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Mitologia em Português

01 de Abril, 2021

O mito de José Sócrates

Não foi só na Grécia Antiga que existiram grandes histórias. O mito de José Sócrates, que quase que partilhou o seu nome com uma outra grande figura dos tempos da Antiguidade, também ela igualmente perseguida pelos seus muitos abomináveis opositores, tem muito que se lhe diga. Esse mais casto, puro, justo, heróico e santo de todos os homens nada fica a dever a figuras heróicas da Antiguidade - possuindo a força de Hércules, a paixão pela justiça de Antígona e a honestidade de Sísifo, só tememos não ser capazes de contar todas as suas muitas aventuras numa só publicação, não só por se tratarem cada uma delas de tarefas mais difíceis do que as do filho de Alcmena, mas até pela extensão e falta de espaço actuais. Assim, hoje contamos apenas aqui duas delas.

O mito de José Sócrates

Conta-se que, durante séculos, a família em que nasceu José Sócrates possuiu um cofre mágico, originalmente dado pelo deus Hefesto ao Rei Midas, quando este último foi vilificado por ter ousado admitir, com toda a justiça do universo, que Pã tocava flauta melhor que o deus Apolo. Todos os juízes do concurso estavam notavelmente subornados pelos poderes instituídos, mas só Midas ousou dizer a verdade, sendo assim recompensado pela sua mais pura honestidade. Em seguida, esse cofre foi passado de mão em mão - entre os seus anteriores possuidores contam-se figuras tão ilustres e digníssimas do maior crédito na história da humanidade como Heródoto, João de Mandeville, o Barão Munchausen, o filho de um tal "Gepeto", ou mesmo Richard Nixon - até chegar aos nossos dias. Conta-se que este modelo ideal do homem perfeito, as quatro virtudes cardeais tornadas homem, ainda hoje guarda esse cofre mágico em sua casa.

Poderão, então e por óbvia curiosidade, perguntar o que de mágico tem esse acessório, o mais famoso que chegou ao nosso país dos tempos da Antiguidade. É simples - tudo o que for colocado no seu interior é instantaneamente transformado nas coisas mais preciosas do mundo. Se, por exemplo, lá colocassem antigas notas de escudos, saíriam elas depois magicamente convertidas em euros, à taxa cambial de 1 escudo = 777 euros, que José Sócrates sempre declarou ao Fisco, mesmo que - por se tratarem, naturalmente, de oferendas místicas provindas exclusivamente dos mais divinos deuses - não tivesse de o fazer, de todo. Fê-lo, e sempre, com toda a mais recta honestidade do universo, estando mais acima de qualquer suspeita que Vishnu, Sidarta Gautama ou Jesus Cristo.

O mito de José Sócrates

Conta-se igualmente este mito de José Sócrates que ele tinha um amigo fidelíssimo, um Pirítoo para o seu Teseu, que tudo faria por ele e com ele, sem nunca jamais lhe pedir fosse o que fosse em troca. E então, as forças das trevas conspiraram contra os dois eternos amigos, procurando separá-los, urdindo conspirações e tentando conspurcar esta genuína e tão terna amizade com um véu de maldade. Amicorum communia omnia, diziam os Antigos, e só alguém muito mal intencionado poderia sequer pretender imaginar algo de errado numa amizade tão claramente unida pela carne e pelo usufruto plenamente fraternal de um só património - não há um término do que é de um e do que pertence ao outro, como qualquer amizade verdadeira deve sentir.

 

Quantas outras histórias poderíamos aqui contar, deste homem mais santo que o mais santíssimo de todos os seres humanos que já existiram? Como é possível que, em mais de 4300 anos de história, tenhamos a excelsa oportunidade de viver num país e num mesmo tempo que um homem como estes, que nada fica a dever ao divino Cícero? Devemos considerar-nos os mais sortudos dos homens e das mulheres por vivermos em Portugal neste tempo de agora, porque uma figura tão perfeita só parecia existir nos mitos do passado...

 

[Editado posteriormente: Para quem não tiver notado, esta foi uma brincadeira do Primeiro de Abril, reeditada e republicada após os eventos da segunda semana deste mês.]

 

P.S.- Obtivemos, posteriormente e por empréstimo de uma biblioteca nacional, uma cópia de um novo livro de José Sócrates, de título Só Agora Começou. É uma obra quase hilariante, uma espécie de Apologia de Sócrates ao contrário, em que se tenta convencer o leitor de que a personagem principal é mesmo o mais santíssimo de todos os homens que já viveram neste mundo, e que até apresenta frases tão ironicamente hilariantes como "Nunca gostei de códigos ou de regulamentos (...)" Não comprem a obra, mas se a virem numa qualquer plataforma de ficheiros ilegais, aproveitem... e riam-se muito!

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01 de Abril, 2021

Origem da expressão "não aceites doces de desconhecidos"

Em outros tempos, os pais diziam aos seus filhos coisas como não aceites doces de desconhecidos. Hoje, talvez tenham emendado essa ideia original para algo como "não dês o teu número de telemóvel a ninguém", "não aceites carregamentos de desconhecidos", ou mesmo "não saias com ninguém que conheceste na internet", mas a expressão original dá que pensar. Se os mais novos não deveriam aceitar nada de desconhecidos, porquê a referência específica e exclusiva aos doces?

Charley Ross, a possível origem da expressão "não aceites doces de desconhecidos"

É provável que a expressão tenha nascido na cultura americana, em particular do (famoso) caso de Charley Ross, que tomou lugar a um de Julho de 1874. Conta-se que esta criança, então ainda com quatro anos, estava a brincar com o seu irmão à porta de casa, quando foram interpelados por dois desconhecidos, que se ofereceram para lhes dar doces e foguetes se fossem com eles até a uma loja que havia por perto. Os dois irmão aceitaram. Depois, os dois homens deram 25 cêntimos a Walter, irmão de Charley (e que tinha cinco anos), disseram-lhe para entrar na loja e fazer as compras. Ele fê-lo, mas quando voltou ao exterior o seu irmão e os dois desconhecidos já tinham desaparecido. Nunca mais foram vistos.

 

Os pais de Charley Ross, bem como o próprio irmão, passaram o resto das suas vidas a procurar o seu familiar desaparecido, sempre sem qualquer espécie de sucesso. Agora, o que o caso tem de especial é ter acontecido numa altura em que já existiam meios de comunicação mais desenvolvidos (contrastar, por exemplo, com o caso de Luísa de Jesus), mas em que, aparentemente, um caso desta natureza ainda nunca tinha sido publicitado em grande escala. Isto terá certamente contribuído para a sua popularização (o Charley Project, que ajuda a procurar desaparecidos nos EUA, até tomou o seu nome), mas também para popularizar a ideia de não aceites doces de desconhecidos entre os mais velhos, que deverá ter chegado ao nosso país através da cultura anglófona...

 

Tenha-se até em atenção que se existem diversos casos de desaparecimentos em Portugal - e.g. Maddie, Rita Slof Monteiro, Rui Pedro, etc. - não encontrámos nenhum caso puramente nacional em que uma criança tenha sido levada com recurso à oferta de doces. Portanto, é muito provável que a expressão nacional derive do estrangeiro, mais do que de alguma circunstância que tenha tomado lugar no nosso país.

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