A estranha história de Henriqueta Emília da Conceição e Sousa
Henriqueta Emília da Conceição e Sousa, nascida na cidade do Porto no ano de 1840, é uma figura complexa, na medida que as circunstâncias da sua vida estão hoje muito envoltas num misto de realidade e mito. Isto é particularmente visível em obras ficcionais, escritas alguns anos após a sua morte, de que a mais famosa é provavelmente Henriqueta ou uma heroína do século XIX, da autoria de A. J. Duarte Junior, publicada em 1877.
Então, o que sabemos sobre ela? Supostamente foi órfã, violada quando ainda era criança, e posteriormente dedicou-se aos roubos, à prostituição, e a outros ilegalidades, dando origem a um conjunto de circunstâncias a que os romances da época muito vieram a adicionar. Quando ainda não tinha sequer 30 anos, apaixonou-se por uma mulher de nome Teresa Maria de Jesus, que viria a falecer em 1868. E aqui começa o cerne da história de hoje.
Com o falecimento de Teresa, Henriqueta viu-se envolta no maior sofrimento. Não sabia como viver sem a "amiga". Chorava, lamentava-se, sentia-se incapaz de continuar a viver. Então, decidiu mandar construir-lhe um túmulo digno, ainda hoje adornado com uma belíssima estátua de São Francisco.
Restava a transladação do corpo. Henriqueta seguiu todos os trâmites legais, até ao dia da deposição da falecida na nova campa. Porém, quando foi altura do novo enterro, pediu para ficar alguns momentos a sós com a amiga, de forma a se poder despedir com maior emoção. Depois, só e face ao cadáver, arrancou-lhe a cabeça e levou-a. E, durante algum tempo, viveu com a cabeça da sua amada na sala de sua casa, colocando-a à mesa, beijando-a, falando até com ela, como se de uma pessoa viva ainda se tratasse.
Mais tarde foi apanhada neste seu crime, mas não sofreu qualquer pena de maior - tratava-se, segundo o juíz, de um crime de amor, da simples loucura e desespero de uma mulher muito apaixonada. Diz-se que a cabeça do cadáver foi posteriormente devolvida à sua proveniência, mas contrariamente aos desejos de Henriqueta não vieram a partilhar um mesmo túmulo na eternidade. E, por isso, duas noites por ano é ainda possível ouvir nesse cemitério o triste lamento de Henriqueta por Teresa, num assombramento que, apesar de já muito esquecido, pouco fica a dever aos mais famosos do nosso país...
P.S.- Para um caso semelhante a este, mas relativamente mais recente, procure-se a história de Carl Tanzler, que continuou a amar uma mulher mesmo depois de morta, chegando ao ponto de desenterrar o seu cadáver, o levar para sua casa, o reconstruir, e viver com ela quase como marido e mulher.