Porque é fim de semana, e por isso se presume que potenciais leitores terão mais algum tempo livre para estas coisas, ficam também aqui mais dois filmes de Georges Méliès que nos recordam da Antiguidade - a Viagem pelo Impossível e a Viagem à Lua, ambos com música que não é a original.
Hoje já com mais de uma centena de anos, estes dois filmes baseiam-se em obras de Júlio Verne. Porém, o que talvez já poucos saibam é que histórias como essas - de viagens à lua, ao sol, aos outros astros celestes, etc. - nasceram ainda em tempos da Antiguidade, com a História Verdadeira de Luciano da Samósata a nos preservar, ainda hoje, um dos seus exemplos mais notáveis.
As duas lendas do Uirapuru são um bom exemplo daquela falta de horizontalidade que existe nos mitos e lendas que se dizem simplesmente do Brasil, como se num país tão grande as mesmas histórias se pudessem repetir de uma forma igual em todos os locais. O que não é verdade, como é óbvio! Por exemplo, as lendas dizem que este pássaro nem sempre teve esta forma, que já foi humano como nós. No entanto, o que aconteceu ao Uirapuru, também conhecido como Irapuru, parece variar em pelo menos duas lendas (e é provável que até existam mais):
Duas lendas do Uirapuru
Numa das versões da lenda, duas mulheres apaixonaram-se por um mesmo homem. Este sugeriu-lhes então uma pequena competição de arco e flecha, em que a vencedora ficaria com ele. A vencedora recebeu o amor de um homem que dizia amar; a vencida, triste, fugiu para a floresta e foi transformada neste pássaro, perpetuando a sua tristeza com um canto que soava a eterna dor.
Numa outra versão, um homem amava uma mulher que jamais poderia possuir para si. Então, pediu aos deuses que o transformassem neste pássaro. E depois, sob essa nova forma, dedicou-se a proclamar aos quatro cantos da floresta aquele que era o seu grande amor.
O canto do Uirapuru
Em ambos estes casos, em ambas as lendas que resumimos aqui, a forma do Uirapuru e o seu canto estão associados ao sofrimento pelo amor. Porquê? Não é fácil de explicar, mas convidamos os leitores a que oiçam o canto de um pássaro desta espécie, para que possam compreender melhor essa face mais real das duas lendas.
Parece-vos o pequeno pássaro destas duas lendas triste? Parece-vos que ele ainda sofre por amor, nesse seu singular canto? A resposta, essa, como em muitas outras destas coisas, fica para quem for ler estas linhas, que deverá tirar as suas próprias conclusões...