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Mitologia em Português

05 de Outubro, 2020

A lenda de Santo Ovídio

Santo Ovídio é uma de aquelas figuras santas que são populares no norte de Portugal, mas também muito pouco conhecidas em outros locais do mesmo país. Assim, podemos contar aqui brevemente a sua história, ou pelo menos o pouco que ainda hoje se sabe sobre este homem, e até revelar de que ele é padroeiro:

Santo Ovídio

Segundo as poucas fontes literárias que ainda temos, o homem que ficaria conhecido como Santo Ovídio nasceu na Sicília com o nome latino de Auditus, ainda no primeiro século da nossa era. Por ordem do Papa Clemente I foi enviado para Portugal, mais precisamente para Braga, para pregar a mensagem de Jesus Cristo. Foi aí que se tornou o terceiro bispo da cidade (antecedido por Pedro de Rates e Basílio de Braga, se alguém tiver essa curiosidade), acabando por se tornar mártir de uma forma incerta - de facto, todas as fontes que consultámos referem esse martírio, potencialmente falso, mas nenhuma delas nos diz, na verdade, como isso teve lugar.

 

É isto, quase apenas isto, que parecemos saber sobre este homem de inícios da nossa era, mas se o seu nome original era "Audito", então de onde vem o seu nome de Ovídio? Pode ser explicado se tivermos em conta que a palavra auditus em Latim significa, nada mais nada menos, que "ouvido" em Português, i.e. uma das partes do nosso corpo. Assim, ao longo dos séculos o seu nome entre o povo passou de Auditus a "Ouvido", e posteriormente a Santo Ovídio - que, frise-se, nada tem a ver com o famoso poeta romano, imortalizado perante alguns como um falso, e agora quase completamente esquecido, São Naso.

 

Resta, porém, uma pequena questão adicional. Afinal, de que é este figura, o agora-famoso Santo Ovídio de Braga, padroeiro? Possivelmente até só em virtude do seu nome, ele foi sendo associado às doenças dos ouvidos, bem como da respectiva cura!

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05 de Outubro, 2020

A lenda do Traga-Mouros

Existem, no passado de Portugal, um conjunto enorme de histórias que nos transportam para a Reconquista Cristã. Já cá falámos de muitas delas antes, e certamente que também voltaremos a elas no futuro, mas o simples nome de uma lenda do Traga-Mouros conduz-nos, de uma forma quase automática, para esse mesmo imaginário, em que até se atribuem ao herói poemas como o seguinte:

A lenda do Traga-Mouros

Se, por um lado, a maior parte das pessoas talvez tenha alguma dificuldade em ler este poema, atribuído (falsamente) a Gonçalo Hermingues, também conhecido como o Traga-Mouros (supõe-se que pela sua ferocidade nos combates contra os infiéis), por outro é fácil reconhecer nele um grito repetido por uma "Ouroana" nos seus últimos versos. E, de facto, é mesmo disso que fala a história que aqui contamos hoje.

 

A lenda de Gonçalo Hermingues, do Traga-Mouros, da Princesa Fátima ou de Oureana*, diz-nos que este combatente cristão se apaixonou por uma princesa moura, que também o amava. Como é comum nestas histórias, o pai da mesma opôs-se veementemente ao casamento, e então tudo parecia perdido. Até que, um dado dia, quando a princesa participava num evento, o seu amante decidiu raptá-la. Seguiu-se um combate feroz, em que se diz que o herói cristão até acabou por matar o pai de Fátima.

Depois quiseram casar, e foi pedida permissão a Afonso Henriques para tal - aparentemente, isso era necessário face às suas religiões. Ele deu-a, sob a condição de que a jovem princesa Fátima se convertesse à religião cristã. Quando o fez, adoptou então o nome cristão de Oureana. Por isso, diz agora o povo que foi esta princesa que deu nome a Fátima, onde os amados viveram antes de casarem, mas também a Ourém, para onde foram viver depois de se unirem nos laços de matrimónio. E assim se explicam os nomes de duas outras localidades portuguesas...

 

 

*- Esta lenda, que parece ser sobejamente conhecida, é-o sob nomes muito diversos.

