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Mitologia em Português

26 de Maio, 2020

A "Visão de Túndalo" e o inferno medieval

Um episódio da Visão de Túndalo

A Visão de Túndalo, conhecida no original latino como Visio Tnugdali, pode ser vista como a grande predecessora medieval da visão do inferno de Dante Alighieri. Na verdade, quem for ler os dois textos poderá, sem muita dificuldade, notar que existe uma relação notória entre eles, sendo muito possível que o poeta italiano até conhecesse este poema do século XII. Mas, se a obra italiana é muito famosa, qual é a trama desta Visão de Túndalo? Podemos resumir este poema de uma forma breve:

 

Túndalo era um cavaleiro rico que conduzia a sua vida cometendo os maiores e mais brutais pecados. Depois, um dia, enquanto jantava, caiu num enorme torpor e sentiu-se a morrer. Foi parar ao inferno, onde, acompanhado por um anjo, não só viu as muitas torturas que existiam por lá como até teve - não porque o quisesse, mas porque a isso foi obrigado - que participar nelas, sentindo parte dos sofrimentos que os pecadores também passavam.

A essa visão do inferno - certamente o elemento mais famoso da obra - segue-se uma pequena visão dos penitentes e do feliz destino daqueles que tinham seguido uma vida conforme os preceitos do Cristianismo. E, face a todas essas visões, Túndalo fica tão impressionado que quando volta ao mundo dos vivos, corrige por completo todos os seus comportamentos negativos, dá as suas riquezas aos pobres e torna-se um homem santo.

 

Mesmo por esta breve sinopse, quem conhecer a Divina Comédia conseguirá entender as semelhanças. Porém, o que Dante parece ter adicionado ao tema é um elemento particularmente curioso, em que a punição dos diversos pecadores é ligada de uma forma directa aos seus próprios crimes, enquanto que neste poema essa relação ainda não era assim tão consistente e notória. Além disso, o próprio sofrimento de Túndalo pode ser resumido num simples e repetitivo "ele viu X, depois passou por isso, e finalmente o anjo salvou-o desse castigo", tornando a obra significativamente formulaica.

 

Enfim, a Visão de Túndalo não é uma obra literária muito interessante para o leitor comum, essencialmente porque nos apresenta um conjunto de ideias que depois foram reutilizadas, com um resultado muito mais digno de nota, na Divina Comédia. Porém, é uma obra notória para quem tiver curiosidade relativamente à forma como o conceito do pós-vida cristão foi evoluindo ao longo dos séculos.

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26 de Maio, 2020

O mito da deusa Éris, personificação da discórdia

A deusa grega Éris podia ser só mais uma personificação como tantas outras. Podia ser uma daquelas figuras de que raramente nos lembramos, como Fobos (o medo), Deimos (o pânico), ou até os Erotes, mas bastou uma só participação na Mitologia Grega para a tornar uma das mais famosas deusas da Antiguidade Clássica.

Uma maçã na mesa dos deuses

Conta-nos o mito que numa data incerta os deuses celebraram o casamento do mortal Peleu com a ninfa Tétis. Todas as figuras divinas foram convidadas, da maior à mais pequena, com uma única excepção - a deusa Éris, a discórdia personificada.

Naturalmente zangada pela ausência de convite para um banquete em que até seres disformes estiveram presentes, a deusa rapidamente decidiu vingar-se - enviou ao banquete uma prenda, uma maçã (ou pomo) com a inscrição "Para a mais bela". E o resto, como se costuma dizer, é história.

 

O que não pode deixar de ser particularmente fascinante neste mito é o facto de esta deusa Éris, personificação da discórdia, ter um único papel e presença real nos mitos gregos, mas é um papel fulcral na instigação da Guerra de Tróia, cuja fama até chegou aos nossos dias. O seu nascimento aparece em Hesíodo, a deusa é mencionada como uma mera personificação em diversas outras histórias, mas esta sua intervenção directa no casamento de Peleu e Tétis é hoje o único instante em que ela age por si mesma. E talvez isso até explique o porquê dos Romanos venerarem a deusa Concórdia, não fosse o proverbial diabo tecê-las e Éris, a Discórdia sob o seu nome grego, voltar a fazer das suas...

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