Os mitos de Leviatã, Behemoth e Ziz
Os mitos de Leviatã, Behemoth e Ziz transportam-nos para o universo da estranha mitologia da Bíblia, para aquelas páginas que podemos encontrar no chamado "Antigo Testamento". Porém, desenganem-se aqueles que esperam que aí possam encontrar uma trama completamente bem definida, que una as três criaturas como se de Pokémons de outros tempos se tratassem. Em vez disso, estas três criaturas têm passados complicados e presentes um tanto ou quanto estranhos, já que foram sendo unidas ao longo dos séculos através de informações que nem sempre são muito fiáveis ou claras. Por isso, apresente-se a história do grupo, antes de apresentar cada um deles individualmente.
No Antigo Testamento existem um conjunto de momentos que só podem ser compreendidos correctamente tendo-se em conta que as suas páginas não nasceram num vazio. Quem as escreveu tinha às proverbiais costas um conjunto de informações que, hoje, apenas nos chegaram de uma forma muito escondida, como o curioso caso da esposa de Deus. Assim, entre todas essas histórias que já fomos perdendo ao longo dos séculos, contam-se as origens de Leviatã, Behemoth e Ziz. Segundo alguns estas criaturas vêm dali, segundo outros vêm de acolá, mas o que sabemos, sem qualquer dúvida, é que quem as colocou nas páginas do texto sabia mais sobre cada uma delas do que aquilo que nos deixou por escrito. Elas têm uma origem extra-bíblica, que depois se foi perdendo ao longo do tempo. Por isso, o que sabemos agora sobre estas criaturas vem ou do texto bíblico, ou de informações que posteriormente nos foram comunicadas por outros autores, mas que não temos uma forma real de saber se correspondiam aos seus originais.
Pense-se então no primeiro dos três casos, o de Ziz. Ele é uma criatura mencionada de uma forma super breve no Antigo Testamento (nos Salmos, para quem tiver essa curiosidade), aparentemente como se tratando de uma espécie de pássaro, mas tradições posteriores adicionam que, na verdade, ele era o rei de todos os pássaros e até o maior de todos eles. Terá sido o Pássaro Anzu, famoso dos tempos da Babilónia? É possível que sim, mas nada mais sabemos sobre ele, nessa sua encarnação judaica original.
Depois, sobre o Leviatã - ou Leviathan, se preferirem - é-nos contado bastante mais, em particular nos Salmos e no Livro de Jó, onde é descrito, fazendo dele o maior de todos os peixes que ocupavam o oceano. Isso levou, progressivamente, a que viesse a ser identificado com a baleia, um monstro marinho, uma serpente marinha, ou como uma espécie de rei de todos os peixes. É num sentido metafórico que esta criatura acabou por dar o seu nome a uma (famosa) obra de Thomas Hobbes.
No mesmo seguimento, o Behemoth, apresentado no Livro de Jó, era então o maior de todos os animais terrestres, que ficou identificado como o hipopótamo, e que se encontrava envolvido num gigantesco e eterno combate com a criatura de que falámos no parágrafo anterior. O que torna esse combate especialmente interessante e digno de nota é o facto de ele ter um final anunciado - próximo do final dos tempos, dizia-se que eles se matariam mutuamente, e que depois o Messias judaico e os seus eleitos os comeriam num banquete enorme (para quem tiver essa curiosidade, nunca é explicado como conseguiriam cozinhar duas criaturas tão grandes).
Histórias como essas foram-se progressivamente fundindo e evoluindo ao longo do tempo, gerando depois muitas outras informações sobre estas três criaturas - hoje, até aparecem em diversos jogos de computador! - e até casos como os da imagem acima, provinda da cultura islâmica, em que então se acreditava que o mundo estava apoiado nas costas de um anjo, por sua vez apoiado nas costas de uma espécie de touro, já este apoiado num enorme peixe. Será esta uma evolução da tríade que apresentámos acima? É até possível que sim, mas é uma ideia tão curiosa que sentimos que não podíamos deixar de também a apresentar por cá hoje, antes de terminarmos as linhas com que apresentámos brevemente estas criaturas...