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Mitologia em Português

24 de Março, 2020

A "História do Hierosolimita", de autoria desconhecida

De entre as obras que fomos estudando ao longo dos anos existiram, aqui e ali, alguns textos verdadeiramente curiosos. Esta História do Hierosolimita, no seu original Maaseh Yerushalmi, tem de ser considerado um deles. É um texto judaico medieval que insta o leitor a obedecer aos seus pais e a cumprir as promessas que faz, mas mais do que uma simples parábola é quase um verdadeiro romance.

 

Tudo começa quando um pai, já idoso e a ponto de morrer, decide deixar uma grande herança ao seu único filho, avisando-o e fazendo-o prometer que nunca viajaria por mar. O filho, sábio e estudioso da Tora, cumpriu esse pedido durante muitos anos, até que alguns navegadores o foram visitar e o informaram das muitas e valiosas propriedades que o pai tinha deixado no além-mar. Uma e outra vez, este filho - cujo nome nunca nos é dito - lembrou-se da promessa que fez ao pai, mas movido pela curiosidade ou pela ganância lá acabou por aceitar a viagem por mar.

E é precisamente aqui que toda a história se começa a tornar menos vulgar. O herói cai ao mar, encontra-se somente com a roupa que tinha no corpo, é perseguido por um leão, sobe a uma árvore, é levado por um pássaro, refugia-se numa sinagoga de uma cidade de demónios, etc. Uma e outra vez, escapa a uma morte quase certa, acaba por fazer alguma nova promessa e consegue, de uma ou outra forma, moralizar o facto de quebrar cada um desses novos juramentos.

 

De forma inesperada, a história não termina bem. Não poderia terminar, não com uma figura heróica que parece jamais aprender a sua lição. Em vez disso, esta é uma história que transporta o leitor através de um conjunto de limites quase absurdos para lhe ensinar uma lição preciosa, quando algo muito mais simples até bastaria. Mas, por outro lado, poderá ter sido essa desnecessária complexidade que contribuiu para a sua popularidade em relação a outros textos judaicos da mesma época. Por isso, este seria um texto que recomendaríamos a quem gosta de obras de ficção, não fosse pelo "pequeno" facto de não ser fácil de encontrar - na verdade, tivemos de o ler traduzido na tradução, ainda por publicar à data presente, de um amigo que fala a língua original.

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