a série, mas é mais que suficiente para aqui se introduzir a mitologia do Senhor dos Anéis. Se à partida este anel tem poderes mágicos, o porquê de os ter só vai sendo revelado progressivamente, mas nunca de uma forma completa. É um anel misterioso, cuja completa realidade nunca é revelada, ou pelo menos não como esperaríamos de uma obra de ficção. E, de uma certa forma, esse ambiente de mistério pauta todas estas quatro obras, como também O Silmarillion, obra póstuma em que o universo das lendas da série é explorado de uma forma mais intensa. Por exemplo, quando é apresentada uma área de nome original Helm's Deep, as personagens até podem comentar sobre a origem do nome, mas fazem-no de uma forma relativamente incerta, como se não tivessem a certeza absoluta do que estão a comentar - apenas o "ouviram dizer", sem certezas de maior.

 

Essa insegurança, essa imperfeição de muitas das personagens, que não sabem ou já não têm a certeza de algo, é - pelo menos para nós - o elemento mais curioso de toda a mitologia do Senhor dos Anéis, porque preserva um elemento muito realista do mundo. Quem ler uma obra como a Descrição da Grécia de Pausânias, poderá ver que o seu autor, e mesmo as fontes a que foi tendo acesso, nem sempre têm a certeza dos mitos e lendas que comunicam ao leitor. Realisticamente, assim é o mundo - bastará que se recorde, como exemplos nacionais, a Cruz de Popa ou a Pedra Amarela - até porque não sabemos as histórias por detrás de tudo aquilo que nos rodeia.

 

Na trilogia do Senhor dos Anéis, bem como na obra que a precede, é curiosa essa presença, sempre dual, do mito e da lenda. Existe a aventura das diversas personagens, aquela que já apresentámos super sucintamente acima, mas por detrás dela também está contido um palco riquíssimo, que deixa sempre muito que pensar, ainda para mais a quem se interesse por estes temas. Por exemplo, quando Bilbo Baggins e os seus companheiros confrontam o dragão Smaug, fazem-no num contexto muito semelhante ao do confronto germânico com Fafnir, e quando os heróis de uma outra aventura encontram o misterioso - e infinitamente poderoso (?) - Tom Bombadil, como não ver nele um herdeiro das lendas de figuras como o Homem Verde?

 

 Terá sido mera coincidência? Quando construiu estas aventuras, é fácil notar que J. R. R. Tolkien sabia o que estava a fazer, fruto do seu estudo de obras de ficção como Beowulf. E, nesse sentido, se as histórias que nos contou não são, na verdade, derivadas dos mitos nórdicos ou germânicos, têm pelo menos a sua inspiração às costas. Mas, ao mesmo tempo, também são aventuras pautadas por um pensamento tácito, de natureza mitológica e lendária, que raramente se encontra nos nossos dias. E isso acaba por ser interessante, tão interessante como as próprias aventuras que os heróis vão vivendo nas suas páginas. Quem quiser poderá lê-las só por isso, pelas tramas por que vão passando as diversas personagens, enquanto que alguém mais interessado na área da Mitologia poderá, até em alternativa, pensar mais no papel das próprias lendas no espírito de toda a série, em momentos como aqueles em que a personagens discutem entre si histórias e versos que ouviram em outros tempos, mas que não estão necessariamente ligados aos seus próprios feitos.

 

Para quem tiver especial interesse nessa mitologia do Senhor dos Anéis, de Tolkien, deverá começar por ler as quatro obras acima, e poderá depois ler O Silmarillion. Existem, em seguida, obras quase enciclopédicas, como The History of Middle-earth (em 12 volumes), só mesmo para quiser compreender melhor toda a questão, e até existem estudos em Português sobre tudo isto, como o Estudo dos mitos e da construção narrativa em J. R. R. Tolkien, publicado no Brasil em 2018. Mas isso fica para outro dia...

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24 de Maio, 2019

A invulgar história de Itomnica

Itomnica queria ter uma filha e foi a um templo do deus Apolo. Enquanto lá dormia, como era hábito nessa altura, o deus apareceu-lhe em sonhos e concedeu-lhe o seu desejo - Itomnica iria conceber uma filha, mas o deus também se ofereceu para lhe dar tudo o que ela desejasse. A peticionária disse que não desejava mais nada, e pouco depois concebeu uma filha no seu ventre.

Toda esta história acabaria por aqui, não fosse o facto de, em seguida, Itomnica ter ficado grávida durante mais de três anos, mas sem que alguma vez desse à luz. Preocupada com a situação, voltou ao templo de Apolo e o deus perguntou-lhe se não tinha obtido tudo aquilo que desejava. E sim, ela efectivamente tinha concebido uma menina, mas também gostaria de a dar à luz e trazer à vida, algo que o próprio deus se apressou a conceder-lhe; assim, quando se tornou manhã e Itomnica saiu do templo, deu finalmente à luz a sua tão desejada filha!

