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Mitologia em Português

28 de Maio, 2020

A origem dos Gnomos, Silfos, Salamandras e Ondinas

A origem e por detrás destas quatro criaturas - Gnomos, Silfos, Salamandras e Ondinas - é tão semelhante que nos pareceria absurdo tentar separá-las, razão pela qual temos de unir as suas quatro histórias neste breve relato.

Gnomos, Silfos, Salamandras e Ondinas e os Quatro Elementos

A ideia ocidental de que existem quatro elementos no nosso mundo, de que tudo o que existe é originário e composto, vem dos tempos da Antiguidade, como já cá foi apontado antes. Da mesma altura também vem uma ideia de que existiam vários seres semidivinos que habitavam na natureza, como as Dríades e as Ninfas. Face a estas duas ideias, no século XVI - e já num contexto da Alquimia - o suíço Paracelso parece ter inferido um passo adicional... e dizemos que "parece" porque, na verdade, esta informação surge em uma das suas obras, Ex Libro de Nymphis, Sylvanis, Pygmaeis, Salamandris et Gigantibus, etc, de uma forma muito misteriosa, em que o autor nos diz que toda a ideia já o precedia, que os quatro nomes tinham sido (mal) escolhidos por terceiros, mas depois, quem for tentar investigar todo o tema, apercebe-se que não parece existir qualquer fonte escrita sobre estes temas que o preceda.

 

O que são, então, estas quatro classes de criaturas? Essencialmente, e segundo o autor, elas são uma espécie de espíritos que habitam em cada um dos quatros elementos. Se, por exemplo, os seres humanos conseguem respirar o ar mas se afogam na água e se queimam no fogo, as ideias deste autor postulam que existem classes existenciais que reagem de uma forma semelhante nos seus respectivos elementos, i.e. os Gnomos vivem na terra, os Silfos ou Sílfides no ar, as Salamandras no fogo e as Ondinas na água. É uma ideia que pode levantar um conjunto enorme de questões, até porque em alternativa o autor também lhes chama Pigmeus, Silvestres, Vulcanos e Ninfas, pelo que convém falar um pouco mais sobre aquela tal obra em que o autor os refere a todos pelo que parece ser a primeira vez literária.

 

Sobre o Ex Libro de Nymphis, Sylvanis, Pygmaeis, Salamandris et Gigantibus

 

De que fala, portanto, o Ex Libro de Nymphis, Sylvanis, Pygmaeis, Salamandris et Gigantibus? Ele não foi fácil de obter nos dias de hoje (já cá falámos brevemente do problema), mas ao longo de seis capítulos Paracelso explica que estas criaturas foram criadas por Deus mas não têm alma, necessitando de casar com seres humanos para a obter - mas, curiosamente, isso só parece acontecer no caso das Ondinas! Continua explicando que cada uma destas quatro criaturas vive no seu próprio elemento, em que circunstâncias elas aparecem aos seres humanos, e dedica um capítulo exclusivo aos Gigantes, aqui definidos como seres nascidos da terra, antes de terminar com um capítulo em que explica as suas causas e consequências. Então, explicando-se tudo isto de forma breve, cada uma das quatro espécies vive num determinado elemento e Deus utiliza-as para determinadas tarefas em cada um deles, como por exemplo, no caso dos Gnomos, garantir que os seres humanos não encontram os tesouros no interior da terra demasiado depressa.

Mas... se já se falou de duas das espécies, o que dizer sobre os Silfos e as Salamandras? O autor até dedica alguns parágrafos à primeira destas duas, definindo-as como os "seres da floresta", mas sobre as segundas nunca parece dizer nada de muito significativo, o que não pode deixar de intrigar o leitor. Será que nada se sabia sobre elas? Será que eram apenas as criaturas que viviam nos vulcões, nas chamas, e nos fogos fátuos, que nos chegavam para anunciar mortes vindouras? Se, alguns dos casos, parece já existir uma mitologia bem definida por detrás destas classes de seres, em outros isso não acontece, levando a que este livro dê, de uma forma quase constante, a ideia de que o autor sabia, ou tinha ouvido, muito mais do que aquilo que nos deixa por escrito.

