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Mitologia em Português

25 de Fevereiro, 2021

O mito de Yama

O mito de Yama, de que falamos aqui hoje, é digno de nota por se referir a uma figura originalmente da Índia (e do Hinduísmo), mas que por via do Budismo depois foi transportada para vários outros locais, nomeadamente a China e o Japão, sofrendo algumas alterações ao longo dessa transmissão. Podemos tentar explicar o seu papel (quase) comum na mitologia indiana, chinesa e japonsa de uma forma muito sucinta.

O mito de Yama

Originalmente, a figura que ficou conhecida como Yama já estava associada ao reino dos mortos, com pelo menos uma tradição a dizer que ele tinha sido o primeiros dos mortais a falecer, conhecendo por isso já bem o reino que viria a administrar. Depois, o seu papel vai evoluindo - na China e no Budismo, sob o nome de Yanluo Wang, ele parece tornar-se mais uma figura que definia e controlava as reencarnações, decidindo o que acontecia a cada pessoa após a sua morte, não só em termos de potenciais castigos, mas também definindo sob que forma as pessoas iriam reencarnar. E é nesse papel que o encontramos no Nihon Ryoiki, uma compilação japonesa de milagres budistas do século IX da nossa era.

 

Referimo-nos concretamente a essa fonte literária porque a presença de Yama - mais conhecido no Japão como Emma-O - na mesma é estável, repetida e apresenta sempre o mesmo papel - quando alguém morre é transportado para um enorme e belíssimo palácio, em que os bons actos feitos em vida são contrastados com as realizações menos boas. Por exemplo, numa determinada história dessa fonte literária, é apresentado um homem que fez muitos bons actos na sua vida, mas que também venerou "os deuses chineses" (por oposição a seguir os preceitos budistas, supõe-se). Assim, quando o falecido chega ao tribunal de Yama, surgem versões antropomórficas dos dois grupos de actos, que se debatem pela sua salvação ou condenação; às tantas, o juíz considera que o caso era muto difícil de julgar, optando então por absolver o réu dado este ter praticado mais bons actos do que negativos, e ele até foi trazido de volta à vida, emendando depois o seu comportamento anterior (i.e. passou então a seguir todas as ideias do Budismo).

 

O mito de Yama é, portanto, o de um juíz imparcial, quase humano nas suas forças e fraquezas, que procura com a sua justiça recompensar - ou punir - os actos que as pessoas realizaram nas suas vidas. Face a figuras ocidentais, como o Minos grego ou o Deus cristão, talvez a sua grande fraqueza seja mesmo o seu notável carácter humano, visto que depende de testemunhos - mais do que uma qualquer espécie de poderes místicos - para formular as suas decisões. Talvez até já se tenha enganado, culpando um justo por um pecador, ou deixando o segundo escapar? Não encontrámos qualquer fonte directa em que isso tenha acontecido, contrariamente ao que aconteceu em mitos como os dos Gregos (e.g. recorde-se, por exemplo, a forma como Sísifo enganou os deuses dos mortos), mas é provável que até exista alguma história que siga essas linhas - recorde-se, por exemplo, que no Dragon Ball Z os falecidos  se cruzaram repetidamente com esta figura, que nem sempre soube como julgar muito bem as suas acções em vida...

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