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Mitologia em Português

23 de Fevereiro, 2021

A origem da Medusa?

Se existem muitas criaturas estranhas na Mitologia Grega, é igualmente verdade que poucas são tão famosas como a Medusa. Já cá falámos dela diversas vezes, e até contámos o seu mito grego, mas uma pergunta poderá persistir - qual a origem da Medusa? Como é que se passou acreditar numa criatura que é tão única no panorama dos mitos gregos e latinos?

A origem da Medusa, a Naga?

A solução para essa difícil questão da origem da Medusa poderá passar por um confronto com os mitos da Índia e do Oriente, em que criaturas muito semelhantes, chamadas Nagas ou Najas, populam os mais diversos mitos. Elas viviam debaixo da terra, guardavam tesouros e - certamente o mais importante para esta publicação de hoje - adoptavam várias formas físicas. Se muitas vezes eram meras serpentes, tal como as conhecemos dos jardins zoológicos, podiam igualmente adoptar uma forma antropomórfica, com rabo serpentino, cabelos feitos de serpentes e tronco feminino (presume-se que este último elemento seja para melhor seduzirem o sexo masculino). Curiosamente, não parecem ter existido "Najos", formas masculinas da mesma criatura...

 

A presença comum de criaturas como estas nos mitos orientais podem explicar a presença da forma invulgar e incomum da Medusa nos mitos ocidentais, mas será que existe uma ligação real entre estas duas criaturas mitológicas, ou se trata tudo de uma mera coincidência? Tudo indicaria o segundo caminho, até que encontrámos um mito indiano de uma jovem chamada Sulocana. Segundo a sua história, enquanto ela fazia amor com o marido num altar viu um horrendo espírito da natureza a olhar para eles; gozando com essa figura, fazendo contrastar a fealdade de aquele que a via com a sua própria beleza natural, foi então vítima de uma maldição, passando a envenenar, mortalmente, todos aqueles para quem olhava. E só um mortal sobreviveu a ela...

Perseu e a Medusa

Não é claro que Sulocana também tenha sofrido uma transformação física, potencialmente até na forma de uma Naja, mas as semelhanças com um dos mitos que envolve esta figura mitológica grega é notável, com um espírito da natureza a tomar aqui o lugar do deus dos mares. Considerar o mito que bem conhecemos nesta sequência explicaria o porquê de, no caso de Perseu e da Medusa, o herói ter de olhar para um escudo - ele não pretendia evitar olhar para o monstro, mas sim que este, ao acordar do seu sono, não olhasse directamente para ele; o poder de transformar em pedra não se devia à fealdade da criatura mitológica, como pensamos demasiadas vezes, mas ao poder mortal do seu olhar directo.

Ao mesmo tempo, recorde-se que se as Górgones têm um corpo repleto de serpentes, essa sua forma serpentina não tem qualquer significado ou função real no mito. Mesmo quando a figura mitológica é representada com asas, o que acontece em muitos vasos, também elas não têm qualquer presença na própria trama, denotando um certo afastamento, difícil de explicar, entre a trama mitológica e a iconográfica, como se a razão por detrás de toda a representação se tivesse perdido ao longo dos séculos.

 

Face a tudo isto, é provável que a origem da Medusa nos deva remeter para os mitos da Índia, ou do Oriente na sua forma mais geral, tendo resultado de uma confluência antiga entre diversas histórias originalmente distintas - pelo menos uma que servia para dar uma forma horrendo à criatura, e uma segunda em que entrava a grande capacidade mortal de um olhar amaldiçoado. Não conseguimos provar com exatidão quando é que essa associação teve lugar - talvez até através de trocas comerciais e culturais muito anteriores à nossa era - mas não temos razões reais para duvidar que possa ter acontecido...

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