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Mitologia em Português

16 de Novembro, 2020

A verdadeira história da Pequena Sereia

A verdadeira história da Pequena Sereia é um pouco mais complexa do que algumas de que cá falámos no passado. Se, por exemplo, na história da Cinderela foram removidos alguns elementos mais cruéis, ou na da Bela e o Monstro a moral da história foi significativamente alterada, já neste caso existe um elemento horrendo na trama, bem como três finais distintos. Mas já lá iremos, convém apresentar brevemente esta história - como bem se sabe, a Pequena Sereia é um conto da autoria de Hans Christian Andersen, mas que teve algumas influências de autores anteriores, e que hoje nos é famosa devido a uma versão da Disney.

A Pequena Sereia no mar

Nesse sentido, o conto original tem bastantes semelhanças com essa versão americana. Não há nada muito significativamente diferente até que a Pequena Sereia - que aqui não tem outro nome senão este - pede à sua avó que lhe ensine mais sobre os seres humanos. E é nesse momento que surge um dado estranho - é dito a esta jovem sereia, na altura com 15 anos, que os seres humanos viviam pouco tempo, mas que após a morte eram levados para o Céu e tinham uma vida eterna (por oposição aos seres marinhos de que elas faziam parte, que viviam 300 anos mas depois se tornavam em espuma do mar). Traumatizada, não pode deixar de perguntar à avó se havia alguma alternativa... e sim, havia, ela podia obter uma alma se conseguisse casar com um ser humano que a amasse "mais que ao pai e mãe"! Fazendo então um pacto com uma bruxa do mar, a heroína obtém pernas - em troca, perde a voz e consente morrer se não conseguir obter o amor que procurava - e vai para o mundo dos humanos. Tenta casar com o Príncipe que um dia salvou de um naufrágio, por quem ela estava totalmente apaixonada, mas... ele acaba por casar com outra mulher, com quem vem a confundir a sua salvadora.

 

E é aqui que toda a trama se complica. Na primeira de todas as versões, a Pequena Sereia, não tendo conseguido casar com o Príncipe, pura e simplesmente morre, feita em espuma do mar. Na segunda, ela recusa matar o antigo amado (o que lhe permitira voltar a ser sereia novamente), e depois transforma-se numa nova espécie de ser, semelhante a um Silfo, que supostamente poderia vir a obter a imortalidade se fizesse boas acções durante 300 anos. Já na terceira versão, a mais comum nas edições dos nossos dias, após esta transformação a antiga habitante dos mares ascende aos céus sob a forma de um pseudo-silfo, dá um derradeiro beijo na testa do Príncipe, e surge então uma estranha moral da história, em que as crianças são advertidas de que um dia é adicionado aos 300 anos do (imerecido) "castigo" destas criaturas cada vez que elas se portam mal.

 

O que dizer de todas estas versões? Procuram transformar algo completamente trágico num final que apenas podemos classificar como "menos mau", mas em qualquer um dos casos não é propriamente o que esperaríamos encontrar num conto para um público infantil. Esta é, sem qualquer dúvida, uma história atípica nesse sentido, já que aborda tacitamente até considerações teológicas (i.e. acreditava-se que apenas os seres humanos tinham alma, e nesse sentido os animais de estimação, ou quaisquer outros seres, nunca poderiam vir a partilhar da alegria eterna dos Céus), naturalmente incomuns em histórias para crianças. A necessidade que a Disney sentiu de a normalizar, de tornar esta apenas mais uma história de amor entre um príncipe (humano) e uma princesa (dos oceanos), é aqui bem compreensível - toda a história, e o seu final, funcionariam bem num filme para os mais velhos, mas destoam no panorama das aventuras infantis.

