"Salomão e Saturno [em prosa]" e "Adriano e Riteu"
Associamos estes dois livros pelo facto de, essencialmente, se tratarem de um só, em que quase só mudam os nomes dos seus intervenientes. E, nesse seguimento, são obras relativamente simples, em que uma das personagens coloca algumas questões àquela que lhe é superior. Vejamos três exemplos particularmente curiosos:
- Quais são as quatro coisas que jamais estarão satisfeitas?
A terra, o fogo, o inferno e um homem que deseja as riquezas do mundo.
- Qual foi o homem que morreu mas não nasceu, e depois da morte foi sepultado no ventre de sua mãe?
Foi Adão, o primeiro homem, porque a terra foi a sua mãe, e depois da morte foi aí sepultado.
- Como é que Cristo nasceu da sua mãe, Maria?
Pelo seio direito.
Além destes pequenos exemplos, existem nestas obras alguns elementos que não deixam de ser curiosos. Numa dada altura é referido, indirectamente, que o fruto da famosa árvore do Paraíso era o figo. Porquê este, e não a maçã? A resposta é fácil de compreender se recordarmos que no Evangelho Segundo São Marcos Jesus amaldiçoou uma figueira. De facto, é essa mecânica de ideias que pauta o conteúdo da obra - é feita uma questão e depois é apresentada uma resposta que, em muitos casos (mas nem sempre!), pode ser subentendida do texto bíblico ou de alguns elementos da cultura cristã medieval. E, nesse sentido, se não é uma obra muito interessante para um leitor leigo, aqueles que tenham interesse na evolução das crenças cristãs poderão aqui encontrar muito material que lhes dará que pensar.