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Mitologia em Português

12 de Abril, 2020

Viagem (virtual) ao local da morte e ressurreição de Jesus Cristo

Jesus a sair do túmulo

Neste estranho Domingo de Páscoa achámos que nada seria mais indicado do que uma breve visita virtual a dois locais da história de Jesus Cristo, nomeadamente aqueles em que se diz que ele morreu e ressuscitou. Porém, há uma questão que se impõe, que tem de se impor, quando se fala de temas como estes - serão mesmo estes os locais, temos alguma certeza real disso? Na verdade... não, não temos, mas explicar o porquê implica contar uma breve história de outros tempos.

 

Quando no século IV Constantino se converteu ao Cristianismo, numa dada altura a sua mãe, hoje conhecida como Santa Helena, foi a Jerusalém em busca dos locais significativos da vida de Jesus Cristo. Entre outras coisas menos importantes para este tema, numa dada altura encontrou um túmulo e três cruzes. Pensou, naturalmente, que o túmulo seria o de Jesus, mas qual das três cruzes tinha sido a dele? Segundo a mesma história, a mãe de Constantino testou-as de alguma forma e descobriu que uma delas tinha propriedades miraculosas (e.g. a cruz verdadeira cura algum doente); logo, só poderia ser essa a do Filho de Deus, não é...?

 

Já voltaremos um pouco mais a essa história, mas agora vejamos o local onde se diz que teve lugar a crucificação de Cristo (como sempre, podem explorar esta fotografia, o tecto é particularmente interessante):

Pode ser visto aqui um altar, a marcar o local da suposta crucificação, mas o que é igualmente digno de nota é o facto de em ambos os lados desse altar estarem localizados dois vidros, no interior dos quais podem ser vistas as rochas em que se acredita que foi colocada a cruz de Jesus. Porquê estas, e não outras do mesmo local? Não sabemos, mas é certamente possível que Santa Helena tenha encontrado as três cruzes nesta zona.

Já neste segundo local pode ser visto o túmulo de Cristo. Note-se que ele não foi sepultado no edifício quadrado no centro da imagem; esse edifício, mais tardio, tem é no seu interior o local onde ele foi sepultado, que normalmente não está acessível ao público mas que pode ser visto de forma parcial neste vídeo.

 

Supondo que existiam vários túmulos neste local, como é que Santa Helena descobriu que este é que era o de Jesus Cristo? É possível que se tenha devido a um segundo milagre, mas apenas temos a vaga memória de uma história que dizia que os deuses pagãos tinham mandado construir um templo no local, de forma a conspurcar o local de tão grande milagre cristão. O que sabemos, isso sim, é que quando em 2017 foi feita a datação da cobertura de mármore deste túmulo, descobriu-se que ele era de meados do século IV, apenas alguns anos após a altura em que se diz que Santa Helena descobriu o local.

Será tudo isto verdade, ou uma mera fábula para enganar os crentes? É, como sempre, tudo uma grande questão de fé...

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11 de Abril, 2020

Um epigrama de Filodemo, sobre o seu próprio nome

Mas como nem só de Filosofia e de pensamentos profundos podemos viver, fica também aqui um curioso epigrama de Filodemo:

 

Apaixonei-me por uma Demo de Pafos - nada de surpreendente. E, depois, por uma Demo de Samos - também nada de especial. E por uma Demo de Hisias - já não tem muita piada... - e ainda por uma Demo de Argos. Devem ter sido as próprias Moiras que me chamaram Filodemo, para que esta paixão ardente por uma mulher chamada Demo tomasse repetidamente conta de mim.

 

O autor goza aqui com o seu próprio nome - Filodemo poderá significar algo como "amante de Demo" - o que, no contexto de muitos "nomes falantes" da Antiguidade, tem uma certa piada...

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10 de Abril, 2020

A lenda das Marias do Mar

A lenda das Marias do Mar é medieval, mas como tantas outras da mesma época tem uma base bíblica, e ainda hoje é celebrada no sul de França, na comuna com o justíssimo nome de Saintes-Maries-de-la-Mer.

Três Marias do Mar

Conta-nos então a sua história que as Marias do Mar são umas santas, vulgarmente três, que após a crucificação de Jesus Cristo escaparam da Terra Santa por barco, acabando depois por desembarcar no sul de França, onde passaram a viver. Contudo, dada a imprecisão da identidade das santas - pelo menos uma delas terá sido Maria, mãe de Jesus, mas quem eram as restantes? - a que se junta uma igual imprecisão na identidade de potenciais acompanhantes, esta lenda foi depois fonte de exploração para várias lendas adicionais, algumas mais famosas que outras.

