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Mitologia em Português

03 de Janeiro, 2021

A história de Guiomar Nunes

A história de Guiomar Nunes, que é a de um episódio totalmente real da nossa história de Portugal, teve lugar em Coimbra algures na década de 1570. Hoje muito esquecido, foi nesse seu tempo tão popular que até motivou a criação de versos jocosos entre os locais. Recorde-se, portanto, essa sua história conimbricense:

O pai de Guiomar Nunes

No derradeiro quarto do século XVI viveu na cidade de Coimbra um professor de nome Pedro Nunes, mais conhecido como o inventor do nónio. Enquanto vivia com uma das suas filhas na Rua da Calçada [actual Rua Ferreira Borges], esta Guiomar apaixonou-se por Heitor de Sá, que vivia na Rua das Fangas [actual Rua de Fernandes Thomas]. Pouco mais de 200 metros os separavam. E então apaixonaram-se, foram-se conhecendo mais e mais, e supostamente este homem acabou por prometer, formalmente, casamento a Guiomar. Mas depois, por razões que não são claras nas fontes que nos chegaram, ele decidiu não cumprir essa promessa.

Guiomar Nunes, então rejeitada, atacou Heitor de Sá com uma espécie de canivete, ferindo o antigo amado numa das bochechas. Primeiro até foi presa, mas depois foi ocultada de algum forma, para evitar a vingança da família Sá, e levada para o Mosteiro de Santa Clara [a Nova], onde se tornou freira. E enquanto tudo isso tomava lugar, os populares cantavam versos jocosos como os seguintes:

Senhora Dona Guiomar
Moradora na Calçada
Que destes a cutiliada.
Senhora Dona Guiomar
Que moraveis na Calçada;
Mereceis tença d’El-Rei
Pois destes a cutiliada.

 

O grande problema em contar a história de Guiomar Nunes, conhecida como "a da cutilada" graças a todo este evento, é conseguir discernir onde terminam os factos históricos e começa a ficção. Contamos aqui só os factos bem assentes, mas as diversas versões da história também acrescentam, aqui e ali, outros elementos. Uma versão diz que esta heroína estava grávida aquando do famoso episódio; outra diz que toda a sequência tomou lugar num tribunal eclesiástico; uma terceira já diz que o seu amado a deixou porque tinha ouvido que o seu pai, anteriormente rico, tinha agora caído na miséria...

Que todo o caso aconteceu, sabemos que sim; mas depois, obras como Portugal de Cabeleira, de finais do século XIX, acrescentam toda uma história romanceada em seu redor, como era comum na época (bastará relembrar-se, por exemplo, o caso de Henriqueta Emília da Conceição e Sousa). E, face a esse problema, talvez seja difícil, hoje, saber-se quem foi verdadeiramente Guiomar Nunes, e o que a levou a um desespero como este, levando-a a dar a metafórica cutilada em Heitor de Sá, que um dia a tornou famosa na cidade de Coimbra...

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