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Mitologia em Português

29 de Junho, 2020

A Mitologia Japonesa, o Kojiki e o Nihongi

Uma edição do Kojiki

Quando se quer conhecer algum novo sistema de mitos um grande problema tende a ser o de descobrir por onde começar. É por isso que, a título de exemplo, em aulas de Mitologia Grega se costuma introduzir um texto como a Ilíada de Homero ou a Teogonia de Hesíodo - porque são um bom ponto de partida para explorações adicionais. Nesse seguimento, podemos dizer que para a Mitologia Japonesa um bom exemplo desse mesmo tipo de literatura é o Kojiki (possivelmente seguido pelo Nihongi), que até é o mais antigo texto que nos chegou do País do Sol Nascente.

 

O que é, então, o Kojiki? De forma breve, pode ser resumido como uma compilação histórica do século VIII da nossa era, que cobre os principais eventos do Japão desde os inícios do mundo até muito próximo da data de compilação. O que isto tem de muito relevante é o facto não só de preservar a memória desses eventos supostamente históricos, mas de o fazer quase em paralelo com a apresentação de muitos mitos e lendas japonesas (isto, no segundo e terceiro volumes - o primeiro é quase puramente mitológico), chegando ao ponto de se confundir onde termina a ficção e começam os factos propriamente ditos. E, por essa fusão, acaba por ser uma obra que dá um prazer de leitura pouco comum em obras da sua natureza.

 

É verdadeiramente possível que esse prazer venha da forma simples como toda a ficção e realidade se fundem no texto. Talvez esse prazer até venha dos pequenos poemas que se acreditava que as personagens tinham dito numa dada altura das suas vidas. A título de exemplo, o herói Yamato Takeru reencontra a sua amada após uma longa ausência e apercebe-se de que ela está com a menstrução. Diz-lhe então o seguinte:

Acima da celeste
Montanha Kagu
Voa como um foice afiada
O cisne de pescoço comprido.

O teu braço magro e delicado
É como o pescoço do pássaro -
Apesar de eu desejar tocá-lo
Num meu abraço;
Apesar de eu desejar
Dormir contigo,
Na bainha
Do robe que usas
A lua nasceu.

Ao que a sua amada, conhecida aqui como Miyazu-hime, lhe responde com as seguintes palavras:

Ó muito brilhante,
Príncipe do Sol,
Ó meu grande senhor
Que lidera em paz!

Como os anos
Passam um a um,
Também as luas
Passam uma a uma.
Não é mistério
Que enquanto esperava por ti,
No robe
Que estou a usar
A lua tenha nascido.

 

É um pouco difícil ler estas palavras sem que, pelo menos, nos surja um breve sorriso nos lábios. E, depois, lembramo-nos que, supostamente, esta se deveria tratar de uma obra histórica, em que raramente há motivos para tais liberdades. Nesse sentido, este é um texto que não só nos vai contando, aqui e ali, alguns dos mais famosos mitos do Japão, mas também o faz de uma forma tão interessante quanto bela. Por isso, se alguém quiser aprender mais sobre a Mitologia Japonesa, talvez a melhor obra por onde começar seja mesmo este Kojiki - se possível até com notas explicativas, devido a algumas sequências que nem sempre são fáceis de compreender.

 

Depois, se assim o desejar, pode continuar com um outro texto da mesma época e de natureza muito similar, o Nihongi, que conta os mesmos eventos da Mitologia Japonesa mas de uma forma muito mais detalhada, chegando ao ponto de relatar, para cada episódio, diversas versões de autores e obras distintas, raramente identificados pelo compilador. Porém, essa já é uma obra mais complexa e bem menos agradável para uma leitura meramente casual, sendo mais apropriada para leitores mais avançados, que procurem o máximo de informação disponível sobre algum mito ou episódio histórico em particular...

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