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Mitologia em Português

09 de Setembro, 2020

O que diz a Oração da Cabra Preta Milagrosa?

A Oração da Cabra Preta Milagrosa é quase certamente uma das mais famosas de determinadas edições do Livro de São Cipriano. É uma espécie de inovação introduzida em algumas dessas versões para lhe dar um valor adicional, para tentar justificar uma nova compra de uma obra que a pessoa até já poderá ter em casa, ainda para mais se acreditar nestas coisas da Magia. Mas o que diz esta oração, na verdade? E será que é verdadeira, que vem de tempos da Antiguidade, ou que foi apenas criada mais recentemente? O seu texto nem sempre é fácil de encontrar, pelo que o reproduzimos aqui, antes de nos focarmos brevemente no seu conteúdo:

Cabra Preta milagrosa, que pelo monte subiu, trazei-me (nome da pessoa), que de minha mão sumiu.

(nome da pessoa), assim como o galo canta, o burro rincha, o sino toca e a cabra berra, assim tu hás-de andar atrás de mim.

Assim como Caifás, Satanás, Ferrabrás e o Maioral do Inferno, que fazem todos dominar, fazei (nome da pessoa) se dominar, para me trazer cordeiro, preso debaixo do meu pé esquerdo.

(nome da pessoa) , dinheiro na tina e na minha mão não há de faltar; com sede, tu, nem eu, não haveremos de acabar; de tiro e faca, nem tu, nem eu, não há de nos pegar; meus inimigos não hão de me enxergar.

A luta vencerei, com os poderes da Cabra Preta milagrosa. (nome da pessoa), com dois eu te vejo, com três eu te prendo, com Caifás, Satanás, Ferrabrás.

A Oração da Cabra Preta Milagrosa

O que esta oração específica, também conhecida sob o nome mais simples de A Oração da Cabra Preta, tem de particularmente digno de nota é que não foi escrita por São Cipriano. Não pode tê-lo sido. E não pode tê-lo sido por uma razão muitíssimo simples - o nome de Ferrabrás é muito pouco frequente, e a alusão mais antiga que temos a ele é numa canção de gesta medieval, em que nomes estranhos como estes tendem sempre a abundar. Quem inventou esta suposta oração - e, admita-se, não sabemos quem foi - introduziu esse nome aqui pela sua rima com Caifás, figura bíblica, e com Satanás, o opositor de Deus e Jesus Cristo, mas parece desconhecer o seu significado original.

Além disso, quem for comparar esta Oração da Cabra Preta Milagrosa, ou feitiço mágico, ou o que preferir chamar-lhe, com outras produções presentes no mesmo livro - por exemplo, estes três feitiços de amor - depressa se aperceberá do quão diferentes são, e do quanto esta outra produção destoa no contexto geral de toda obra. Não é uma oração original, nem provém de São Cipriano, mas é, isso sim, uma falsa produção muito mais recente. E não, ela não tem quaisquer poderes reais para separar casais, para fazer ganhar dinheiro, não faz o amor voltar, não funciona mesmo, nem sofrerão quaisquer consequências estranhas pelo facto de a lerem, como muitos tendem a pensar e a dizer em depoimentos completamente falsos...

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09 de Setembro, 2020

O mito de Putana

O mito de Putana provém de terras da Índia (e da Mitologia Hindu), onde parece ser muito conhecido no seu contexto de toda a história de Krishna, oitavo avatar do deus Vishnu, uma história que lemos no Vishnu Purana.

Putana e Krishna

Este mito, ou lenda, diz-nos então que Putana era um demónio do sexo feminino cuja tarefa era a de matar todos os recém-nascidos. Se essa característica pouco teria de muito invulgar (já lá voltaremos), a forma como o faz é digna de nota - essencialmente, este demónio fingia ser uma mulher muito bonita, dava de mamar às crianças que lhe eram entregues, e depois dava-lhes o seu próprio leite venenoso, naturalmente levando-as às suas mortes.

E esta situação prolongou-se por bastante tempo, até que um dia Putana deu de mamar a um jovem Krishna. Poderia ter também ele falecido como muitos outros, mas tratando-se de um ser divino o desfecho foi bastante diferente - ao mamar, ele não só retirou todo o veneno a este demónio, como acabou igualmente por lhe sugar a sua própria vida, conduzindo-o, por fim, à sua destruição.

 

Pode parecer uma história simples, mas este mito de Putana é um bom exemplo de um tema mitológico que existe por todo o mundo. Se nos recordamos das histórias de La Llorona e de Lilith, entre muitas outras, vemos que as figuras que têm por hábito matar crianças muito jovens são quase sempre do sexo feminino. Porque acontece isso? Essencialmente, porque se acredita que essas figuras tendem a sentir uma certa espécie de inveja face às novas mães, procurando então tirar-lhes aquilo que elas próprias não podem, ou simplesmente já não conseguem, ter. Estes são mitos do feminino e no feminino que, muito provavelmente, foram criados por um público do sexo feminino, para justificar o porquê de algumas crianças não sobreviverem por muito tempo após o seu nascimento.

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