 

Este pequeno mito, ou invulgar história de Itomnica, aparece mencionado numa gravação presente num templo do deus Apolo. Demonstra-nos, acima de tudo, o carácter frequentemente enganador dos deuses gregos, bem como a sempre-necessária prudência para os momentos em que se lidava com as entidades divinas.

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20 de Maio, 2019

Agamémnon matou a sua filha?

Como já dito anteriormente, algumas das questões que os leitores põem ali na secção de pesquisa são tão interessantes que nos deixam a pensar. Por isso, no futuro tentaremos responder a algumas delas. Ontem, por exemplo, um leitor pôs aqui uma potencial questão - [será que] Agamémnon matou a sua filha? A resposta é mais complicada do que poderá parecer à primeira vista.

 

Por um lado, nos Poemas Homéricos e em algumas tragédias é dado a entender que a morte de Ifigénia foi uma das razões para o ódio que Clitemnestra tinha pelo seu marido, levando-a a matá-lo após o final da Guerra de Tróia. Mas, por outro lado, algumas versões mais recentes do mito, e em particular a tragédia Ifigénia na Táurida, dizem que a filha de Agamémnon foi salva pela mesma deusa a quem ia ser sacrificada, tornando-se depois sacerdotista de um dos seus templos.

 

Mas então, será que Agamémnon matou realmente a própria filha? No contexto do mito de Tróia, a resposta mais importante é que ele pensou tê-lo feito. Clitemnestra, Aquiles, e as outras principais personagens da trama também pensaram o mesmo, e é nesse elemento crucial que vão assentando as consequências da sua acção. Mesmo que a filha não tivesse sido sacrificada, o pai demonstrou uma clara e inegável intenção de o fazer - e essa intenção, por si só, é o que condiciona toda a trama futura.

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17 de Maio, 2019

"Utopia", de Thomas More

A Utopia de Thomas More

A Utopia, de Thomas More, é a história (ficcional) de um filósofo-navegador português, de nome Rafael Hitlodeu, que numa dada altura das suas viagens se encontrou na terra de Utopia, um estado ideal que pouco fica a dever à República de Platão. Porém, a descrição desse Estado - que é o elemento mais famoso da obra - só aparece no segundo livro. O que contém o primeiro? Essencialmente, uma discussão crítica de diversos aspectos culturais do tempo de Thomas More, que depois serve de introdução à possível alternativa vigente nas terras de Utopia.

 

Se, por um lado, uma leitura puramente lúdica desta obra é um pouco enfadonha, por outro uma discussão das ideias apresentadas nesta Utopia poderá ser muito prolífica, na medida que a obra oferece um enorme número de ideias (ou, se assim preferirmos, quase sugestões) que ainda merecem ser discutidas nos nossos dias de hoje. Infelizmente, poucos parecem ter sido os nossos políticos que a leram; quão diferente - e quão melhor - seria o nosso mundo se esta utopia sugerida por More já tivesse sido tornada realidade!

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15 de Maio, 2019

"7 principais deuses da mitologia japonesa"

Maria Kannon

Na imagem podem ver Maria Kannon, uma divindade nipónica particularmente famosa pela sua relação com Santa Maria numa altura em que o Cristianismo estava proíbido no Japão (note-se o estilo oriental, mas com uma pequena cruz na mão direita). São várias as semelhanças entre as duas figuras religiosas, o que certamente terá contribuído para a sua associação.

 

Infelizmente, são poucas as outras histórias que poderíamos contar sobre os deuses dos mitos japoneses, mas existem diversos artigos na internet sobre outras figuras.

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10 de Maio, 2019

O mito de Eric o Viajante

Manuscrito aleatório

Este pequeno mito, ou lenda, já só nos chegou numa versão cristã, o que, curiosamente, aqui ainda contribui mais para o seu interesse.

 

Eric decidiu ir procurar o mítico Údáinsakr, uma espécie de paraíso terreno. Nessa sua busca acabou por chegar a Constantinopla, onde pôs algumas questões ao rei local [o Imperador?] e se converteu à religião cristã. Ainda assim, decidiu que a sua viagem ainda não tinha terminado e continuou a procurar o seu objectivo inicial em terras da Índia. Acabou por encontrar uma enorme serpente, e quando a atacou foi transportado, miraculosamente, para o local que procurava. Depois de constatar os prodígios que aí existiam, falou com um anjo, que lhe revelou que por muito fantástico que o local fosse, o Paraíso do Deus cristão ainda era melhor. Eric decidiu então voltar a casa, para poder contar aos outros tudo aquilo que tinha visto.

 

O mais curioso de toda esta história é, sem qualquer dúvida, a forma como as crenças ditas pagãs e as cristãs se intersectam, mas de uma forma que as segundas se apresentem sempre como superiores às primeiras. A forma como a trama está estruturada leva-nos a crer que foi composta para uma audiência pagã, prestes a ser ensinada nos preceitos da fé cristã (uma introdução para a qual as perguntas feitas ao rei de Constantinopla até são perfeitas), devendo estes ficar com a ideia final de que as suas antigas crenças nada ficavam a dever às da nova religião - face a isso, seria absurdo não se converterem, e é até provável que muitos o tenham feito!

