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Mitologia em Português

24 de Agosto, 2020

A lenda do Lagarto da Penha de França

Contar a lenda do Lagarto da Penha de França transporta-nos para um local muito singular da capital de Portugal. De entre as muitas freguesias lisboetas conta-se uma com este nome, que obteve o seu nome da respectiva padroeira, a (espanhola) Nossa Senhora da Penha de França. Agora, quem for ao local, muito próximo da igreja que tomou esse mesmo nome poderá encontrar nas paredes a referência a uma breve lenda:

Pode então aqui ser visto um enorme lagarto, o chamado "Lagarto da Penha de França", e por baixo dele, a contornar toda a curva, está um resumo da respectiva história, numa curiosa iniciativa que seria certamente interessante repetir em muitos outros locais de Lisboa:

Reza a lenda que um devoto adormeceu na colina. Nesse momento, ao ser atacado por uma cobra, eis que um lagarto surgiu em seu auxílio por intercessão de Nossa Senhora da Penha de França.
Já poucos o saberão, mas esta lenda, cumulativamente com uma cobra e um lagarto, não é a original e nasceu da fusão de dois episódios diferentes agora associados ao mesmo local... e é aqui que toda esta história se torna muito mais interessante.
 

A verdadeira lenda do Lagarto da Penha de França!

 

A primeira parte da lenda tomou lugar numa altura agora demasiado incerta, mas antes do ano de 1743 (em que este animal já era famoso na cidade). Segundo ela, em dada altura um peregrino estava a descansar debaixo de uma árvore e adormeceu. Quando um enorme lagarto se preparava para o atacar, ele foi acordado por Nossa Senhora, que o instigou contra o animal, levando a que o homem depressa o matasse com um punhal. Depois, o bicho foi levado para a igreja local, onde permaneceu durante pelo menos alguns anos e se tornou famoso, sendo até representado em ligação com o local no ano de 1756, como visto nesta imagem da época, que só nos chegou por intermédio de uma devota do local:

O Lagarto da Penha de França e sua lenda

Pode aqui ser visto o peregrino e um pequeno lagarto, mas é importante é notar a ausência de qualquer cobra. Isto, porque nessa altura ela ainda não fazia parte da mesma história, contrariamente ao que a lenda actual faz acreditar, mas já era este o então-famoso Lagarto da Penha de França.

 

E de onde veio então a cobra? Explique-se - por volta do ano de 1743 chegou a Lisboa uma nau "chamada S. Pedro e S. João da Companhia de Macau". Quando os navegadores estavam a descarregar o seu navio encontraram lá um viajante ilegal vindo de terras do Oriente, uma enorme cobra. Mataram-na, e depois, dada a fama do lagarto de que falámos acima, enviaram-no para a Igreja da Penha da França, para que este enorme animal fosse apresentado em conjunto com esse seu outro colega. E então, nesse ano eles eram exibidos como mostramos abaixo - com o lagarto e o peregrino no seu conjunto individual, mas com a cobra totalmente separada, porque não fazia (ainda) parte da mesma lenda.

O Lagarto e a Cobra de Penha de França

Portanto, durante pelo menos alguns anos estes dois animais foram apresentados em separado. Existia na mesma igreja o então famoso Lagarto da Penha de França, mas também uma grande cobra vinda de terras de Macau, sei que existisse uma verdadeira relação entre eles. Não sabemos quando é que os corpos dos dois animais desapareceram - talvez por volta do Terramoto de 1755? - mas depois foram substituídos por versões em madeira, potencialmente as mesmas que ainda hoje podem ser vistas - curiosamente separadas - no local religioso. Com a passagem do tempo, as suas histórias foram-se fundindo numa só, em que o vilão original passou a herói, provavelmente em virtude da sua grande fama... mas, necessitando-se de um novo vilão, ele nasceu da grande cobra também já presente no local. E isto levou à lenda tal como a temos hoje, como ela é apresentada naquela parede lisboeta, sem que alguma vez se explique o verdadeiro caminho que conduziu ao cruzamento destes dois animais... mas que esperamos que agora já possam conhecer por estas linhas de hoje!

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24 de Agosto, 2020

O mito de Babel (e a Torre de Babel)

O mito de Babel refere-se, essencialmente, a uma antiga cidade que se acredita que existiu no Crescente Fértil, ou seja, numa região que era irrigada pelos rios Jordão, Eufrates, Tigre e Nilo. Hoje não sabemos se essa antiga cidade verdadeiramente existiu, ou se se trata de um mero mito judaico (e, posteriormente, cristão), mas a grande razão da sua fama nos dias de hoje prende-se com a história de um edifício que se acredita que existiu nessa cidade, e que teve o nome de Torre de Babel.