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05 de Outubro, 2020

O que significa a música em "I, Carumbus"?

No segundo episódio da 32ª temporada dos Simpsons, entitulado I, Carumbus, surge uma pequena música em Latim, com uma letra bastante simples, que aqui traduzimos para Português:

I, Carumbus

O ascendimus nosÓ, nós ascendemos
Ex SuburaDa Suburra
Ad Villam Palatinam OptimamPara uma boa vila palatina
Ascendimus nosNós ascendemos
Ex SuburaDa Suburra
Vinum Tandem Bibemus FalernumE finalmente bebemos vinho
falerno

 

Mas o que significam verdadeiramente esta espécie de versos presentes no episódio I, Carumbus? No contexto em que são apresentados na história, a personagem principal tinha uma lavandaria pequena e pouco eficiente, que depois passou a ganhar muito mais dinheiro quando os escravos, e ex-companheiros, de Homer Simpson tiveram a ideia de recolher xixi à porta dos bares da cidade. Essa matéria-prima, de que tanto necessitavam, deu muito dinheiro à empresa, e então, na pequena cantilena, as personagens cantam que saíram da Suburra - a parte mais pobre da cidade de Roma - para irem viver numa casa no Monte Palatino, um local mais caracterizado por residências abastadas, e em que já podiam - fruto das suas novas posses, claro está - beber o famoso, e certamente caro, vinho falerno!

 

É uma música simples, quase em estilo gospel, mas que dá um colorido especial ao episódio I, Carumbus, mas lembre-se até que não é a primeira vez que esta série dos Simpsons reaproveita temas da Antiguidade, e que mesmo nesta história em particular existem muitas outras referências ao Império Romano e à cultura dos Romanos, desde lutas de gladiadores até um esquema maquiavélico para Bart Simpson se tornar imperador...

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04 de Outubro, 2020

A origem do descanso semanal ao domingo

Ainda existe, nos nossos dias, uma espécie de tradição de descanso semanal ao domingo. Talvez já não seja tão prevalente como há algumas décadas atrás, mas continua a existir. E isso poderá, naturalmente, levar-nos a perguntar de onde vem toda essa ideia de um dia exclusivamente para nosso descanso. Curiosos?

Um calendário sem descanso semanal ao domingo

Essencialmente, acredita-se que o descanso semanal ao domingo nasceu a 7 de Março de 321 d.C., altura em que o Imperador Constantino decretou o seguinte, que ainda hoje pode ser lido no Codex de Justiniano:

Omnes iudices urbanaeque plebes et artium officia cunctarum venerabili die solis quiescant.

Esta lei continuava deixando uma excepção - que omitimos aqui - para aqueles que trabalhavam nos campos, que poderiam e deveriam aproveitar o domingo se o tempo fosse bom para os seus trabalhos, mas ela diz é que os magistrados, as pessoas da cidade e os outros trabalhadores manuais deveriam respeitar o die solis com o seu descanso. O que é curioso é que este período de descanso semanal ao domingo foi instituído sem qualquer referência pagã (recorde-se que Constantino se tornou cristão, pelo menos em espírito, em 312 d.C.) - o die solis não se refere a uma qualquer divindade associada ao sol, mas ao nome que era dado a este dia da semana entre os Romanos, i.e. o dies solis, tal como a segunda-feira era o dies lunae ou a quinta-feira era conhecida sob o nome de dies jovis.

 

Depois, por influência do Cristianismo, esta ideia foi-se popularizando em todo o Império Romano e acabou por ir transcendendo os séculos, tornando-se religiosa, i.e. as pessoas tinham esse descanso semanal ao domingo para que pudessem ir à missa ou, de alguma outra forma, celebrassem toda a obra de Deus. Mas agora, que foi perdendo muito desse seu simbolismo religioso, este mesmo dia da semana parece estar a tornar-se apenas um dos sete, com uma ligação cada vez mais rara ao dies solis dos Romanos... e é provável que todos fiquemos a perder com isso!

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02 de Outubro, 2020

Já viram o Castelo de Coimbra?

"Coimbra não tem castelo", poderão querer dizer alguns dos que forem ler estas linhas, mas por alguns momentos deixem essa ideia de lado. Já lá iremos (!), por agora vejam esta imagem da cidade dos estudantes em outros tempos, há cerca de 400 anos.