 

Por exemplo, uma das lendas associadas às Marias do Mar é a de Santa Sara, uma figura um tanto ou quanto misteriosa (seria uma empregada das restantes, como dizem algumas versões?), que, segundo se dizia, recolhia esmolas para os pobres, razão pela qual passou a ser vista como uma espécie de santa padroeira dos Ciganos. Outra, mais famosa já nos nossos dias por influência do Código Da Vinci, é que entre elas se contava uma Maria Madalena grávida, que posteriormente viria a dar à luz um rebento gerado por Jesus Cristo. Uma terceira diz que entre os acompanhantes se contam São Lázaro (o tal que foi trazido de volta à vida por Jesus Cristo), ou mesmo José de Arimateia (a figura que forneceu o túmulo em que o filho de Maria foi sepultado). E existem outras, mas só pretendemos recordar aqui três das principais.

 

Mas relativamente a esta lenda das Marias do Mar, é questão para se dizer, seguindo a sabedoria popular, que quem conta um conto aumenta sempre um ponto, e dadas as muitas imprecisões da lenda original, este acaba por ser um daqueles casos em que a ausência de informação mais concreta acabou por fomentar muitas imaginações, adicionando cada vez mais detalhes e pormenores a uma história apócrifa que, originalmente, era muito mais simples do que agora o é, fruto de séculos de especulações e novas - e, por vezes, até estranhas - adições à trama basilar...

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10 de Abril, 2020

A defesa de Cecília Faragó e a refutação da magia

Em meados do século XVIII uma mulher que vivia na Córsega, de seu nome Cecília Faragó, foi acusada de praticar magia e de ter morto um padre por essas suas supostas artes mágicas. Este poderia ser um caso como tantos outros do passado, não fosse o facto de Giuseppe Raffaelli ter decidido escrever sobre toda a estranha situação, numa obra que depois até foi traduzida para Português.

Defesa de Cecília Faragó

É através dessa obra que sabemos mais sobre toda a situação, e no seu contexto dizer que Cecília Faragó foi acusada de feitiçaria é muito redutor. Talvez seja mais correcto dizer-se que ela se encontrava, após a morte do seu filho, num disputa de heranças com alguns párocos, e estes decidiram acusá-la de praticar magia como mero subterfúgio para resolverem toda a situação e anteciparem a sua recompensa de mais algum vil metal. Por isso, os acusadores decidiram argumentar que enquanto Cecília Faragó estava a rezar no altar, um padre que tocava órgão e cantava ficou sem voz. Clara magia, não é?!

 

Parece ter sido para mostrar o absurdo de toda esta situação que Giuseppe Raffaelli escreveu o seu texto, dividido em três grandes capítulos. O primeiro, e provavelmente o mais famoso e interessante, refuta que a magia nefasta exista verdadeiramente. O segundo mostra que o padre, o mesmo que Cecília Faragó supostamente matou, morreu por simples negligência médica. Já o terceiro foca-se em mostrar que a acusada não tinha quaisquer poderes mágicos.

 

Por isso, somos levados a perguntar - será que Cecília Faragó era mesmo uma feiticeira? Há um argumento no terceiro capítulo que é completamente demolidor de toda a acusação - se ela tinha mesmo poderes mágicos, porque os utilizou contra um padre com o qual não tinha qualquer disputa, em detrimento de o fazer com os dois párocos que tanto a molestavam? Ou, se preferirem um argumento mais religioso, se a magia realmente existia porque teria Deus permitido a sua utilização no mesmíssimo local que era tantas vezes ocupado pelo metafórico Corpo de Cristo? Face a argumentos como esses depressa se torna claro que a acusação desta mulher não se devia a qualquer prática mágica, mas sim a um mero interesse económico dos acusadores.

 

Uma outra obra da mesma época tem uma frase perfeita sobre todo este tema - "a Arte Mágica é a Arte da Comedoria", i.e. de enganar os outros para proveito próprio, mas mesmo assim continua a existir ainda hoje gente menos informada que acredita na feitiçaria, no tarot, nas cartomantes e em outras coisas que tais. Seguindo as palavras de Cícero, não podemos deixar de nos interrogar como é possível que dois "adeptos" dessas artes não se riam, quando se cruzam num qualquer caminho deste mundo...

