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Mitologia em Português

03 de Novembro, 2020

A lenda de Rama (e o "Ramayana")

Falar da lenda de Rama, famosa entre os Hindus, implica necessariamente falar do épico Ramayana (ou Ramáiana, em forma aportuguesada), em que esta figura tem um papel principal. Os dois temas até se confundem, como se fossem um só - esta lenda é o tema principal apresentado nesse poema épico, apesar de também existirem outras versões da mesma história. Iremos então contá-la aqui, de forma demasiado breve, mas só podemos fazê-lo depois de apresentarmos duas clarificações iniciais, importantes para a maior parte dos leitores ocidentais, que poderão desconhecer estas coisas:

Os Avatares de Vishnu

Primeiro, é importante clarificar o conceito de avatar. Os Hindus acreditam num número muito grande de deuses, de que Ganesha será o mais famoso entre nós, mas têm algumas figuras que consideram mais importantes do que outras. Entre as mais significativas conta-se o deus Vishnu (ou Vixnu, se preferirem), que reencarnou várias vezes e em diversas formas distintas (a que se chamam avatares, alguns dos quais podem ser vistos na imagem acima), para trazer benefícios à humanidade - por exemplo, tomou a forma deste Rama, mas também a de Krishna (possivelmente a mais amada das suas formas), a de Sidarta Gautama (uma história muito interessante, mas que terá de ficar para outro dia), ou a de Vamana, entre várias outras.

 

Depois, temos também de introduzir, de uma forma breve, o próprio poema épico do Ramayana. Atribuído ao sábio Valmiki, que não só escreveu este poema como até é uma das suas personagens, este é um dos grandes poemas épicos da Índia (o outro é o Mahabharata, que já recordámos num mito), que narra as aventuras de Rama, um dos avatares de Vishnu, enviado ao mundo para derrotar Ravana, rei dos rakshasas (i.e. "demónios"), que entre os seus vários crimes andava a raptar milhares de mulheres bonitas e levá-las para a sua ilha, a do actual Sri Lanka. Face a estas duas introduções, resuma-se agora, muito simplificadamente, a história do Ramayana.

Personagens do Ramayana

Por influência de uma madrasta, Rama foi exilado por 14 anos do reino que iria herdar um dia, e foi viver para uma floresta acompanhado pela sua esposa, Sita (que era um avatar de Lakshmi, a consorte de Vishnu), e pelo irmão Lakshmana. Um dia, Ravana soube da beleza desta mulher e decidiu tomá-la para si, mesmo sabendo que ela já era casada com outro homem; para o conseguir, enviou um belíssimo veado de ouro para a floresta, e enquanto os dois irmãos se afastaram sucessivamente, para capturar uma tão bela criatura, o poderoso inimigo raptou então a formosa esposa do herói.

A parte mais significativa da história é, depois, aquela em que Rama tenta encontrar e recuperar a sua amada Sita. Pelo caminho, ele e Lakshmana conhecem Hanuman, o poderoso rei dos macacos, que os ajuda bastante nas suas aventuras, chegando a levantar uma montanha enorme nos seus ombros só por não encontrar uma pequena erva mágica que lhe foi pedida.

Como não poderia deixar de ser, Rama lá encontra Sita e derrota Ravana após uma longa batalha. Finalmente, tem-na nos seus braços, e... é aqui que surge aquele que, repetidamente, nos foi apontado como o momento mais controverso da obra. O herói parece amá-la verdadeiramente, num primeiro instante, mas depressa a rejeita. E fá-lo tratando-a até bastante mal, porque se recusa a acreditar que ela se tenha mantido fiel nos meses em que esteve a viver no palácio de Ravana - e mesmo quando ela prova, por influência divina, que lhe foi totalmente fiel e que o ama mais do que a qualquer outro homem, o herói ainda chega depois a duvidar dela uma segunda vez, antes de a perder para sempre neste mundo...

 

Não podemos, sem qualquer dúvida da nossa parte, captar toda a beleza deste épico num punhado de linhas. Nem conseguimos resumi-la com grande destreza assim, sendo que acima deixamos apenas um traçado demasiado breve do seu conteúdo. No seu cerne existem alguns momentos belíssimos, como o momento em que Rama vê Sita pela primeira vez, ou as muitas aventuras de Hanuman, ou a hybris repetida e estonteante do quase-invencível Ravana. E, por isso, talvez estas sejam aventuras que os leitores merecem conhecer em primeira mão, por muito pouco conhecida que esta obra seja em Portugal e no Brasil. Existe, pelo menos, em tradução inglesa, disponível gratuitamente online, pelo que o convite para quem a quiser conhecer melhor já está aqui feito!

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