Muitos são os heróis da Antiguidade e da Idade Média de que ao longo dos anos fomos escrevendo por cá. Claro que alguns são mais famosos que outros, mas existe um determinado grupo de figuras que se foram tornando imortais ao longo dos séculos, dada a sua enorme fama. Talvez um leitor comum já não conheça Linceu, o Imperador Clarimundo ou Palmeirim de Oliva, mas certamente que conhece Aquiles, Ulisses ou Dom Quixote. E isso pode, de certo modo, levantar uma questão - se conhecemos essas figuras, hoje, que outros grandes heróis foram sendo admirados ao longo dos séculos?
Deixando esse tema de lado por um breve momento, foquemo-nos num livro compilado no reinado de D. Manuel I, o Livro do Armeiro-Mor. Essencialmente, tinha por objectivo preservar e sistematizar os brasões das principais famílias nacionais. Por exemplo, este era o brasão de um tal Diogo Rodrigues Butilher:
Muitos outros poderão ser encontrados na mesma obra, acessível na hiperligação já publicada acima, mas a referência a esta obra em particular nasce do facto de principiar com uma referência aos chamados "Nove da Fama", um conjunto de heróis que na Idade Média se considerava que tinham as características de um grande cavaleiro. Por isso, para voltar ao tema anterior, quais eram eles?
O Livro do Armeiro-Mor menciona, por esta ordem, as figuras de Josué (duque), Rei David, Judas Macabeu (duque), Rei Alexandre [Magno], Heitor (duque), Júlio César, Rei Artur, Carlos Magno e Godofredo de Bulhão. Os mais atentos poderão notar a presença de três subgrupos, compostos por uma tríade da Antiguidade Clássica, três figuras judaicas e três figuras cristãs. Muito se poderia discutir em relação à presença (ou ausência) de alguma figura específica, mas havia, na Idade Média, um conjunto de razões para a fama por detrás de cada um destes heróis - por exemplo, o Heitor medieval é uma figura significativamente diferente do herói da Ilíada, enobrecida por diversos romances, enquanto que Godofredo de Bulhão (hoje bastante esquecido!), foi um dos líderes da primeira cruzada que conquistou Jerusalém.
É curioso que alguns destes heróis continuem famosos nos nossos dias, enquanto que outros tenham sido esquecidos. De certo modo, faz-nos pensar nos heróis dos nossos dias, e na forma como também eles poderão vir a ser considerados nos séculos futuros...