Ala dos Namorados, Doze de Inglaterra e os Magriços - três lendas
Se hoje em dia a Ala dos Namorados, os Doze de Inglaterra e os Magriços ainda nos são conhecidos, são-no por razões muito diferentes das presentes nas lendas originais. A primeira é (agora) uma banda musical, aparentemente criada em 1992-1993, enquanto que os últimos nos são recordados quase sempre como o nome dado à selecção nacional de futebol no Mundial de 1966. Nesse sentido, se há alguns dias trocámos algumas mensagens virtuais com um Sportinguista, e até porque a selecção nacional joga hoje, decidimos que podíamos contar as lendas por detrás destes dois nomes, hoje já muito esquecidas, mas ainda ligadas substancialmente à cultura nacional.
A lenda da Ala dos Namorados
A lenda em questão conta-nos que em finais do século XIV teve lugar em Portugal a famosa Batalha de Aljubarrota, semente de incontáveis lendas nacionais, como a da Espada do Condestável ou a da famosa Padeira. Se a batalha, em si própria, é um facto completamente histórico, já esta breve história adiciona-lhe algo menos certo - diz que uma das alas, i.e. das laterais (se a esquerda, ou a direita, isso parece variar mediante a fonte consultada), da famosa Táctica do Quadrado era chamada a "Ala dos Namorados", em virtude do facto de ser composta quase somente por namorados, no sentido de homens jovens que estavam em idade de casar mas ainda não o tinham feito. Não sabemos se todos eles já tinham prometido casamento a alguém, mas diz-se que pelo menos alguns deles combatiam não só pela sua pátria, mas também pelo amor das mulheres que amavam e com quem esperavam vir a casar. Sabemos que o seu alferes era Álvaro Anes de Sernache, enquanto que os capitões eram Rui Mendes de Vasconcelos e Mem Rodrigues de Vasconcelos, seu irmão. Mas toda essa história ainda não fica por aqui...
A lenda dos Doze de Inglaterra (e o Magriço)
Esta lenda é uma espécie de sequela da anterior. Diz-nos que alguns anos depois doze damas inglesas foram insultadas por cavaleiros de Inglaterra, e então elas pediram ajuda aos Portugueses para defenderem as suas honras. Doze cavaleiros da então-famosa ala foram escolhidos para a tarefa, onze partiram por mar, enquanto que um outro, Álvaro Gonçalves Coutinho, conhecido como o [Grão] Magriço, viajou por terra, teve muitas aventuras e chegou a Inglaterra no momento em que mais precisavam dele, quando 11 Portugueses, então muito preocupados, se preparavam para combater contra os 12 Ingleses. Os primeiros venceram a batalha (como seria óbvio numa lenda nacional), e ficaram assim conhecidos como os "doze de Inglaterra", ou seja, aquela dúzia de cavaleiros que foi a esse país e dele voltaram vitoriosos. A selecção nacional não conseguiu, como é bem sabido, repetir o feito lendário.
Agora, se desconhecemos o porquê da banda ter tomado o respectivo nome, porque tomou a selecção nacional de futebol no Mundial de 1966 o nome de Magriços? A segunda lenda de que aqui falámos é antiga, mas é aludida no canto sexto dos Lusíadas, de onde provavelmente a conheciam em meados do século XX - e, de facto, o que o jornal desportivo A Bola escreveu na altura parece confirmar completamente essa ligação:
Parece-nos, de facto, muito apropriada a ideia na medida daquilo que o "Grão Magriço" representa, o belo episódio de suspense que Luís de Camões canta em Os Lusíadas, um autêntico desportista que vai jogar a Inglaterra... e até ganhar!
Assim, por muito que lendas como estas - da Ala dos Namorados, Doze de Inglaterra e os Magriços - estejam cada vez mais esquecidas, é curioso constatar que subsistem na cultura dos nossos dias de hoje, mesmo com uma ligação um pouco ténue face ao seu significado original. Não deixa de ser interessante, até porque, em casos como estes, poderão levar as pessoas a uma busca pelo seu significado original...