Qual a diferença entre fauno e sátiro?
O fauno e o sátiro contam-se entre as muitas criaturas mitológicas da Antiguidade que chegaram aos nossos dias, mas na verdade qual é a diferença entre eles? Ou seja, se reconhecer criaturas como os centauros é relativamente fácil mesmo nos nossos dias, i.e. eles são seres metade homem e metade cavalo, que características individuais podemos associar aos faunos e aos sátiros? Podemos tentar explicá-lo, mas para isso temos de começar por apresentar as duas espécies de criaturas individualmente:
Um sátiro, ou σάτυρος, era uma criatura da Mitologia Grega que acompanhava frequentemente o deus Dioniso. Tinha um corpo que era um misto de... bem, a sua representação foi sendo alterada e evoluiu ao longo dos séculos, mas tinha quase sempre características conjuntas de ser humano, cavalo e bode. Contudo, a forma mais fácil de o identificar é através de um orgão sexual erecto, e de potenciais companheiros, já que costuma estar com outros seres da mesma espécie e/ou o deus do vinho por perto. Na imagem acima, um destes seres até pode ser visto a partilhar uma bebida com o seu mentor divino.
Nesse seguimento, se os sátiros são uma espécie animal (ou semi-humana?), alguns deles até tinham nomes e identidades específicas. Entre eles podemos encontrar o deus Pã, Sileno e Marsias; o primeiro teve muitas aventuras (um exemplo pode ser visto aqui), enquanto que o segundo nos é particularmente famoso pela sua presença num mito do Rei Midas.
Agora, um fauno (ou φαῦνος, faunus em Latim), na Mitologia Romana, tinha quase sempre características conjuntas de ser humano, cavalo e bode. E sim, é o mesmo que acabámos de escrever em relação ao aspecto físico da criatura anterior, mas o que parece ter acontecido é que esta criatura parece ter perdido (ou pelo menos amenizado), entre os Romanos a sua famosa conotação sexual. Mais do que um amante do vinho, ou um violador ocasional, parece ter-se tornado um doce habitante das florestas.
E agora, apresentados fauno e sátiro, começa o verdadeiro problema. Se o que dissemos acima foi uma simplificação enorme da realidade, a grande dificuldade é que numa dada altura estas criaturas se foram confundindo umas com as outras de uma forma muito complicada. Uns, por exemplo, diziam que o deus Pã tinha o nome de Fauno entre os Romanos, mas outros diziam que o seu nome latino era Silvano. Uns falam de pãs, outros de sátiros, para referirem as mesmas criaturas, quando são apresentadas em grupo. Até existem, aqui e ali, breves referências a uma Fauna; presume-se que não tivesse um corpo animalesco como os anteriores, mas ela sabia o futuro e poderá ter sido uma das figuras silvestres que, a longo prazo, levou à origem das fadas.
Assim sendo, qual a diferença entre fauno e sátiro? No seu geral são quase a mesma criatura, mas há que prestar especial atenção à forma como são evocados e designados. Se só existe um deus Pã, a referência a "pãs" poderá indicar não uma multiplicidade de figuras do próprio deus, mas de criaturas com uma forma igual à sua, i.e. pãs = sátiros e nada mais. A referência a uma Casa do Fauno indica especificamente o deus romano (que até poderá ser o mesmo Pã dos Gregos...), mas falar-se da casa de um fauno já se poderá referir ao local de habitação de sátiros em geral, mais do que a um deus em concreto. Nas imagens acima, diríamos até que a primeira é de um sátiro, e a segunda de um fauno, somente pela ausência de sexualidade e presença de um motivo campestre nessa última. Vejamos um exemplo adicional:
Neste mosaico espanhol pode ser visto o velho Sileno num burro, uma seguidora feminina de Baco do lado direito (não é uma deusa, tem uma pandeireta na mão), e muitos festejos com vinho à mistura... mas quem está no canto inferior esquerdo? Presume-se que seja Fauno/Silvano, essencialmente devido à ausência um orgão sexual exposto e volumoso, que tanto caracterizava os sátiros nas representações gregas!
Em suma, sátiros e faunos são quase a mesma criatura - um espécie de homem com cornos, pernas e pés de bode, a que se junta muitas vezes uma cauda de cavalo - mas os primeiros tinham, na cultura grega, uma grande sexualidade inata que nem sempre está presente nos segundos. Em qualquer dos dois casos não parecem ter existido "sátiras" ou "faunas", criaturas femininas da sua mesma espécie, o que explica o porquê de estas criaturas tentarem frequentemente violar ninfas, mulheres, e numa dada altura até o próprio Hércules num vestido...