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09 de Abril, 2020

A verdadeira história da origem da Páscoa

A história da origem da Páscoa é, verdadeiramente, um daqueles temas que dá um grande e proverbial pano para mangas. Na verdade, durante dias até tentámos contá-la de uma forma muito completa nestas linhas mas, de uma forma inesperada, depois o sistema disse-nos, pela segunda vez em seis anos, que a publicação era longa demais. Por isso, conte-se toda esta história mas de uma forma muito mais sucinta e simplificada.

 

Os primeiros passos do ritual da Páscoa vêm dos tempos relatados no Antigo Testamento, quando os Judeus ainda viviam em terras do Egipto. Quem se recordar das famosas "dez pragas" saberá que a última foi a morte dos primogénitos dos Egípcios; para que se salvassem os filhos dos Judeus, Deus ordenou-lhes que, entre outras coisas, sacrificassem um cordeiro e untassem as suas portas com o sangue do animal, de forma a que o espírito divino os reconhecesse e poupasse. Por essa passagem divina é que o festival que viria a comemorá-la ficou conhecido em hebraico como Pesach, i.e. "passagem".

 

Saltando agora alguns séculos no tempo, importa recordar que Jesus Cristo era Judeu. Ele celebrava esse festival da Pesach. Na verdade, é possível - mas não totalmente certo - que a Última Ceia tenha tido lugar nessa altura. E, se tivermos em conta o seu sacrifício e os paralelismos com a história acima, é fácil compreender aquela metáfora de Jesus como um cordeiro que (também) se sacrificou pela humanidade. Nesse sentido, se os primeiros crentes cristãos tinham praticado a religião judaica, pareceu fazer-lhes sentido celebrar o sacrificio do seu "novo" cordeiro na mesma altura em que tinham celebrado o sacrifício de um outro, o "antigo".

Última Ceia e a Páscoa

Esta imagem mostra de uma forma muito interessante essa interrelação entre a Pesach e a Páscoa. Para os crentes cristãos, é aqui fácil reconhecer Judas com a bolsa do dinheiro na mão, acompanhado pelos outros apóstolos e Jesus com o pão e o vinho da Eucaristia... porém, quem também olhar para a mesa, poderá aperceber-se que está lá um (pequeníssimo) cordeiro, pães redondos espalmados (o chamado matzá) e alguns copos de vinho - todos eles directamente relacionados com o ritual dos Judeus. Quando Jesus ofereceu o pão e o vinho, i.e. o seu corpo e o sangue, fê-lo num contexto em que esses elementos eram muito significativos para os Judeus, e em que a Eucaristia até pode ser vista como uma celebração diária do seu sacrifício, enquanto novo e segundo cordeiro de Deus. E se até existem outras semelhanças entre os dois rituais religiosos, detalhá-las a todas vai além do nosso objectivo actual.

 

Mas tudo isto faz sentido, certo? Porém, a história ainda não acaba por aqui. Esta interrelação entre o ritual judaico e o cristão levou a um problema significativo - quando e como celebrar a Páscoa do Cristianismo? Se, em relação ao segundo elemento, na Páscoa cristã ainda existem múltiplas interrelações com a Pesach judaica, já a sua data levou a imensas discussões ao longo dos séculos, mas acabou por ficar definido que seria celebrada na data do primeiro domingo após a primeira lua cheia seguinte ao equinócio da Primavera. Quem fizer as contas notará que este ano é daqui a alguns dias, a 12 de Abril. A Pesach judaica, para quem estiver com curiosidade, é este ano celebrada entre os dias 8 e 16 de Abril.

Dúvidas, será que alguém as tem?

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09 de Abril, 2020

A lenda do Incêndio de Meireiki

A dois de Março de 1657 tomou lugar na cidade japonesa de Edo (hoje Tóquio), um incêndio tão grande que ficou conhecido pelo nome da era em que tomou lugar - o Grande Incêndio de Meireiki. É um facto histórico indisputável que esse flagelo aconteceu mesmo, mas a razão pela qual falamos dele aqui hoje é o facto de uma pequena lenda também se esconder por detrás de toda essa ocorrência real. Não sabemos se esta história também é tão real como o fogo que ardeu na altura, mas diz que tudo começou quando um sacerdote decidiu tentar queimar um kimono que estava amaldiçoado e que acabava por matar todos aqueles que o viessem a possuir. Mas as palavras desta lenda do Incêndio de Meireiki, hoje, deixamo-las para Niall de Burca, que um dia tivemos a oportunidade de conhecer pessoalmente, e a cujas histórias já cá fizemos alusão anteriormente.

