"Henriqueida", um poema épico pouco conhecido
A Henriqueida, um poema épico pouco conhecido, é um exemplo perfeito de um problema significativo da literatura mundial. Quando pensamos em poesia épica temos em mente obras como a Ilíada, a Odisseia, a Eneida... ou, num contexto português, quase certamente Os Lusíadas de Camões. Porém, raramente se pensa é que para esses poemas se tornarem particularmente famosos existiram muitos outros que tiveram de ficar pelo caminho, de que os Anais de Énio são provavelmente o exemplo mais famoso, mas não o único.
Nesse contexto, hoje falamos da Henriqueida, um poema épico português de meados do século XVIII. Quase nada conseguimos descobrir sobre ele online, mas quando o fomos ler acabámos por perceber o porquê dessa grande ausência de informação - é, pura e simplesmente, uma obra bastante desinteressante. E a opinião não é somente nossa - pelo menos um outro leitor dela disse que se trata de uma "obra de merito mediocre, na opinião dos criticos, apezar da summa diligencia com que o auctor pretendeu reduzi-lo ás regras e preceitos epicos, de que era perfeito sabedor. O que lhe faltava unicamente era genio e gosto" (fonte).
O problema começa logo com o próprio tema - quem será o "Henrique" que dá título à obra? Talvez um épico sobre o Infante D. Henrique até fosse uma ideia muito interessante, mas o escolhido é aqui um outro Henrique, o de Borgonha, pai de Afonso Henriques.
Depois, se a Henriqueida até tem alguns instantes notáveis, parecem ser ainda mais aqueles que não o são. Por exemplo, no segundo canto Henrique encontra uma caverna secreta perto do Porto e Gaia, em que está escondida a Sibila e onde estão presentes algumas estátuas dos futuros monarcas portugueses. A ideia é interessante, mas relatada de uma forma tão cansativa, enfadonha.
É, talvez mais que tudo, essa grande falha desta obra. O autor parece ter estado tão preocupado com seguir um conjunto de regras formais, e em demonstrar o seu conhecimento da Antiguidade, que se parece ter esquecido de tornar o seu poema interessante para o leitor. Na verdade, o próprio autor, ao escrever este seu poema, sentiu a necessidade de o adornar com copiosas notas explicativas - mais de 700, ao longo dos 12 cantos - porque parecia saber que só assim os leitores o poderiam compreender...