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Mitologia em Português

26 de Fevereiro, 2020

Em busca da lenda da Cruz de Popa

Para a última história portuguesa deste mês decidimos falar de algo muito pouco vulgar, a lenda da Cruz de Popa, na zona de Alcabideche (Cascais). Ou, para sermos mais correctos, uma não-lenda que tomaria esse nome. E temos de lhe chamar isso porque, infelizmente, o local até deve ter uma razão real para esse nome, mas já não conseguimos recontá-la por cá. Passe-se a explicar.

A lenda da Cruz de Popa?!

Há uns meses pássamos por um local chamado "Cruz de Popa". Numa das ruas próximas encontrámos uma representação antiga de uma poupa - o pássaro, deixe-se claro - poisada próxima de uma fonte e de um edifício potencialmente religioso, mas já ninguém nos soube falar dessa história ou dizer de onde vinha o nome do local. Na verdade, pouco mais nos souberam informar do que "eu vivo aqui há mais de 80 anos e sempre conheci o local por esse nome". Insistimos. "Sim, havia ali umas ruínas, mas a gente não ligava a nada disso". Só isto.

 

O mistério desta Cruz de Popa, como já é costume, não pôde deixar de nos fascinar bastante. A representação próxima do local deixa clara a existência de um pássaro (com a penugem acima da cabeça que é bem característica à poupa), por oposição a uma "popa" de qualquer outro tipo (e.g. a parte frontal de um navio, como no caso de Nuestra Señora de la Candelaria de la Popa). Deixa igualmente clara a existência de um cruzeiro, talvez até inserido num espaço religioso maior, que ainda hoje está presente no local. E deixa ainda clara a presença de uma fonte, mas que já não existe, e da qual nem parecem existir, hoje, quaisquer vestígios.

 

Esta seria, normalmente, a altura em que contávamos como descobrimos a resposta, e qual era, afinal de contas, esta lenda oculta da Cruz de Popa, mas neste caso especifico não foi mesmo possível encontrá-la. Segundo apurámos, em inícios do século XX o cruzeiro estava parcialmente destruído, mas ainda existia uma mina de água no local, onde os habitantes locais tinham por hábito apanhar agriões, levantando a possibilidade da existência anterior de uma fonte, desaparecida em data incerta. Se a lenda original unia, de alguma forma muito significativa, o pássaro à cruz e à fonte, é possível que o desaparecimento parcial destes últimos elementos tenha levado ao esquecimento progressivo de toda a trama. O que, para nós, é muito triste, porque representa a perda de um património cultural irrecuperável, como aquele que algumas vezes ainda tentamos preservar por cá, e que em casos como o da Arranca-Pregos também já se perdeu...

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26 de Fevereiro, 2020

A lenda de São Torcato

A lenda de São Torcato é, como a de Santo Ovídio, uma daquelas histórias, supostamente reais, que são muito famosas na região em que tiveram lugar mas igualmente pouco conhecidas em outros locais. Isso faz até um certo sentido, na medida em que esta figura pode ter nascido em Toledo (Espanha), mas foi bispo da cidade de Braga e tornou-se mártir mais ou menos no mesmo local, estando por isso muito naturalmente associado ao norte de Portugal, em particular à freguesia de São Torcato, perto de Guimarães. Mas qual é a sua história?

Lenda de São Torcato

Sobre esta lenda de São Torcato, apenas fomos capazes de encontrar um relato muito geral, que diz que na segunda década do século VIII da nossa era (a data precisa é hoje incerta, mas o dia terá sido provavelmente 26-28 de Fevereiro), um general islâmico, de nome Muça, invadiu parte do norte de Portugal. S. Torcato recebeu-o, juntamente com alguns companheiros, talvez com intenção de lhe pedir que poupasse os habitantes locais (outras versões dizem que o futuro santo pretendia combatê-lo, mas perdeu a batalha), mas todos eles foram mortos - ou decepados, segundo outra versão - por este seu inimigo muçulmano. Pouco depois o corpo incorrupto do mártir foi encontrado no meio da floresta, tendo também brotado uma fonte miraculosa no local da descoberta, onde ainda hoje pode ser encontrada uma pequena capela, cujo recinto pitoresco mostramos abaixo.

O corpo de S. Torcato - padroeiro das dores e problemas de cabeça, que se supõe ter feito muitos milagres nessas áreas, mas hoje muito mais conhecido pelo seu corpo ainda incorrupto - não está agora neste local, como seria naturalmente de esperar, mas sim no Santuário de São Torcato, em Guimarães. Diz-se - confessamos que não fomos verificar pessoalmente - que por milagre divino o corpo do santo continua tão incorrupto e perfeito como no dia em que faleceu, há já mais de um milénio. Será verdade? Quem vir uma fotografia do santo, tal como se encontra hoje (por exemplo, nesta página), poderá facilmente ver que ele tem uma forma completamente humana, parecendo estar como que petrificado na sua morte. O que se terá passado? Será mesmo um milagre? Essa já é uma resposta que ficará para o leitor destas linhas...

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