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09 de Maio, 2019

Polidoro Virgílio e a Origem da Comédia

Origem da Comédia

Outra pesquisa que tem sido feita de uma forma relativamente frequente neste local passa pela Origem da Comédia. E, na realidade, são poucos os autores da Antiguidade que nos dão informações concretas e fiáveis relativas à origem desse género de ficção. Como tal, não pretenderemos fazer o impossível, mas sim demonstrar a mesma dificuldade que já outros sentiram antes. Vamos, por isso, a um exemplo particularmente curioso.

 

Polidoro Virgílio nasceu nas últimas décadas do século XV. Entre as suas obras conta-se uma obra, hoje com um total de oito livros, chamada De Inventoribus Rerum, em que pretendeu dissertar sobre as origens das coisas. Tem, por exemplo, um capítulo sobre a origem dos deuses, outro sobre a espécie humana, outro sobre os obeliscos egípcios, e assim por diante, todos eles escritos com base em informações que lhe tinham chegado por via de autores e obras da Antiguidade. Relativamente à origem da comédias, escreveu estas linhas sucintas:

"As Comédias começaram numa altura em que os Atenienses ainda não se tinham associado numa cidade. Os jovens desse país, habituados a cantarem versos solenes nos festivais, fizeram-no [i.e. cantaram] nas vilas e nas ruas mais populares para ganharem dinheiro. (...) No entanto, é incerto sobre quem de entre os Gregos as terão criado primeiro."

 

Certamente que existiu um momento de Origem da Comédia, em que esta passou a existir, mas o que as linhas de Polidoro Virgílio nos revelam é precisamente aquilo que poderíamos dizer a um qualquer leitor, e pouco mais - não sabemos como, ou quando, nasceu a Comédia!

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08 de Maio, 2019

O mito de Ariadne, ou de Teseu e o Minotauro

O mito de Ariadne, ou de Teseu e o Minotauro na Mitologia Grega, liga intimamente essas três grandes figuras, razão pela qual achámos que deveríamos falar de todas elas nesta mesma publicação.

O mito de Ariadne, Teseu e o Minotauro

O Minotauro, para quem ainda não o saiba, foi um monstro que nasceu do amor de uma mulher, Pasifae, por um touro. Não era um amor natural, obviamente, mas sim uma maldição dos deuses, que só pôde ser consumada num acto sexual com a ajuda de Dédalo, que inventou uma espécie de máquina onde a rainha se pôde colocar para ser possuída sexualmente pelo bovino. Assim nasceu esta figura meio-homem, meio-touro*, que alguns até pensavam ter-se chamado Astérion, e que posteriormente foi encerrada num labirinto, como já cá contámos antes.

O labirinto de Teseu e o Minotauro

O tempo foi passando, e ao longo dos anos foram repetidamente sacrificados grupos de jovens atenienses, sete rapazes e sete raparigas, a este monstro. Isso continuou até que Teseu se voluntariou para fazer parte de um desses grupos. Chegando à ilha de Creta, foi visto por Ariadne, filha do rei Minos, que rapidamente se apaixonou por ele e se prontificou a ajudá-lo em toda a tarefa. Assim, para que o herói ateniense pudesse encontrar o caminho no labirinto do monstro, Ariadne deu-lhe um pequeno fio (i.e. uma espécie novelo de lã) e alguns conselhos sobre como matar o monstro. Em troca, apenas lhe pediu que depois a levasse para longe e casasse com ela, algo que o herói aceitou de bom grado, até dada a grande beleza da jovem.

Com esta preciosa ajuda, Teseu entrou no labrinto do Minotauro e matou a horrenda criatura de uma vez por todas. Depois, escapou da ilha com esta jovem, mas em vez de casar com ela - como tinha prometido explicitamente, relembre-se - abandonou-a numa ilha. Foi aí que ela posteriormente encontrou o deus Dioniso, que casou com ela e colocou a sua coroa entre as estrelas.

 

Todo este grande mito de Ariadne e Teseu e o Minotauro, é-nos hoje bastante conhecido em virtude do estranho monstro, e muito mais poderia ser escrito sobre ele, mas há que deixar claro que existem várias versões para explicar as acções de Teseu após as aventuras em Creta. A heroína é sempre abandonada, nunca se casa verdadeiramente com ele, mas nem sempre por decisão do próprio herói, já que o seu grau de culpabilidade parece variar bastante - por vezes, ela até só é abandonada para poder casar com Dioniso, que a tinha visto anteriormente e que queria casar com ela! Por isso, ela até poderá assemelhar-se a Medeia, mas neste caso a culpa dos acontecimentos nem sempre é do herói que jurou casar com ela...

 

O mito do Minotauro

*- Posteriormente, encontrámos a rara imagem acima, em que Pasifae, então já mãe, pode ser vista com um Minotauro bebé ao colo. É uma ideia belíssima, mas que encontra pouco eco nos mitos da Antiguidade, já que não nos parece ter chegado qualquer história da juventude deste monstro. Ele teve-a, ficcionalmente, mas poucos autores parecem ter pensado nisso...

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