Já viram o Castelo de Coimbra?
"Coimbra não tem castelo", poderão querer dizer alguns dos que forem ler estas linhas, mas por alguns momentos deixem essa ideia de lado. Já lá iremos (!), por agora vejam esta imagem da cidade dos estudantes em outros tempos, há cerca de 400 anos.
Aqui podem ser vistos os pontos mais elevados da cidade de Coimbra em 1598. É provável que até já tenham visto esta gravura antes, mas consultando-se a obra original, Civitates orbis terrarum, existe uma pequena legenda que identifica os vários locais presentes na ilustração. Assinalámos alguns deles acima - "A" são as universidades, "D" o aqueduto mandado construir por D. Sebastião, "E" a Sé de Coimbra, "H" a chamada Porta da Almedina, "L" a Escola dos Jesuítas... e o "B"? A obra original chama-lhe apenas antiquum castrum, "castelo antigo", denotando que mesmo há cerca de 400 anos já se considerava que o Castelo de Coimbra era (ainda mais) antigo, uma espécie de monumento quase esquecido de tempos há muito passados.
Mas continue-se então a busca pelo castelo. Quem procurar, na cidade, os locais acima não terá qualquer dificuldade em encontrá-los. Ainda permanecem mais ou menos no mesmo sítio, sendo fácil identificá-los. Mas o chamado Castelo de Coimbra, assinalado como "B", naturalmente que já não está no local. Porém, quem, partindo mais ou menos desse local, descer pela Rua do Arco da Traição, entrar pelo Jardim Botânico e for acompanhando o caminho pelo lado direito poderá, eventualmente, encontrar um breve vestígios das muralhas vistas na imagem:
Nada de muito impressionante, "é uma parede", mas é um dos poucos vestígios da muralha do antigo Castelo de Coimbra que ainda chegou aos nossos dias, e que sabemos que se encontrava inserido no complexo defensivo original. Por muito que se fale de locais como a Porta da Almedina, entre outros locais indubitavelmente antigos da mesma cidade, não parece ser possível saber como eles se inseriam no panorama original - note-se que mesmo na imagem acima, essa famosa porta de entrada já se encontrava numa espécie de vácuo contextual, rodeada apenas de casas, sem que se saiba a forma como fazia parte, originalmente, da construção defensiva da cidade.
Por isso, não, (já) não há Castelo em Coimbra, mas por toda esta cidade ainda podem ser encontrados vestígios com centenas e centenas de anos. Como as águas do Mondego - a que em 1598 ainda se recordava o nome Illunda - também o tempo vai passando, mas existem momentos e espaços que vão ficando, e outros que se vão extinguindo. O Castelo de Coimbra parece preso entre ambos, na medida em que já desapareceu quase por completo mas, ao mesmo tempo, não deixa de continuar a fazer parte do grande imaginário da cidade...