O mito de Aracne
O mito de Aracne não parece ter a sua origem nas histórias dos Gregos. Em vez disso, a versão mais antiga desta história que nos chegou provém dos versos do poeta latino Ovídio, sendo suas as linhas que aqui iremos adaptar:
Aracne era uma jovem que toda a sua vida se dedicou à tecelagem. Cada vez que tecia algo de novo, não podia deixar de admirar a extensa beleza da sua produção. E depois, um dia, isto levou-a até a considerar o seu trabalho melhor do que o dos próprios deuses. Com peito bem inchado, desafiou a deusa Atena - uma das padroeiras da arte que praticava - e, de uma forma completamente inesperada, acabou até por conseguir produzir um trabalho superior ao da própria deusa. Zangada, Atena rasgou a produção da sua opositora; e esta, quando se apercebeu do que tinha feito, da forma imperdoável como tinha desafiado os deuses, decidiu suicidar-se. O mito poderia até ter acabado por aqui, mas Atena, num misto de admiração pelo trabalho da falecida e tristeza pela morte que tinha causado, decidiu transformar Aracne numa aranha, que até aos nossos dias continua a exercer a sua arte.
O mito de Aracne é, como muitos outros dos tempos da Antiguidade, uma espécie de alerta aos leitores, instando-os para que não tentem violar os derradeiros limites da condição humana (a chamada hybris). Se, por um lado, é estranho que esta figura tenha verdadeiramente conseguido derrotar a deusa - normalmente o desfecho é o oposto, como no mito de Marsias - há que notar que ela não foi completamente victoriosa, perdendo a sua vida pouco após o confronto. Isso acontece porque, no contexto dos mitos gregos e latinos, as histórias em que os seres humanos desafiam os deuses nunca podem terminar bem para os desafiadores - que estranho exemplo seria esse, dizer-se que eles, no seu quase-infinito poder, podiam ser derrotados por meros mortais?!
Para terminar, a associação de Aracne ás aranhas serve, essencialmente, para tentar explicar o porquê de estas tecerem as suas teias - segundo este mito, elas fazem-no porque descendem dessa heroína e, como tal, continuam a praticar a famosa arte da sua predecessora.