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08 de Abril, 2020

A estranha história de Santa Demetra

Pura coincidência...

Era uma vez, há muitos, muitos anos atrás, uma mulher chamada Demetra que vivia em Atenas. Tinha uma filha, cujo nome já há muito foi esquecido, que era a mais bela mulher de toda a região. Um Turco, infiel ás leis cristãs e adepto de magia, viu-a e apaixonou-se por ela, mas a filha de Demetra nunca lhe mostrou qualquer interesse. Então, um dia esse Turco raptou-a de sua casa...

Demetra, horas depois, chegou à casa onde vivia com a filha e não encontrou ninguém lá. Também os vizinhos não sabiam da jovem. Perguntou ao Sol, ás Estrelas, e a tantas outras pessoas, mas ninguém lhe sabia dizer onde estava a sua filha. Até que uma Cegonha, que vivia na casa do lado, lhe contou o que se tinha passado.

Triste, Demetra partiu em busca da filha... por tudo quando viajou, ninguém lhe sabia dizer onde ela estava. Até que um dia, cansada de caminhar sobre a mais fria neve, caiu ao chão. Teria morrido, não fosse o facto de um casal de idosos a terem salvo e levado para a casa em que viviam.

(...) Mais tarde, a filha de Demetra foi salva do horrendo Turco pelo filho desse casal. Juntas, partiram de volta a Atenas, mas Demetra recompensou o casal garantido que a cidade em que estes viviam, Elêusis, teria sempre boas culturas.

 

Em momentos como estes apetece até dizer "qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência"*. Este podia ser um mito da Antiguidade, mas foi ouvido já em inícios do século XX, em terras da Grécia...

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07 de Abril, 2020

O verdadeiro Juramento de Hipócrates

O verdadeiro Juramento de Hipócrates, uma prenda para todos os médicos e profissionais de saúde que tanto têm trabalhado estes dias! No passado, já mencionámos que hoje em dia existem as mais diversas "versões" do Juramento de Hipócrates, entre elas duas disponíveis no site português da Ordem dos Médicos, mas... afinal, o que diz verdadeiramente o juramento original, aquele que se acredita que Hipócrates escreveu? Fomos em busca do texto original em Grego Antigo e seus fragmentos, comparámo-lo com diversas versões (Latinas, Bizantinas, mais recentes, etc.), procurámos ainda traduções dos nossos dias, e com base em toda essa informação podemos então apresentar esta tradução do original:

 

Eu juro por Apolo Médico [i.e. um dos epitetos do deus de Delfos], por Esculápio [deus da Medicina], por Higeia [deusa da saúde], por Panaceia [deusa da cura], e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, a tarefa de cumprir, segundo o meu poder e a minha razão, a promessa que se segue:

 

Estimar, tanto quanto aos meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer com ele vida comum e, se tal for necessário, partilhar com ele os meus bens; considerar toda a sua família como meus próprios irmãos e ensinar-lhes esta arte, se eles quiserem aprendê-la, sem remuneração nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, lições e ensino, aos meus filhos, aos do meu mestre, e aos discípulos que fizeram este mesmo juramento, mas a mais ninguém.

 

Aplicarei o tratamento para ajudar um doente de acordo com o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou fazer mal a alguém. Não administrarei a ninguém um veneno se isso me for pedido, e jamais sugerirei esse caminho. Do mesmo modo. não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Mas conservarei como pura e santa a minha vida e a minha arte. Não usarei a faca, nem mesmo quando [a pessoa] tiver cálculos, deixarei essa operação para quem estuda essa prática.

 

Em todas as casas em que eu entrar, fá-lo-ei para ajudar o doente, mantendo-me longe de todo o dano voluntário, especialmente de abusar do corpo de um homem ou mulher, escravo ou liberto. Aquilo que no exercício da minha profissão, ou fora dele mas no meu convívio com a sociedade, que não seja preciso divulgar, eu guardarei como secreto.

 

Se eu cumprir este juramento, e não o quebrar, que eu ganhe para sempre reputação entre os homens pela minha vida e pela minha arte; mas se o quebrar e me afastar dele, que o contrário me aconteça.

 

Não é, como é fácil perceber, um texto muito longo, mas sim um pleno de significado. Poderia até ser um texto imortal, não fosse o facto de, cada vez mais, se sentir uma necessidade de manter a sua simbologia mas alterar o seu significado, quando não há qualquer necessidade real disso. O Juramento de Hipócrates deve ser isso mesmo, um juramento médico tal como apresentado pelo famoso médico grego, e é estranho que o seu nome seja tão mantido nos nossos dias mas que o seu espírito e texto seja constantemente alterado - na verdade, os médicos com quem falámos pensavam, todos eles, que o juramento que escolheram fazer era o original, aquele que Hipócrates nos deixou... Se é para, metaforicamente, se colar cornos num gato e lhe chamar um touro, pelo menos que se avise as pessoas de que o animal originalmente miava...

