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Mitologia em Português

21 de Fevereiro, 2021

Casa do Fauno, uma visita virtual

Vieram perguntar-vos sobre a chamada Casa do Fauno enquanto nos preparávamos para escrever sobre sátiros, faunos e outras criaturas que tais. O segundo é um tema que depois foi falado aqui, mas por agora podemos falar sobre uma famosa casa romana que existe em Pompeia, e que é conhecida por este nome em virtude de uma figura dançante que pode ser vista à sua entrada:

A mascote da Casa do Fauno

Dizem tratar-se de um fauno, mas dada a ausência de características dessa criatura mitológica (i.e. não tem cascos nos pés, cornos na cabeça ou cauda de cavalo), parece-nos que seria mais justo ver nela um dos muitos seguidores humanos do deus Baco, numa das suas clássicas deambulações bêbadas pelos campos. É discutível, até porque a representação destas criaturas, como a dos sátiros entre os Gregos, foi variando ao longo dos séculos...

Depois, uma das coisas mais interessantes que pode ser encontrada nesta Casa do Fauno é um mosaico gigante, hoje conhecido sob o nome de Mosaico de Alexandre, em que pode ser vista uma batalha entre Alexandre Magno e Dário III da Pérsia. Mesmo nos nossos dias esta representação é sobejamente conhecida, mas vista assim, neste seu contexto original, é que se pode perceber toda a magnitude da representação, que é muito maior do que tendemos a supor. Infelizmente, a actual é apenas uma reprodução - o original foi levado para o Museu Arqueológico Nacional de Nápoles - mas permite ao visitante ter uma visão geral e em contexto do que foi encontrado neste local.

Se esse mosaico é indubitavelmente o elemento mais famoso desta Casa do Fauno, existem igualmente outros recantos para visitar nas suas redondezas. Por exemplo, esta habitação, em que podem ser vistos mais alguns azulejos, que se supõe que também sejam reproduções.

Infelizmente, neste caso específico não é possível fazer uma visita mais completa, completamente à escolha do freguês, como a que aqui apresentámos na Conímbriga de Portugal, mas pelo menos a infraestrutura existente permite a um visitante virtual ter acesso a parte do espaço real, o que já é bom!

 

Agora, quem lê estas linhas em Portugal poderá pôr-se uma questão adicional - "Mas não existe também uma Casa do Fauno em Sintra?" É verdade, sim, trata-se de um pequeno bar, com decoração ligeiramente "medieval", e uma livraria de livros pseudo-místicos no segundo piso. Um dia até lá tentámos comprar uma cópia do livro de interpretação de sonhos de Artemídoro de Daldis, mas não faziam ideia do que era, apesar de venderem N outras obras, bem menos credíveis e muito mais fantasiosas, sobre esse mesmo tema...

Outra Casa do Fauno

Onde está o seu fauno, que supostamente emprestou o nome ao local? Não fazemos qualquer ideia, mas nunca conseguimos aí encontrar nenhum numa posição de relevo, seja no interior do espaço fechado ou nos seus jardins. Quem decidir buscá-lo depressa acabará frustrado, porque o nome deste bar engana bastante. Preferimos, sem qualquer dúvida, o espaço que partilha o seu nome na Pompeia dos Romanos...

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21 de Fevereiro, 2021

O mito de Pítis (e o pinheiro)

O mito de Pítis vem-nos da Mitologia Grega. Podia ser apenas mais uma de tantas histórias de metamorfoses, mas o que ele tem de especial é o facto de nos terem chegado duas versões distintas da sua pequena aventura, com mensagens significativamente contraditórias.

O mito de Pítis

Na primeira versão do mito de Pítis, esta ninfa era disputada por dois deuses, Pã e Bóreas (i.e. o vento do norte). Sempre mostrou especial paixão pelo primeiro, e então o segundo, num dia em que se sentiu mais invejoso da felicidade alheia, soprou-a com muita força da beira de um penhasco, levando-a a cair e conduzindo-a à sua morte. Os outros deuses, seja com pena de Pã ou da sua falecida amada, depois transformaram-na num Pinheiro, que ainda hoje se movimenta ao sabor do vento, como que a tentar fugir daquele que um dia a martirizou.

 

Numa outra versão do mesmo mito, Pítis era amada pelo deus Pã mas não sentia nada por ele. Um dia, enquanto este deus de estranha figura a perseguia, quase que a conseguiu apanhar, pretendendo violá-la. No entanto, os deuses, com pena de toda a situação que estava prestes a gerar-se, transformaram-na em Pinheiro. A sequência não pode deixar de nos recordar as muitas Metamorfoses de Ovídio.

 

É muitíssimo curioso, este duplo papel que o deus Pã tem em duas versões do mito de Pítis. Mesmo após várias horas de discussão, demos por nós a constatar que são muito raros os mitos em que situações como estas têm lugar, em que duas figuras, mediante a versão, sejam unidas ou pelo amor, ou pelo ódio. Não obstante esse problema, as razões por detrás de todo este mito são fáceis de entender - o deus caprino era frequentemente representado com uma pinha, o que se procura explicar aqui fazendo dela um símbolo de uma sua antiga amada, como também acontece em muitos outros mitos - e.g. o de Apolo e Dafne. Assim, fosse Pã amado (ou não) por esta ninfa, não pôde deixar de se lembrar dela após o final de toda a história, e assim fez da pinha o seu símbolo divino pessoal.

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