 

Ainda assim, as ideias aqui sugeridas acabaram por ter uma certa importância não só na cultura ocidental, como também em jogos de computador, em que estas criaturas aparecem frequentemente. A título de exemplo, sabiam que, na versão original da história de Hans Christian Andersen, a Pequena Sereia era na verdade uma Ondina, o que até pode justificar o estranho final da sua história, em que a jovem queria casar com um ser humano? O Gnomo já nos parece, hoje, muito mais frequente em histórias ficcionais, enquanto que os Silfos e as Salamandras (enquanto seres místicos, não nos referimos ao animal!), parecem estar muito mais esquecidos que os outros seus companheiros...

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28 de Maio, 2020

A lenda do Basilisco de Viena - e os outros basiliscos!

Um ataque ao basilisco de Viena

Quem for a Viena, capital da Áustria, poderá sem grande dificuldade encontrar um local a que os nativos chamam Basiliskenhaus, ou casa do basilisco. Situada em Schönlaterngasse nº 7, a fachada do edifício contém uma antiga estátua do monstro, uma pintura alusiva à lenda e um relato de toda a ocorrência (em alemão). Não valerá a pena traduzir as palavras precisas da lenda, mas podemos recapitulá-la, tal como nos foi contada há alguns anos.

Em 1212 existia uma padaria nesta mesma localização. Dado dia, quando um aprendiz de padeiro necessitou de ir buscar água a um poço próximo, pelo horrendo cheiro que vinha do interior apercebeu-se da presença de uma estranhíssima criatura. Por razões que não são totalmente claras conseguiu reconhecê-la como um basilisco, e sabendo que a criatura transformava em pedra todos aqueles para quem olhava, depressa formulou um plano para a destruir.

Voltando a sua casa, foi buscar um pequeno espelho e usando uma corda desceu ao interior do poço. Movendo-se rapidamente, apontou logo o espelho à criatura, que acabou por usar o seu enorme poder destruidor contra si mesma, explodindo. Depois, tal foi a fama de todo este episódio [histórico?] que os habitantes da cidade decidiram construir no local um memorial.

 

Mas, para nós, o que toda esta lenda do Basilisco de Viena tem de mais especial é o facto de nos preservar no tempo um momento muito concreto da crença nesta criatura. Quem a for procurar em fontes da Antiguidade saberá que se tratava de um animal metade-galo, metade-serpente, por vezes nascido da estranha paixão entre esses dois animais ovíparos, e que matava quem se cruzava com ele de alguma forma muito pouco comum.

Que forma era essa... depende da versão do mito! Em algumas é o cheiro do animal que é mortal; noutras, é o seu olhar, como se de uma nova Medusa se tratasse; uma terceira versão atribiu esses poderes ao próprio aspecto da criatura, que matava - por magia? - quem se atrevia a olhar para ela; ainda outras falavam do próprio toque do estranho animal. E assim por diante, com inconsistências que são fáceis de explicar pela notória impossibilidade de alguém ter visto (verdadeiramente) um basilisco, seja em Viena ou em algum outro local.

 

O Basilisco de Viena é, para quem prestar muita atenção, uma confluência de crenças sobre algumas das várias versões do basilisco. Por exemplo, ele cheira mal - mas já não mata pelo cheiro; ele tem um olhar mortal, mas que apenas afecta aqueles para quem olha - ou seja, o aprendiz de padeiro pode vê-lo sem se transformar em pedra; mais do que ser transformada em pedra pelo seu próprio poder, a criatura explodiu - impedindo que alguém a capturasse. É, por isso, um perfeito exemplo de como as crenças sobre determinadas criaturas lendárias foram evoluindo ao longo dos séculos, sendo em plena Idade Média já muito diferentes de como eram conhecidas na Antiguidade.

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