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06 de Abril, 2020

"Panchatantra", um texto da Índia

Falar do Panchatantra implica igualmente inseri-lo num contexto. Na cultura ocidental há um livro que teve e tem um impacto profundo na forma como são vistos os vários animais, e esse livro é o das muitas fábulas atribuídas a um Esopo. Porém, existem muitas outras obras semelhantes por todo o mundo, e uma das mais significativas e populares é um texto provindo de terras da Índia e compilado há mais de 2000 anos chamado Panchatantra.

Uma história contida nesta obra

Essencialmente é uma colecção de histórias morais, em que intervêm animais e personagens humanas. Porém, de entre as muitas coisas que as distinguem das fábulas de Esopo, um elemento muito significativo é o facto dos seus cinco livros conterem uma história principal cada, na qual depois vão surgindo as mais diversas histórias secundárias, por vezes até com sub-relatos que surgem no interior de outros. Em todos os casos, surgem num determinado contexto e pretendem ensinar ao leitor uma qualquer lição relevante para a trama. Esse aspecto até torna o texto mais interessante, na medida em que não se está somente a ler um conjunto de fábulas separadas, mas sim uma história contínua em que elas vão surgindo de uma forma bastante natural.

 

E de que falam estas fábulas? Dos homens, dos animais, e dos muitos desafios que nós próprios podemos ir encontrando nas nossas vidas. São hoje quase tão actuais como na altura em que foram transcritas da sua forma oral, existindo algumas que necessitam de algum conhecimento básico da cultura hindu, como no caso da fábula do "Alfaiate e da Princesa", em que o primeiro se disfarça do deus Vishnu para se mostrar merecedor do amor da segunda.

 

Para terminar, que tal uma outra curiosidade? Apesar do conteúdo de algumas das fábulas não ser apropriado para crianças, também existem múltiplas edições do Panchatantra especificamente para crianças, tal como acontece com as fábulas de Esopo, e que podem ser facilmente encontradas numa pesquisa online. Mas, este não é um livro só para crianças - tanto elas, como os adultos seus pais, têm muito para aprender com a leitura destas fábulas, e fica então aqui essa sugestão de leitura, a que voltaremos daqui a alguns dias.

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05 de Abril, 2020

Viagem (virtual) ao Museu Nacional de Arqueologia (Portugal)

O Museu Nacional de Arqueologia

Outro espaço português que pode ser visitado virtualmente é o Museu Nacional de Arqueologia, tanto através de uma exposição temporária (que até já terminou), como de algumas das suas várias colecções permanentes.

 

Esta primeira exposição, intitulada Loulé: Territórios, Memórias e Identidades terminou a 23 de Junho de 2019 mas ainda pode ser visitada nesta forma completamente virtual. Nela, podem ser vistos muitos dos vestígios arqueológicos encontrados no concelho algarvio.

A segunda é a exposição de Antiguidades Egípcias. Também pode ser vista de uma forma completa e com imagens de alta resolução, permitindo-nos visitar o local quase como se lá estivéssemos presencialmente. É, tanto quanto sabemos, uma das poucas exposições de arqueologia egípcia existentes em Portugal.

Esta terceira, é a exposição Religiões da Lusitânia. A entrada é feita pelo lado direito, mas aí podem ser vistos muitos dos vestígios arqueológicos da Antiguidade existentes no nosso país, com uma evidente ênfase nos de carácter religioso, entre os quais podem ser encontrados alguns "velhos amigos" a que já dedicámos algum tempo anteriormente.

 

Infelizmente, a exposição Tesouros da Arqueologia Portuguesa não pode ser vista neste formato virtual. Desconhecemos se isso se deve a razões de segurança, ou ao facto desta ter estado em reformulação na altura em que muitas destas imagens foram gravadas, mas claro que é sempre melhor podermos aceder a três das exposições do que não conseguir fazê-lo para nenhuma delas. E, se nos permitem um breve instante de informalidade, isto foi divertido, esta possibilidade de, aqui na sala de casa, irmos vendo as exposições à distância, discutindo o que estamos a ver de uma forma que nem sempre é possível num ambiente mais físico.

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