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Mitologia em Português

20 de Agosto, 2020

A lenda da Nossa Senhora da Arrábida

Nossa Senhora da Arrábida

É provável que a lenda da Nossa Senhora da Arrábida, em Setúbal, seja uma daquelas com que o espaço lendário se cruza diariamente na vida de milhares de pessoas, mas que também poucos ainda tendem a reconhecer. Sim, é famoso o Convento da Arrábida, construído no século XVI, mas esta história - e as devoções que lhe estão associadas - é-lhe muito anterior, possivelmente ainda das primeiras décadas do século XIII.

 

Conta então a lenda que um mercador estrangeiro, de nome Hildebrand (ou Hildebrant?), viajava para Lisboa quando, a meio de uma qualquer noite, se deparou com uma tempestade infernal. Temendo a enorme fúria dos mares, procurou uma imagem de Nossa Senhora a que já era muito devoto, mas por muito que a procurasse não conseguia encontrá-la em lado nenhum. Procurou então uma alternativa - pôs-se a rezar, juntamente com os seus companheiros de viagem, e depressa a tempestade desvaneceu, aparecendo igualmente, no meio de uma montanha próxima (a da Arrábida, naturalmente), uma enorme luz que aclarava o escuro da noite.

Curiosos, na manhã seguinte Hildebrand e os seus companheiros dirigiram-se para esse local, em busca da proveniência da luz misteriosa. E o que encontraram por lá? Nada mais, nada menos, do que a imagem que tinha desaparecido miraculosamente. Na verdade, foi tamanho esse milagre que Hildebrand abandonou a sua vida comercial e dedicou o resto dos seus dias ao local em que esta estranha ocorrência teve lugar, tornando-se ainda mais devoto do que antes.

 

Infelizmente, o local fundado por Hildebrand já há muito parece ter sido perdido nas vastas areias do tempo. Fruto de devoções posteriores, o mesmo espaço em que imagem original foi encontrada foi sendo reocupado por outros locais, nomeadamente pelo já-famoso Convento da Arrábida, o que nos impede de saber muito mais sobre o original, tal como ele foi fundado pelo ex-mercador e como existia anos depois, em finais do século XIII. Neste caso não temos a certeza se isso será necessariamente bom, mas pelo menos faz-nos acreditar na existência de uma grande e contínua devoção a esta figura da Nossa Senhora da Arrábida.

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20 de Agosto, 2020

A lenda do Papa Judeu

A lenda do Papa Judeu merece ser contada por cá em virtude do facto de levantar algumas questões curiosas. Claro que, por definição, um papa terá de ser católico, terá de ter professado uma vida religiosa, e mesmo em casos estranhos, como o da Papisa Joana ou do Bispo Negro, essa educação religiosa teve de existir. Mas então, qual é o seu limite? Poderá um antigo Judeu aceder ao trono papal?

A lenda do Papa Judeu

A lenda do Papa Judeu, que vem da Idade Média, conta-nos que numa dada altura o filho de um rabi (um chefe religioso de uma comunidade judaica) foi raptado por uma empregada cristã. Posteriormente foi aprendendo mais e mais da religião católica, até que se tornou religioso e foi ascendendo de posição na Igreja até que acabou por se tornar papa. Então, já desse topo do trono papal, começou a interrogar-se sobre as origens da sua família, acabando por descobrir que tinha raptado de uma família judaica. O seu pai foi então chamado, e foi - segundo as versões mais curiosas que encontrámos - capaz de o reconhecer durante um jogo de xadrez, instando-o depois a juntar-se àquela que considerava ser a verdadeira religião, o Judaísmo. Dias depois, este Papa - cujo nome a história não parece preservar - chamou todos os maiores dignatários, subiu a uma torre, abandonou a fé cristã e proclamou a sua fé judaica. Em seguida suicidou-se, atirando-se do local.

 

Claro que esta lenda do Papa Judeu é apenas isso mesmo, uma lenda. Provavelmente nem terá um fundo de verdade - desconhecemos a história de algum papa que se tenha suicidado como estas linhas nos dizem - mas é uma de muitas histórias judaicas criadas na Idade Média e que normalmente exaltam essa religião face ao Cristianismo. Se, como a trama desta lenda nos diz e como também devemos inferir, até um papa consegue ver a suposta falsidade da religião católica, como seria possível que os seus crentes não a vissem também? É uma questão que a história, com quase 1000 anos, nos deixa em aberto, mas para os seus leitores originais - quase sempre Judeus, porque ela aparece em livros de histórias judaicas - a resposta teria sido óbvia, exaltando a religião judaica face à sua congénere cristã.

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