O mito de Babel e da Torre de Babel, à esquerda

O mito de Babel, ou da Torre de Babel (possivelmente representada acima, na carta de tarot do lado esquerdo), conta-nos então que após o dilúvio universal (i.e. o famoso episódio da Arca de Noé), todas as pessoas vieram a falar uma mesma língua, que alguns crêem ter sido uma forma antiga do Hebraico. Unidas por esse pensamento e linguagem comuns, decidiram trabalhar juntos e construir uma enorme torre, pela qual esperavam conseguir tocar os próprios céus e Deus. Porém, esta divindade, por razões que não são totalmente claras no texto, decidiu destruir essa torre, antes de separar todas as pessoas em várias línguas distintas, para que jamais pudessem voltar a colaborar da mesma forma. Assim, jamais poderiam vir a construir uma nova torre, ou aspirar a tocar os céus como um dia o tinham feito.

 

O mito de Babel é, sem qualquer dúvida, o da Torre de Babel. Esse é um ponto assente, mas ele procura explicar o porquê de, se todos nascemos de um mesmo pai e mãe - Adão e Eva, segundo o pensamento alegórico judaico e cristão - como foi possível que nascessem várias línguas e as pessoas, supostamente irmãs, deixassem de conseguir comunicar entre elas.

 

Mas terá esta famosa torre existido? Será que o mito de Babel, ou uma possível lenda da Torre de Babel, têm um fundo de verdade? Já não sabemos onde terá sido essa cidade, de uma forma mais precisa, mas ao longo dos tempos criou-se a ideia de que este famoso edifício se poderá ter tratado de um zigurate na região da Mesopotâmia, uma espécie de pirâmide com várias plataformas, cujo tempo e diversos eventos históricos foram destruindo por completo; mais que isso já não nos é possível saber, neste momento...

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24 de Agosto, 2020

Três feitiços estranhos do Livro de São Cipriano

Para prosseguir este tema sequencial achámos que poderíamos deixar por cá três feitiços estranhos do Livro de São Cipriano. Como antes, cuidado, algumas das coisas mencionadas nestas linhas poderão ofender os mais sensíveis.

Rectângulo para ritual

Para obrigar as senhoras a dizerem o que fizeram ou o que irão fazer, o feitiço passaria então pelo seguinte - "Juntar o coração de um pombo com a cabeça de um sapo, secá-los e reduzi-los a pó. Colocar esse pó num saquinho, juntamente com um pouco de almíscar. Colocar esse saco debaixo da almofada da pessoa, e ela logo irá revelar o que se pretende saber. [Mas cuidado!,] Poucos minutos depois o saco deve ser removido, ou a pessoa poderá morrer com uma febre cerebral."

 

Como causar um aborto? Bem, quando faltar um período a uma mulher e ela achar que pode estar grávida, basta-lhe colocar os pés em água muito quente, "o mais que possa suportar", e supostamente o período depressa virá! Será que isto funciona? Não recomendamos o teste!

 

Para terminar estes temas, como se poderá saber se uma pessoa nos é fiel? É  bastante simples, basta realizar-se o seguinte ritual - "Faz-se na terra uma cova com a profundidade de dois pés. Deita-se no interior 30 libras de enxofre em pó, 30 de limalha de ferro, e água suficiente, todos muito bem misturados. Coloca-se sobre esta mistela o retrato da pessoa envolvido em couro, ou um papel com o nome dela. Cobre-se o buraco com a terra, devendo ser dito 'Cipriano, pelo teu saber de mágico e pela tua virtude de santo, faz com que eu saiba se [nome aqui] me é fiel.'" Mas ainda não acabou, as indicações continuam - "Passadas 15 horas essa terra começará a expelir labaredas e cinzas. Se o retrato for consumido, é porque a pessoa está apaixonada [por outra pessoa, supõe-se]; se ele for poupado, é porque a pessoa é fiel. Se o retrato ficar dentro da terra, é porque a pessoa tem simpatia por alguém; se for atirado a uma pequena distância, é porque está a tentar terminar uma relação; se for atirado para longe, é porque a pessoa vem de volta para quem a chama."

 

Como antes, deixamos a quem acreditar nestas coisas a tarefa de as testar, se assim o desejarem.

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