Castelo de Coimbra

Aqui podem ser vistos os pontos mais elevados da cidade de Coimbra em 1598. É provável que até já tenham visto esta gravura antes, mas consultando-se a obra original, Civitates orbis terrarum, existe uma pequena legenda que identifica os vários locais presentes na ilustração. Assinalámos alguns deles acima - "A" são as universidades, "D" o aqueduto mandado construir por D. Sebastião, "E" a Sé de Coimbra, "H" a chamada Porta da Almedina, "L" a Escola dos Jesuítas... e o "B"? A obra original chama-lhe apenas antiquum castrum, "castelo antigo", denotando que mesmo há cerca de 400 anos já se considerava que o Castelo de Coimbra era (ainda mais) antigo, uma espécie de monumento quase esquecido de tempos há muito passados.

 

Mas continue-se então a busca pelo castelo. Quem procurar, na cidade, os locais acima não terá qualquer dificuldade em encontrá-los. Ainda permanecem mais ou menos no mesmo sítio, sendo fácil identificá-los. Mas o chamado Castelo de Coimbra, assinalado como "B", naturalmente que já não está no local. Porém, quem, partindo mais ou menos desse local, descer pela Rua do Arco da Traição, entrar pelo Jardim Botânico e for acompanhando o caminho pelo lado direito poderá, eventualmente, encontrar um breve vestígios das muralhas vistas na imagem:

Muralha do Castelo de Coimbra

Nada de muito impressionante, "é uma parede", mas é um dos poucos vestígios da muralha do antigo Castelo de Coimbra que ainda chegou aos nossos dias, e que sabemos que se encontrava inserido no complexo defensivo original. Por muito que se fale de locais como a Porta da Almedina, entre outros locais indubitavelmente antigos da mesma cidade, não parece ser possível saber como eles se inseriam no panorama original - note-se que mesmo na imagem acima, essa famosa porta de entrada já se encontrava numa espécie de vácuo contextual, rodeada apenas de casas, sem que se saiba a forma como fazia parte, originalmente, da construção defensiva da cidade.

 

Por isso, não, (já) não há Castelo em Coimbra, mas por toda esta cidade ainda podem ser encontrados vestígios com centenas e centenas de anos. Como as águas do Mondego - a que em 1598 ainda se recordava o nome Illunda - também o tempo vai passando, mas existem momentos e espaços que vão ficando, e outros que se vão extinguindo. O Castelo de Coimbra parece preso entre ambos, na medida em que já desapareceu quase por completo mas, ao mesmo tempo, não deixa de continuar a fazer parte do grande imaginário da cidade...

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01 de Outubro, 2020

O mito de Dhenuka

O mito de Dhenuka, ou Denuka, provém de terras da Índia, sendo particularmente famoso dada a sua associação com a história de Krishna.

Dhenuka a ser derrotado

Dhenuka era o líder de um grupo de demónios que, por uma qualquer razão inexplicável, decidiram todos tomar a forma de burros. Sob essa forma, guardavam uma determinada floresta próxima do Rio Jamuna, aparentemente nunca causando qualquer espécie de problema mais significativo.

Depois, num dado dia, Krishna e o seu irmão Balarama passaram por essa floresta e viram algumas belas frutas no topo de uma árvore. Procurando comê-las, abanaram as árvores, fazendo cair muito mais frutas do que aquelas que necessitavam. Possivelmente em virtude desse excesso Dhenuka atacou-os, juntamente com os seus companheiros. No entanto, foram facilmente derrotados, com Balarama a pegar nas próprias pernas traseiras dos vários burros e usá-las para os atirar contra as árvores, partindo os seus corpos em mil pedaços e como que libertando a floresta para outros usos.

 

O que podemos dizer sobre este mito? Decidimos contá-lo por cá em virtude do facto dos demónios representados por Dhenuka utilizarem a forma de burros. Salvo algumas raras excepções, não existem muitos mitos ou lendas em que estas criaturas tenham um papel principal, razão pela qual não quisemos deixar de lado esta curiosa excepção.

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