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16 de Novembro, 2020

"Fortis fortuna adiuvat" - origem, tradução e significado

Fortis fortuna adiuvat é, sem qualquer mínima dúvida, um provérbio latino muito famoso nos nossos dias de hoje, mas qual a sua origem, tradução e significados reais? É algo em que certamente já muita gente pensou, até porque a frase até aparece em filmes tão conhecidos como os da saga de John Wick, e parece instar-nos a arriscar, a procurar aquilo que queremos mesmo nas nossas vidas, já que isso depende, primeiro e primordialmente, de nós próprios. Assim sendo, falemos um pouco mais sobre ela.

 

A origem da expressão fortis fortuna adiuvat

Afinal, de onde vem essa famosa expressão? Duas das fontes literárias mais antigas que temos para ela parecem ser Cícero e Virgílio, ambos autores do tempo dos Romanos, mas o primeiro deles dá-nos uma pista importante quando, ao citar a expressão, a atribui a Quinto Énio. Por isso, dadas as muitas referências aos Anais deste Énio no poema épico de Virgílio, a Eneida, parece-nos provável que ambos os autores a tenham conhecido através dessa mesma fonte comum, então muito famosa. Mas isso não implica que esse tenha sido o seu autor original, sendo até possível que a expressão já viesse do tempo dos Gregos.

De facto, uma rápida pesquisa online revela que alguns até a atribuem a Alexandro Magno, sem qualquer fonte literária associada, pelo que é muitíssimo provável que se trate mais de uma atribuição tardia, quase em termos de wishful thinking, do que algo com uma base real. Se foi mesmo esta personagem história que o disse, não parecemos ter hoje qualquer prova real disso mesmo.

Fortis fortuna adiuvat e a Fortuna Favorece os Bravos, na sua origem, tradução e significado

Qual a tradução de fortis fortuna adiuvat? Será ela apenas a fortuna favorece os bravos?

Traduzir Latim, como qualquer outra língua, não é tarefa fácil, porque umas mesmas palavras podem significar coisas significativamente diferentes mediante o seu contexto. Portanto, de uma forma muito simples, esta expressão latina pode significar coisas tão variadas e sibilinas como "A fortuna favorece os bravos", "A sorte sorri aos audazes", "A sorte protege os audazes" ou mesmo "a sorte favorece os audazes", entre outras (e.g. em Inglês, "fortune favours the brave"). Nenhuma destas é mais correcta que as outras, são apenas traduções diferentes de um mesmo conteúdo original, que, mediante o contexto em que se insere, até poderá soar melhor de uma ou de outra forma. Por exemplo, já vimos a expressão original, em Latim, utilizada até em anúncios relativos a criptomoedas, o que levanta a questão do seu significado...

 

O que significa, na realidade, fortis fortuna adiuvat?

Erasmo de Roterdão, quando explica esta expressão na sua obra sobre adágios latinos, dá-lhe uma metáfora particularmente importante, dizendo que não devemos viver as nossas vidas como animais que se escondem no interior das suas carapaças. Isto, diz-nos o célebre autor, porque as coisas boas, aquelas que a fortuna, a sorte ou o destino, nos possam vir a trazer dependem frequentemente de nós próprios. Assim sendo, para voltar ao exemplo concreto das criptomoedas, o que os anunciantes pretendem, ao utilizar esta expressão concreta nos seus anúncios, é dizer ao público que se este ainda pouco conhece do tema (como é natural, dado elas serem relativamente recentes), poderá e deverá arriscar na aquisição das mesmas, já que estas lhe podem trazer muitos benefícios... o que até pode, ou não, ser verdade, mas discutir esse tema já escapa ao nosso objectivo de hoje.

 

Agora que explicámos a origem, tradução e significado de toda esta hoje-famosa expressão do tempo dos Romanos, deixamos igualmente um pequeno convite adicional a quem nos ler - se ficaram curiosos em relação à origem e significado de outras expressões latinas que ainda são usadas em Portugal e no Brasil nos nossos dias, podem ver muitas outras na nossa compilação de 150 Frases Famosas em Latim, e explorar também as respectivas origens na nossa secção de expressões!

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