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Mitologia em Português

04 de Janeiro, 2021

Freixo de Espada à Cinta, Peso da Régua - lenda e origem dos nomes

De entre as muitas povoações de Portugal, é provável que Freixo de Espada à Cinta e Peso da Régua sejam duas das que têm um nome mais estranho.

 

A primeira, Freixo de Espada à Cinta, conjura quase automaticamente a ideia de um freixo, um tipo de árvore, com uma espada, até que o leitor se aperceba de um "pequenino" problema, que é o facto de uma árvore não ter cinta/cintura e, como tal, não poder portar uma arma por lá. Ao mesmo tempo, quem quiser argumentar que o nome correcto era "Espada-cinta" mete-se num problema ainda maior, que é o facto de um tal conceito nem sequer existir. Assim, dada a dificuldade de compreender toda a origem do nome, parecem existir pelo menos duas lendas antigas que tentam explicá-lo.

A lenda e origem do nome de Freixo de Espada à Cinta

Uma diz que o nome deriva de um fidalgo que tinha por armas um freixo e uma espada, alguém de apelido Feijão, que era irmão de São Rosendo e faleceu no ano de 977. Ora bem, como ele tinha essas armas, elas foram associadas à vila que nos dizem que fundou. O que seria uma boa possibilidade, claro, não fosse o facto de se desconhecer o verdadeiro nome do fundador nem se saber onde entra a "cinta" em toda esta história.

Já a segunda refere um tal Espadacinta, de data convenientemente incerta, que se diz que numa dada altura descansou encostado a um freixo dessa vila. Por essa acção tão comum - relembre-se até a lenda da Palmeira de Cascais - foi dado todo o nome à vila, e até se diz que a famosa árvore ainda existia no século XVIII. O que, novamente, funcionaria para explicar o nome, não fosse o facto de não se saber absolutamente nada mais sobre uma figura com um nome tão invulgar quanto misteriosamente conveniente.

 

Portanto, se existem lendas que tentam explicar a origem do nome de Freixo de Espada à Cinta, elas são pura e simplesmente mitos, na medida em que não têm qualquer espécie de fidelidade digna de crédito por detrás delas. De onde veio este nome é hoje pura e simplesmente desconhecido, como evidenciam as várias versões que o brasão teve ao longo do tempo - ás vezes a espada está colocada na "cinta" do freio, outras vezes está ao lado da árvore, por vezes esse primeiro elemento até se multiplica, etc.

A lenda e origem do nome de Peso da Régua

Por contraste, podemos apontar a origem do nome de Peso da Régua. O seu brasão tem dois cachos de uvas e um rabelo, denotado evidentemente a sua ligação ao Douro e ao Vinho do Porto, mas nenhuma lenda se esconde por detrás desta iconografia ou do nome da cidade (os cachos, para quem tiver essa curiosidade, são comuns nos brasões de regiões em que existe muito vinho e vinha). Em vez disso, a sua designação actual resulta da fusão de duas localidades, "Peso" e "Régua", que pelo desenvolvimento que sofreram no século XVIII acabaram por se tornar uma só - porquê Peso da Régua, e não Régua do Peso ou algum outro nome, parece ter-se devido apenas ao facto da mais significativa ou desenvolvida das duas povoações ter sido a Régua - ainda hoje muitas pessoas dizem "Vou à Régua", mas nunca ouvimos, mesmo na região, alguém a dizer que vai "ao Peso"...

 

Assim, ficam aqui os exemplos da origem dos nomes de mais duas povoações de Portugal, e respectivas lendas. Escolhemos estas duas, e até as associámos aqui, porque para uma delas desconhecemos a origem do nome mas temos algumas das suas lendas, enquanto que para a outra até conhecemos muito bem a origem do nome mas não existe qualquer lenda real que lhe possa ser atribuída. Mistérios das muitas povoações de Portugal...

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04 de Janeiro, 2021

A lenda dos Paços de Leonor

A lenda dos Paços de Leonor remete-nos para um local perto de Peniche, das Berlengas e do Cabo Carvoeiro, cuja história recordamos aqui hoje.

Forte das Berlengas, onde Rodrigo viveu

Em finais do século XV viviam em Peniche duas famílias que nutriam um infinito ódio uma pela outra. Mas, por ironia do Destino - que mais podemos evocar em circunstâncias como essas? - um filho de uma delas, Rodrigo, apaixonou-se por uma filha da outra, Leonor. Naturalmente que as duas famílias desaprovavam completamente este romance, e então o pai de Rodrigo enviou-o para o mosteiro da Berlenga, para noviço da Ordem de São Jerónimo (no local que hoje é o famoso Forte das Berlengas). Mas o jovem não esqueceu a mulher que dizia amar, e então em dadas noites tomava um barco e visitava Leonor num caverna que, em virtude desta sua presença, ficou conhecida como Paços de Leonor. Estando aí e chegando sempre primeiro, a jovem, para indicar a sua presença e o local onde o amado devia atracar, acendia uma candeia.

 

Tudo corria bem, até que um dia Rodrigo se aproximou da costa e não viu qualquer candeia acesa, mas somente o manto da sua amada entre as ondas do oceano. O que lhe teria acontecido? A lenda diz-nos que Leonor, nessa noite, ao chegar à caverna encontrou a sua família no local, e procurando não ser descoberta caiu de um penhasco - o seu corpo foi encontrado no dia seguinte. E se Rodrigo até desconhecia tudo isto, não pôde deixar de temer o pior e atirou-se ao mar, procurando partilhar uma morte que já antevia. O seu corpo foi, também ele, encontrado no dia seguinte, num local que ficou então conhecido como Sítio de Frei Rodrigo.

 

Esta lenda dos Paços de Leonor, que ainda parece ser conhecida entre os locais, é então uma espécie de Romeu e Julieta nacionais. Não sabemos até que ponto será verdade, mas pelo menos parte da sua história terá um fundamento real, que foi sendo preservado nos nomes dos principais locais apresentados em toda a trama.

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