Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Mitologia em Português

14 de Maio, 2020

A anatomia de um mito - a criação do Covid

Hoje decidimos igualmente falar de um tema um tanto ou quanto diferente, expondo uma das formas como se cria um mito, recorrendo para isso a um caso bem real e muito actual para os nossos dias - o da criação do Covid.

Criação do Covid

Ora bem, quem seguir toda esta história nos media saberá que, à presente data, é desconhecido como surgiu o Covid. Repita-se: até agora, ninguém bem informado e com conhecimento real de toda esta matéria se atreveu a dizer, conclusivamente, como foi que esta doença surgiu e acabou por ser transmitida aos seres humanos. Contudo, o ser humano gosta muito de ter respostas, gosta de tentar compreender as coisas, e isto levou a que começassem a surgir teorias - teorias estas, frise-se, que ainda não têm qualquer suporte completamente real na pesquisa científica. Por isso, as pessoas decidiram criar "algo" que as permitisse explicar o fenómeno e que as ajudasse a lidar com toda a situação. E assim, reproduzimos aqui duas das opiniões, ou mitos, que fomos ouvindo:

 

Na primeira delas, que parece ser a mais antiga, é dito que o Covid proveio do Pangolim, um animal que apenas existe na África subsariana e no sudeste asiático. Nesse seguimento, a doença teria sido transmitida aos seres humanos por "alguém" ter tido relações sexuais e/ou comido este animal. Essa indefinição de todo o processo, bem como algumas semelhanças com histórias anteriormente associadas ao vírus da Sida - a sério, quem é que teria relações sexuais com um Macaco (ou um Pangolim)?! - joga com um desconhecimento geral de toda a situação, procurando de alguma forma criticar uma cultura em que, admitidamente, se comem animais que não existem na nossa cultura ocidental, e que por isso dão maior azo a mitos como estes.

 

Na segunda, é dito que esta doença foi criada em laboratório. Como uma idosa nos disse ainda há uns poucos dias, "há muita, muita gente na China, e então eles criaram este vírus para diminuir a população, mas não estavam era à espera que ele se fosse espalhar pelo mundo todo". O que dizer desta segunda versão? Assenta, novamente, na presença de uma cultura que muitos desconhecem, pegando num elemento que a generalidade da população até conhece - que a população da China é muito numerosa - e construindo todo um novo mito em redor dessa pedra basilar.

 

Qual destas duas opiniões, ou mitos, sobre a criação do Covid se podem apresentar como correctas? À presente data nenhuma delas, mas mesmo assim existem pessoas que acreditam numa ou na outra, conforme o que parece fazer mais sentido para si próprios. Frise-se, novamente, que não sabemos se estas duas opiniões estão correctas, se apresentam uma visão palpável da nossa realidade, mas mesmo assim persistem dia após dia, e provavelmente irão continuar a persistir até que se saiba com uma maior precisão científica de onde veio esta versão de uma doença que agora tanto nos molesta.

E assim, nessa ausência de informação admitidamente real, se criam mitos, tentando fazer sentido da criação desta doença com base naquilo que já conhecemos e que conseguimos perceber sem muita dificuldade... quando, na mais completa das verdades, ainda nada de completamente fiável se sabe sobre todo este tema.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!
14 de Maio, 2020

Porque se diz que os faraós do Egipto eram deuses na terra?

Pirâmide de Unas

Uma ideia que nos é muito passada em tempos de escola é que os faraós do Egipto eram vistos como deuses na terra. É uma ideia que está tão enraizada na cultura popular que até se torna difícil compreender de onde ela vem, até porque são poucos os textos escritos em papiros que nos chegaram dessa altura. Porém, quem consultar os textos nas paredes da pirâmides (e a esse tema voltaremos daqui a uns poucos dias) poderá compreender facilmente a origem dessa ideia. Nesse sentido, vejam-se aqui três sequências presentes na Pirâmide de Unas:

 

Se [o faraó] Unas for enfeitiçado, [o deus] Atum será enfeitiçado,
Se Unas for oposto, Atum será oposto,
Se Unas for atacado, Atum será atacado,
Se Unas for parado no seu caminho, Atum será parado.
Unas é Hórus, Unas veio depois do seu pai,
Unas veio depois de Osíris. [Sequência 310]

Levantem a vossa cabeça, ó deuses que estão no céu!
Unas veio, para que o possam ver,
Tendo-se tornado um grande deus. [Sequência 252]

Levem Unas com vocês,
Para que possa comer do que vocês comem,
Para que possa beber do que vocês bebem,
Para que possa viver do que vocês vivem,
(...)
Para que possa navegar no que vocês navegam. [Sequência 143]

O que é muito notório, nestas três sequências, é uma relação íntima entre as figuras divinas e o Faraó Unas, quase como se estivessem, todos eles, em pé de igualdade. Esta visão do ser humano a par dos deuses contrasta bastante, por exemplo, com a visão grega, em que por muito que um herói lute só pode converter-se numa figura divina após a morte, como é bem conhecido do caso de Hércules. No entanto, como estas linhas provam a visão egípcia era muito diferente - o faraó, pela sua importância cultural, já era visto como um deus terreno, uma espécie de novo Hórus, algo que atestam os textos hieroglíficos nas paredes de muitas pirâmides.

Infelizmente, estes textos não nos explicam é o limite dessa ideia - será que os habitantes do Egipto nessa altura consideravam o seu monarca mesmo como um deus, semelhante a Atum ou Hórus, ou reconheciam nele um carácter parcialmente humano, já que este, contrariamente aos deuses dos seus mitos, tinha de um dia morrer para este mundo? Mesmo que ambos fossem vistos como deuses, será que a reverência dedicada ao faraó e aquela prestada a figuras como Rá eram somente uma e a mesma? Isso já é mais difícil de se saber, visto que os poucos textos que nos chegaram raramente parecem falar desse aspecto cultural de uma forma imparcial.

Gostas de mitos, lendas, livros antigos e muitas curiosidades?
Recebe as nossas publicações futuras por e-mail - é grátis e irás aprender muitas coisas novas!