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Mitologia em Português

10 de Abril, 2020

A lenda das Marias do Mar

A lenda das Marias do Mar é medieval, mas como tantas outras da mesma época tem uma base bíblica, e ainda hoje é celebrada no sul de França, na comuna com o justíssimo nome de Saintes-Maries-de-la-Mer.

Três Marias do Mar

Conta-nos então a sua história que as Marias do Mar são umas santas, vulgarmente três, que após a crucificação de Jesus Cristo escaparam da Terra Santa por barco, acabando depois por desembarcar no sul de França, onde passaram a viver. Contudo, dada a imprecisão da identidade das santas - pelo menos uma delas terá sido Maria, mãe de Jesus, mas quem eram as restantes? - a que se junta uma igual imprecisão na identidade de potenciais acompanhantes, esta lenda foi depois fonte de exploração para várias lendas adicionais, algumas mais famosas que outras.

 

Por exemplo, uma das lendas associadas às Marias do Mar é a de Santa Sara, uma figura um tanto ou quanto misteriosa (seria uma empregada das restantes, como dizem algumas versões?), que, segundo se dizia, recolhia esmolas para os pobres, razão pela qual passou a ser vista como uma espécie de santa padroeira dos Ciganos. Outra, mais famosa já nos nossos dias por influência do Código Da Vinci, é que entre elas se contava uma Maria Madalena grávida, que posteriormente viria a dar à luz um rebento gerado por Jesus Cristo. Uma terceira diz que entre os acompanhantes se contam São Lázaro (o tal que foi trazido de volta à vida por Jesus Cristo), ou mesmo José de Arimateia (a figura que forneceu o túmulo em que o filho de Maria foi sepultado). E existem outras, mas só pretendemos recordar aqui três das principais.

 

Mas relativamente a esta lenda das Marias do Mar, é questão para se dizer, seguindo a sabedoria popular, que quem conta um conto aumenta sempre um ponto, e dadas as muitas imprecisões da lenda original, este acaba por ser um daqueles casos em que a ausência de informação mais concreta acabou por fomentar muitas imaginações, adicionando cada vez mais detalhes e pormenores a uma história apócrifa que, originalmente, era muito mais simples do que agora o é, fruto de séculos de especulações e novas - e, por vezes, até estranhas - adições à trama basilar...

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10 de Abril, 2020

A defesa de Cecília Faragó e a refutação da magia

Em meados do século XVIII uma mulher que vivia na Córsega, de seu nome Cecília Faragó, foi acusada de praticar magia e de ter morto um padre por essas suas supostas artes mágicas. Este poderia ser um caso como tantos outros do passado, não fosse o facto de Giuseppe Raffaelli ter decidido escrever sobre toda a estranha situação, numa obra que depois até foi traduzida para Português.

Defesa de Cecília Faragó

É através dessa obra que sabemos mais sobre toda a situação, e no seu contexto dizer que Cecília Faragó foi acusada de feitiçaria é muito redutor. Talvez seja mais correcto dizer-se que ela se encontrava, após a morte do seu filho, num disputa de heranças com alguns párocos, e estes decidiram acusá-la de praticar magia como mero subterfúgio para resolverem toda a situação e anteciparem a sua recompensa de mais algum vil metal. Por isso, os acusadores decidiram argumentar que enquanto Cecília Faragó estava a rezar no altar, um padre que tocava órgão e cantava ficou sem voz. Clara magia, não é?!

 

Parece ter sido para mostrar o absurdo de toda esta situação que Giuseppe Raffaelli escreveu o seu texto, dividido em três grandes capítulos. O primeiro, e provavelmente o mais famoso e interessante, refuta que a magia nefasta exista verdadeiramente. O segundo mostra que o padre, o mesmo que Cecília Faragó supostamente matou, morreu por simples negligência médica. Já o terceiro foca-se em mostrar que a acusada não tinha quaisquer poderes mágicos.

 

Por isso, somos levados a perguntar - será que Cecília Faragó era mesmo uma feiticeira? Há um argumento no terceiro capítulo que é completamente demolidor de toda a acusação - se ela tinha mesmo poderes mágicos, porque os utilizou contra um padre com o qual não tinha qualquer disputa, em detrimento de o fazer com os dois párocos que tanto a molestavam? Ou, se preferirem um argumento mais religioso, se a magia realmente existia porque teria Deus permitido a sua utilização no mesmíssimo local que era tantas vezes ocupado pelo metafórico Corpo de Cristo? Face a argumentos como esses depressa se torna claro que a acusação desta mulher não se devia a qualquer prática mágica, mas sim a um mero interesse económico dos acusadores.

 

Uma outra obra da mesma época tem uma frase perfeita sobre todo este tema - "a Arte Mágica é a Arte da Comedoria", i.e. de enganar os outros para proveito próprio, mas mesmo assim continua a existir ainda hoje gente menos informada que acredita na feitiçaria, no tarot, nas cartomantes e em outras coisas que tais. Seguindo as palavras de Cícero, não podemos deixar de nos interrogar como é possível que dois "adeptos" dessas artes não se riam, quando se cruzam num qualquer caminho deste mundo...

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