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Mitologia em Português

01 de Março, 2021

A história da cobra que mama

Contar, hoje, esta pequeníssima história da cobra que mama implica dar-lhe algum contexto. Há algumas semanas, enquanto andávamos em busca de histórias pelo país fora, deparámos-nos com uma casa velhinha numa zona já bastante povoada. Não sabemos durante quanto mais tempo ainda lá ficará - até porque estava para venda - mas visto que tinha no seu quintal um potencial vestígio dos tempos romanos, tivemos a curiosidade de perguntar se alguém sabia alguma coisa sobre ela.

A lenda da cobra que mama

A maior parte das pessoas limitou-se a dizer-nos algo tão simples como "Ah, era a casa do Senhor X, ele já faleceu". Porém, um homem, na casa dos seus 60 anos e que viveu na mesma rua em criança, disse-nos algo de muito mais curioso - "segundo a minha mãe, nessa casa havia uma cobra que mamava nas mulheres grávidas e nos animais. Não sei se era verdade ou não... [risos] se calhar era a minha mãe que não queria que eu me aproximasse, e então disse isso para me assustar?" Se, por um lado, não conseguimos atestar a veracidade de toda a história em associação a este local específico - já passaram décadas desses acontecimentos, e não conseguimos encontrar mais ninguém que aí vivesse na mesma época - é curioso constatar que desde os tempos da Antiguidade, e em diversas culturas pelo globo fora, são apontados casos como este, de cobras que mamam, entre outros animais que ou dão de mamar (e.g. veja-se o caso de Rómulo e Remo), ou mamam em seres humanos (e.g. o atribuído a Erictónio em algumas versões do seu mito). Mas a que se deve toda essa estranha ideia?

 

No seu geral, ela deriva de crenças mágicas. As razões para tal variam de cultura para cultura, mas de uma forma mais geral quem dá de mamar a uma cobra pode ser visto como uma feiticeira (ou uma pessoa diabólica, na cultura cristã), enquanto que quem recebe o "leite" do mesmo animal acaba por tomar uma associação ao poder, a um qualquer benefício trazido pelos deuses. Nesse contexto, será então verdade que, naquela casa ali da imagem, existiu mesmo uma cobra que mama? Ou será uma pura lenda e nada mais? Já não sabemos, mas o que podemos afirmar, sem margem para dúvidas, é que existem histórias como essas por todo o mundo, algumas delas até ainda nos nossos dias de hoje, que ainda se tomam por reais, sejam-no ou não...

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01 de Março, 2021

Qual o autor mais antigo do mundo?

Nunca se interrogaram sobre a identidade do autor mais antigo do mundo? Claro que não sabemos quem foi a primeira pessoa a escrever uma letra ou uma frase, ou sequer quem terá sido a primeira pessoa a deixar por escrito uma composição de índole puramente literária, mas de entre aqueles nomes de que ainda há registo nos nossos dias, qual terá sido o autor mais antigo do mundo?

Escrita cuneiforme - talvez pelo autor mais antigo do mundo?

Na verdade... foi uma autora, do sexo feminino - hoje conhecida apenas pelo nome de Enheduanna, ela terá vivido há cerca de 4300 anos atrás e foi sacerdotisa da deusa Inana. Naturalmente que a padroeira divina tem um papel principal em grande parte das linhas que esta sua seguidora compôs, mas também nos chegaram alguns hinos para os outros deuses. E é até entre esse segundo grupo, o dos hinos, que nos chegou uma frase verdadeiramente digna de nota - depois de escrever o seu nome, a autora acrescenta umas palavras que nos podem ser traduzidas por algo como "meu monarca, [aqui] algo foi criado que ninguém criou antes."

São certamente intrigantes, essas palavras... A que se referia Enheduanna? Estaria ela a referir-se à composição dos próprios hinos, que então atribuía a si mesma e à sua imaginação pessoal, ou a fazer alusão ao facto de ter sido, potencialmente, a primeira a preservá-los numa forma escrita? Já não sabemos - quarenta e três séculos é muito tempo, como poderão imaginar - mas quando essas mesmas palavras são agora lidas, nestes nossos dias de hoje, podemos ver nelas um sentido completamente novo - para nós, o que ela criou, e que até nunca tinha sido criado antes, é a oportunidade de sabermos o seu nome!

 

Assim, o autor mais antigo do mundo é, na verdade, uma mulher. Enheduanna viveu há uma (metafórica) eternidade atrás, ao ponto de muitos dos mitos que conhecia já terem sido esquecidos (uma excepção pode ser vista na história de Lugalbanda), mas pela mera menção do seu nome entre alguns textos de um contexto religioso acabou, de certa forma, por se tornar tão imortal como as muitas figuras que cantava nos seus hinos.

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