Como fazer um exorcismo?
Como fazer um exorcismo? Qual é o processo com que se faz um exorcismo, hoje em dia? Fruto de filmes populares como O Exorcista ou O Exorcismo de Emily Rose, bem como de casos (supostamente reais) como o de Anneliese Michel, parecem existir pessoas que têm uma certa curiosidade em relação a todo o processo real por detrás destes esconjuros, até porque raros são aqueles que já assistiram a este ritual presencialmente. Seria muito imprudente reproduzirmos aqui todo o processo, até porque seriam raríssimas as pessoas que o saberiam utilizar de uma forma correcta (já voltaremos a esse ponto...), mas podemos revelar dez curiosidades relativas a ele, que devem verdadeiramente ser tomadas em conta por todos aqueles que querem fazer um exorcismo (e se for esse o caso de quem lê estas linhas, por favor deixem um comentário ali em baixo, a explicar a situação, e tentaremos encaminhá-la). Como é um exorcismo? Passamos então a explicar:
1- É importante saber se a pessoa está mesmo possuída
Poderá parecer evidente, mas nem todas as supostas possessões o são (basta recordar, novamente, o caso de Anneliese Michel). Tratar-se, muito frequentemente, de simples problemas de ordem psicológica. Então, para verificar se uma pessoa está mesmo possuída devem ser tomados em conta aspectos como os seguintes, em que ela:
- É capaz de falar línguas menos comuns e compreendê-las (se não o conseguia fazer antes, como é óbvio);
- Consegue divulgar o futuro e coisas completamente desconhecidas dos demais;
- Consegue realizar actos físicos impossíveis na sua idade, condição e estado actual.
2- Os demónios são enganadores
Seja antes do processo de exorcismo, ou até já durante o mesmo, os demónios poderão tentar enganar todos os envolvidos. Poderão recorrer a insultos, a abandonar (temporariamente) o corpo da pessoa possuída, divulgar conhecimento secreto muitíssimo importante (mas também e até potencialmente falso), fingir que a pessoa adormeceu, fingir tratar-se do espírito de um santo ou de uma qualquer pessoa já falecida, e outras coisas que tais. Nesse sentido, uma possessão por Pazuzu é mais provável que uma pelo (suposto) espírito de Hitler.
3- São necessários objectos externos
Como a cultura popular dos nossos dias mostra repetidamente, são necessários alguns objectos externos para fazer um exorcismo. Entre eles contam-se um crucifixo (uma cruz, por si só, não é suficiente), relíquias de santos, óleo, e até uma hóstia consagrada. Existem, porém, regras relativas à forma como estes objectos podem, ou não devem, ser utilizados durante o processo. Essa é uma das razões pelas quais é necessária experiência real aquando da tentativa de realização de um processo como estes.
4- Apenas devem ser feitas as perguntas estritamente necessárias
Ao longo do processo têm de ser colocadas algumas questões, nomeadamente relativas à natureza da possessão. É demasiado fácil querer perguntar demais, até em função do conhecimento secreto revelado pelos possuídos, mas as perguntas que são colocadas nessa altura devem restringir-se somente ao necessário para o sucesso de todo o processo.
5- O processo não é completamente estático
Aqueles que pensam que para fazer um exorcismo basta comprar um determinado livro e seguir o que ele vai dizendo, como se se tratasse de uma receita culinária, estão muito enganados. O processo é bastante dinâmico, devendo ser alterado mediante a forma como a pessoa afectada está a reagir aos vários passos. Entre as adapções mais simples e basilares que podem ser necessárias conta-se, por exemplo, a necessidade de repetir várias vezes as frases específicas a que o espírito reage mais, ou a alteração de determinados nomes e localizações mencionadas no texto.
6- Existe uma preparação pessoal que o exorcista tem de seguir
Um exorcismo não é uma coisa que se possa preparar em cinco minutos num vão de escada. A pessoa que o vai realizar tem de se preparar de antemão, com um ritual muito pessoal. Entre os passos a seguir contam-se uma confissão (sim, diz-se que os demónios têm por hábito relembrar o padre das suas falhas pessoais...), tomar a hóstia, preparar umas vestes muito específicas, rezar a Ladainha de Todos os Santos na forma mais completa, et al.
7- Não é necessário o uso de nenhuma língua específica
Se, tradicionalmente, o ritual do exorcismo é feito em Latim, isso acontece porque a própria liturgia da Igreja Católica era, anteriormente, sempre nessa língua em particular, para distinguir o sagrado da Igreja do profano da vida diária. Contudo, este ritual também pode ser realizado em outras línguas, incluíndo Inglês, Português ou Chinês. É, no entanto, aconselhável que se recorra aos textos latinos, por preservarem a forma mais perfeita e estável de tudo o que vai sendo dito.
8- Muito do que é dito provém da Bíblia... mas também existe uma liturgia própria!
Muito do que é dito durante o processo de um exorcismo provém da Bíblia. Podem ser usados, por exemplo, os Salmos (3, 34, 53, 67, 90, 117, etc.), o Magnificat, o Benedictus e os Quatro Evangelhos, entre outras sequências religiosas bem conhecidas, como o Credo. Contudo, o processo também tem um conjunto de frases próprias que devem ser ditas, como acontece na missa, para a sua realização. É sobre essas frases específicas que a maior parte das pessoas se interrogam, mas...
9- Existem vários rituais distintos!
Não existem um único ritual de exorcismo, mas sim vários significativamente diferentes, que devem ser utilizados em circunstâncias muito particulares. Pensar o contrário seria como ir a uma farmácia e dizer que queremos comprar "um medicamento", sem explicitar que doença pretendemos tratar. Alguns dos rituais são relativamente simples - talvez três ou quatro páginas A4 - enquanto que outros se podem prolongar durante várias horas. O importante, nesse sentido, é reconhecer qual o ritual mais correcto a utilizar para cada circunstância, o que não é simples de se fazer, nem pode ser aprendido num livro.
10- E terminam quase sempre com um agradecimento
Como a liturgia da missa, entre muitas outras, ao fazer um exorcismo todo o processo termina com um momento de agradecimento e uma espécie de despedida. A título de exemplo, reproduzimos aqui uma tradução de um desses instantes:
Senhor Deus, pedimos-Te que afastes este mau espírito de afectar este Teu servo, e que o mantenhas longe, para nunca voltar. Pela Tua ordem, ó Senhor, possa a bondade e a paz de Jesus Cristo, nosso Redentor, tomar posse deste homem [ou mulher, mediante o sexo de quem tinha sido afectado].
Não sintamos mais nenhum medo porque o Senhor está connosco. Ele vive e reina em nós, na unidade do Espírito Santo, Deus, para todo o sempre.
Ámen.
Dadas agora estas dez curiosidades sobre como se faz um exorcismo, há que constatar que, na verdade, filmes como O Exorcista apresentam um conhecimento mais ou menos realista de todo o processo de um exorcismo. Simplificam-no, certamente a bem da trama (até porque o filme não pode demorar uma dúzia de horas, com o padre a repetir fórmulas sem fim), mas todos aqueles que tiverem curiosidade em saber como é, em termos gerais, essa cerimónia pode, pura e simplesmente, ver esse filme.