A lenda de Santa Comba Dão merece ser contada aqui porque isso raramente é feito na sua forma completa. Sim, pode encontrar-se na internet, aqui e ali, uma lenda da santa, e depois uma outra de um local a que ela veio a dar nome, mas nunca é explicado muito bem como elas interagem uma com a outra. Portanto, nada como as contar aqui em conjunto!
Naquele sempre indefinido "tempo dos Mouros" nasceu na zona de Coimbra uma menina a que foi dado o incomum nome de Comba. Com o passar do tempo ela foi-se tornando uma jovem lindíssima, mas desde cedo que também decidiu dar o seu corpo e alma a Deus. Portanto, e juntamente com o seu irmão, esta jovem dedicava o seu tempo à pastorícia e à religião. Assim o foi até que os Mouros conquistaram a região, e um dos seus grandes senhores se apaixonou pela belíssima jovem. Uma e outra vez, esta tentou fugir dele por entre montes e vales, até que acabou por ser apanhada. O que se passou em seguida nem sempre é fácil de perceber - existem muitas versões - mas a jovem escapou a quem a perseguia e preservou a sua virgindade, mas também morreu, com a versão mais intrigante a dizer que ela foi crucificada numa árvore - e assim ascendeu aos céus a pessoa que ficaria conhecida como Santa Comba.
Mas depois, os anos foram passando. Possivelmente em honra da santa conimbricense - não podemos ter a certeza absoluta, mas tenha-se em conta que o nome é muito infrequente - foi erigido nas margens de um rio do distrito de Viseu um mosteiro que acabou por ficar conhecido sob o nome de Santa Comba Dão. Pouco pensaríamos hoje nele, não fosse o facto de ter sido, em dada altura, atacado pelos Mouros, que buscavam belas mulheres com quem casar. Brutos e sem compaixão, invadiram o local e queriam levar todas as freiras... mas a abadessa "negociou" esse roubo, pedindo que cada um dos invasores entrasse na igreja sozinho e escolhesse a mulher que mais lhe agradava. Assim foi feito, mas cada vez que um mouro escolheu a sua preferida, ela pegou num punhal - que tinha escondido entre as vestes - e espetou-o no peito... e isto repetiu-se uma, e outra, e outra vez, até que não sobrou viva uma única das ocupantes deste convento, que preferiram a morte à violação dos seus votos religiosos.
Nesta sequência, se Santa Comba Dão é hoje quase somente conhecida como uma cidade portuguesa, esta espécie de lenda a dois tempos pode mostrar-nos que as histórias das povoações do nosso país ainda têm muito espaço para exploração futura, mesmo nos casos em que seguir esse caminho não é simples - por exemplo, encontrarmos uma imagem da Santa Comba associada a Coimbra - porque existem outras - não foi nada fácil, talvez em virtude da sua estranha morte, cuja iconografia podia ser vista de forma menos positiva em dadas épocas, já que representava uma mulher numa cruz...